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Tecnologia verde

CB, Informática, p. 1, 4
26 de Jan de 2010

Tecnologia verde
Mais de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico se acumulam por ano em todo o planeta. Para amenizar os impactos ao meio ambiente, indústrias do setor apostam em alternativas sustentáveis

Ataide de Almeida Jr.
Especial para o Correio

O meio ambiente ganhou um grande aliado contra as mudanças climáticas e o aquecimento global: as empresas de eletroeletrônicos. Elas começam a se conscientizar dos problemas que os aparelhos podem causar em um futuro próximo e a produzir alternativas sustentáveis para agradar tanto aos ecologistas quanto aos fissurados por tecnologia. Celulares produzidos com garrafas PET e vendidos em embalagens de papel reciclado, computadores feitos de material reciclável e televisores livres de metais pesados (para consumir menos energia) são alguns exemplos do que as indústrias preparam de modo a amenizar os danos ao planeta.

As ações para a preservação da natureza começam nas fábricas. "Temos planilhas de controle dos aspectos e impactos, ou seja, todos os tipos de atividade são mapeados e têm o impacto medido. Além disso, há o controle de gases emitidos, de ruídos e de todos os resíduos que saem do local", explica Carlos Werner, diretor de marketing corporativo da Samsung. Luvas com elementos tóxicos à natureza (como graxas), lâmpadas fluorescentes e sobras de solda também são encaminhados para descarte ecológico consciente.

Essa preocupação nas fábricas tem reflexo nos produtos. Uma das metas da Samsung, que investe 9% do faturamento em desenvolvimento, é fazer produtos ecologicamente corretos. "Os televisores contam com uma tecnologia de acabamento chamada de touch of color, que não pinta o aparelho e, portanto, não utilizamos sprays que possam ter produtos prejudiciais à natureza", explica Carlos. Além disso, os aparelhos possuem várias peças recicláveis e são desenvolvidos para economizar energia.

O melhor exemplo no campo dos aparelhos de tevê são os que possuem a tecnologia LED (sigla em inglês que significa diodo emissor de luz) e consomem até 40% menos energia que uma de LCD com as mesmas características. "É uma economia para o meio ambiente e o país, que acaba sendo paga a longo prazo", afirma. Esses equipamentos ainda estão livres de substâncias prejudiciais, como os gases da iluminação fluorescente. "Queremos que os consumidores sejam capazes de discernir entre produtos que agridem e os que não danificam o meio ambiente. Com esse conhecimento, as pessoas passam a ter cada vez mais a preocupação com a natureza", avalia Carlos.

Economia de energia

Na área da informática, a preocupação é produzir equipamentos com o maior número de materiais reciclados e também reduzir o consumo de energia e gases prejudiciais ao meio ambiente. A HP tem como metas para este ano a redução de 25% do consumo de energia associado à emissão de gás carbônico em operações e produtos, como notebooks e desktops. Além disso, há preocupação de eliminar completamente o uso de mercúrio das telas de notebooks. "Entre os focos da empresa, estão o desenvolvimento de soluções e serviços que ajudem os clientes na redução dos danos ambientais", explica Kami Saidi, diretor do Programa Integrado de Sustentabilidade Ambiental da HP Brasil.

Computadores menores e sustentáveis também fazem parte das iniciativas para a preservação do meio ambiente. A Dell possui a linha Studio Hybrid, que, além de ser 80% menor que um desktop normal, tem 95% do material feito de produtos que podem ser reciclados. O tamanho pequeno também é responsável pelo baixo consumo de energia. No quesito configuração, o Studio Hybrid não deixa a desejar. Ele pode vir equipado com um processador Intel Pentium T4300 Dual Core, até 4GB de memória, disco rígido de até 320GB, gravador de CD/DVD e Blu-Ray, além de porta para conexão de vídeo HDMI.

Não adianta ter um desktop sem mouse nem teclado. Pensando em uma proposta sustentável, a Genius criou um kit com os dois equipamentos. O teclado da linha SlimStar 820 Solargizer funciona a energia solar. Além de economizar, o aparelho traz funções avançadas, como as 17 teclas programáveis para a acesso à internet e documento de textos. Se a luz solar não estiver presente, há um cabo USB para conectá-lo diretamente ao computador. O mouse que acompanha o kit também é sem fio e possui tecnologia que permite estender a vida útil das baterias por até 15 meses.

Os pen drives também entraram no clima da sustentabilidade. O Earth Drive é o primeiro drive USB feito a partir da mistura de milho fermentado com poliéster biodegradável. A ATP, empresa responsável pela fabricação do pen drive, firmou ainda uma parceria com uma organização não governamental para o plantio de árvores a cada aparelho vendido. Além de ser amigo da natureza, o drive é à prova d'água e de choques. A capacidade de armazenamento é de 4GB.

Diga não ao lixo tecnológico

A vida útil de um computador, se ligado 24h por dia e com intenso uso, é de aproximadamente dois anos. O telefone celular dura ainda menos. Não bastasse a fragilidade dos equipamentos, a indústria sempre lança novos aparelhos. Essa combinação alimenta os consumistas e impulsiona, no meio ambiente, o acúmulo de aparelhos jogados fora sem qualquer cuidado. Para conter essa tendência, algumas empresas de tecnologia tentam conter o avanço do lixo eletrônico por meio de medidas simples, como o recolhimento de notebooks e desktops, baterias, celulares e acessórios.

Há 10 anos, cerca de 40% de uma impressora doméstica era de materiais recicláveis. Hoje, o número de componentes pode ficar entre 80% e 90%. Para reutilizar esse material e alcançar a marca de 1 bilhão de quilos de material reciclado ainda este ano, a HP institui programas de recolhimento de suprimentos e hardwares. "A empresa tem uma cobertura de 55 centros de coleta no Brasil. Todos os produtos vão para o centro de reciclagem ou são reintegrados a cadeia produtiva ou, ainda, destinados a outros setores da economia", afirma Kami Saidi, diretor do Programa Integrado de Sustentabilidade Ambiental da HP Brasil.

Para os cartuchos, a empresa possui toda uma logística para reaproveitamento do material. "Inauguramos o nosso centro de reciclagem no Brasil em fevereiro de 2009, com capacidade para 1,3 milhões de unidades. A matéria-prima de todo cartucho reciclado é reutilizada por meio de parcerias e torna-se apta para ser usada em produção de hardwares e peças de impressora", explica. O custo médio estimado para reciclagem de uma impressora é de R$ 20 por produto. Entre agosto de 2008 e o mesmo mês em 2009, a HP Brasil reciclou 830 toneladas de hardwares.

A empresa ainda institui periodicamente promoções, nas quais o cliente leva a impressora usada e ganha desconto na aquisição de uma nova. "Essa foi uma forma que a HP encontrou para devolver o benefício ao cliente e estimular o retorno de equipamentos para a empresa", explica Kami. Após a entrega da impressora, é feito um processo de reintegração dos produtos para o mercado, com doações a instituições sem fins lucrativos. Em 2008, a empresa recolheu 3,5 milhões de equipamentos, que foram capacitados para reutilização.

Além de recolher os computadores em casa, a Dell - em parceria com a Fundação Pensamento Digital - aceita a doação de computadores para o projeto. A instituição do Rio Grande do Sul une voluntários, empresas e universidades para promover projetos educacionais em comunidades de baixa renda. Mouses e teclados também podem ser cedidos separadamente. Para doar, basta entrar na página da empresa, preencher o formulário e realizar a doação. Por enquanto, é necessário encaminhar o material até a fundação.

A Motorola já recolheu 280 toneladas de componentes eletrônicos, entre celulares, baterias, carregadores e acessórios, nos 10 anos em que realiza o serviço nas redes de assistência. Tanto ela quanto a Nokia possuem a mesma loja cadastrada para recolhimento desse tipo de material em Brasília. Além disso, as operadores da telefonia móvel disponibilizam o descarte adequado do material nas lojas revendedoras.

Dentro de casa
Se o computador ainda está em boas condições de uso e não há previsão para compra de um novo, o consumidor pode ajudar o meio ambiente com apenas um ponto no monitor. O projeto Black Pixel, do Greenpeace instala no desktop um quadrado preto de apenas um pixel. De acordo com a organização, a utilização desse artifício na tela do computador traz uma economia de 0,057 watts por hora. Até agora, os consumidores que instalaram o Black Pixel já economizaram juntos mais de 813 mil Watts, o que equivale a cerca de 6,7 mil computadores desligados por uma hora. Ainda em casa, uma alternativa sustentável é passar a fazer as pesquisas pelo site Blackle. Os resultados das buscas na página são os mesmos do Google, mas com a vantagem de ter economizado até agora 1.641.069.884 Watts/hora.

Economia

Gaste menos energia no computador
Se você não utiliza o computador durante todo o dia, mantenha-o desligado e só ligue nas horas em que for precisar

Configure o brilho da tela para um patamar que não agrida os olhos

No Painel de Controle, configure para desligar o monitor ou entrar em modo de espera se for passar muito tempo sem utilizá-lo

Mantenha impressoras e scanners desligados

Manutenção

Aumente a vida útil do celular
Após a recarga da bateria, retire o aparelho da tomada
Evite guardar o celular em locais quentes ou expô-lo ao frio intenso
Limpe o aparelho com um pano seco e não utilize produtos químicos
Não leve o aparelho para o banheiro na hora do banho. O vapor pode danificar o aparelho
Evite ao máximo deixar o aparelho cair
Evite colar adesivos no celular

Recondicionar e ensinar

Criado em 2004, o projeto Computadores para Inclusão, do governo federal, já beneficiou cerca de 600 instituições por todo o Brasil. O programa trabalha com equipamentos doados, que passam por um sistema de recondicionamento em unidades nas principais capitais do país. "O grande objetivo desse projeto é a possibilidade de inserir jovens na cultura da informática, o que às vezes eles não têm possibilidade de aprender", afirma Rogério Santanna, secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Há duas formas como os jovens podem ser beneficiados pelo projeto: trabalhando nos Centros de Recondicionamento de Computadores (CRC) ou recebendo os computadores recuperados.

Desde o início do projeto, cerca de 41 mil máquinas foram doadas e 9,6 mil repassadas a instituições cadastradas. "Nem tudo pode ser aproveitado. Mais ou menos um quarto do material é reutilizado no processo de condicionamento", esclarece o secretário. As instituições podem se cadastrar para seleção no site do projeto. Elas são inseridas (ou não) no programa após uma análise das condições do local. "Às vezes, temos mais máquinas para doar do que instituições para receber. É um problema de divulgação", revela.

Em Brasília, o CRC funciona no Gama. No entanto, apesar de envolver quase 400 jovens nos cursos de operador, manutenção e recondicionamento e reformar cerca de 3,8 mil computadores em 2008, a unidade estava fechada há cinco meses. "A maior parte do financiamento para esse local era da Fundação Banco do Brasil, mas a parceria acabou por conta de um desentendimento. Foi um dos únicos centros no qual o governo entrou com uma parcela menor", explica o secretário. Contudo, Rogério Santanna afirmou ainda que a unidade recebeu em dezembro recursos federais para retomar o funcionamento e já opera normalmente.

O projeto, ainda de acordo com Rogério Santanna, vai ser expandido para outros lugares do Brasil. As unidades de Belém e da Bahia devem sair do papel ainda este ano. "Nós sabemos que o lixo eletrônico é cada vez maior nas cidades brasileiras e esse é um problema com o qual temos que aprender a lidar", afirma. Para doar, o interessado deve acessar a página do programa, localizar a unidade de recondicionamento mais próxima e levar o equipamento. (AAJ)

Acesse

Black Pixel Greenpeace
http://migre.me/fUx8

Blackle
www.blackle.com

Computadores para Inclusão
http://migre.me/fUvL

Eco Solutions HP
http://migre.me/fUv0

Motorola Enviroment
http://migre.me/fUwx

Nokia Meio Ambiente
http://migre.me/fUuO

CB, 26/01/2010, Informática, p. 1, 4

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