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TASHKA ESCLARECE SOBRE PROSPECÇÃO DE PETRÓLEO EM
TERRAS INDIGENAS

www.yawanawa.com.br
Autor: Joaquim Tashka Yawanawá
17 de Fev de 2007

Líder indígena contesta versão da assessoria do senador Tião Viana de que a etnia yawanawá já apóia os estudos de prospecção de gás e petróleo na área indígena do Rio Gregório

Joaquim Tashka Yawanawá

O título "Tashka apóia prospecção" é desrespeitoso. Melhor seria "Tashka atende convite do senador e vai
consultar seu povo sobre prospecção na terra indígena do Rio Gregório". Vejo precipitação de Flaviano Schneider, da assessoria de imprensa do senador Tião Viana, ao distribuir a inverdade de que o povo yawanawa já apóia os estudos de prospecção de gás e petróleo no Juruá.

Para tomar uma decisão dessa, temos que fazer profunda reflexão com a participação da comunidade, pesquisar a
experiência de outros povos indígenas e visitar os que tiveram experiências positivas e negativas com a exploração do petróleo, a exemplo do povo U´wa, da Colombia, e Achuar, do Equador.

Nunca decido isoladamente, pois não sou George Bush, que age assim e faz a sua própria guerra.

Fui convidado a comparecer na manhã de ontem ao escritório do senador Tião Viana, juntamente com minha esposa Laura e minha irmã Raimunda Putani. Fomos conversar com a Sílvia, uma das assessoras do senador, que acompanha nosso projeto de criação de pequenos animais.

Conversamos com a Sílvia na sala onde também trabalha Flaviano Schneider. Após a conversa, encontramos o senador, que nos convidou para entrar em sua sala. Aceitamos apenas para cumprimentá-lo e agradecê-lo pelo apoio que tem prestado ao povo yawanawá, especialmente com o envio da equipe da Saúde Itinerante.

O senador nos recebeu, como sempre, com carinho e atenção. Após nos ouvir, falou empolgado do projeto de prospeção de gás natural aqui no Acre. Falei que estava acompanhando o debate aberto pelo blog do jornalista Altino Machado e que havia assistido ao vídeo da entrevista dele.

Falei que tinha gostado do trecho no qual ele deixa bem claro que as comunidades tradicionais não serão obrigadas a permitir a prospecção em suas áreas. Tião Viana nos perguntou se tínhamos interesse em participar. Respondi que viajarei para minha aldeia após o Carnaval e que iria debater o tema com a comunidade. E que voltaria a falar com ele, tendo o senador nos deixado a vontade na opção.

O senador Tião Viana e o irmão dele, o ex-governador Jorge Viana, têm grande afinidade com o povo yawanawa.
Nós temos estima, consideração e respeito por ambos, pois são parceiros e apoiadores do nosso povo. Já estiveram várias vezes na comunidade e por isso conquistaram nosso respeito e amizade.

Após sair do gabinete, telefonei para o Biraci Nixiwaka, outra liderança yawanawá, a quem relatei sobre a nossa reunião com o senador. Nixiwaka disse não acreditar que a iniciativa do senador fosse nos trazer danos socioambientais em razão da seriedade com que tem tratado nosso povo e a questão indígena no âmbito nacional e regional.

Antes desse debate sobre prospecção, o povo yawanawá já estava na fase inicial de um projeto de biodiesel.
Ele está sendo apoiado por várias organizações nacionais e internacionais. Queremos produzir o biodiesel a partir do cocão e do murmuru, nativos de nossa terra indígena, em parceria com todas as comunidades que habitam a região de Tarauacá e Feijó.

Além disso, estamos implantando um usina de biodiesel na cidade de Tarauacá, onde já funciona a usina de processamento de óleo de andiroba. Queremos viabilizar de forma sustentável nossos recursos naturais, sem
causar danos ao meio ambiente e viabilizar social e economicamente nosssas comunidades.

Atualmente, estamos pesquisando a respeito das máquinas que serão usadas no beneficiamento.
Encontramos uma, de médio porte, que produz dois mil litros de biodisel por dia usando produtos naturais.
Nosso objetivo é ter um posto indígena de biodisel, que produza totalmente com a matéria-prima existente na região. Isso não significa que estamos fechados para outras possibilidades.

Não acredito que estejamos sobre uma Arábia saudita ou poços de gás natural. Caso seja encontrado algum recurso natural que possa ser explorado, seremos obrigados a fazer uma grande reflexão sobre se existe a real necessidade de explorá-lo, pois teremos que ter noção dos impactos e que ganhos reais poderíamos ter sem que seja afetada a nossa cultura e o meio ambiente.

Enquanto estive no gabinete do senador, não declarei que todos nós temos um preço. Não somos obrigados a aceitar nenhuma proposta arbitrária que possa contrariar a nossa tradição e afetar o nosso meio ambiente. Em nenhum momento o povo yawanawá vai aceitar explorar seus recursos naturais visando apenas o lucro econômico. Nosso patrimônio natural não está a venda por dinheiro nenhum, não estamos loucos por dinheiro. O pouco que temos através de nossas
parcerias tem sido suficiente para sustentar nosso povo.

Mas nós entendemos que poderemos explorar nossos recursos naturais na medida que essa exploração não signifique danos às pessoas e ao meio ambiente e que sejam assegurados benefícios reais para nosso povo.

Nasci ambientalista. Não frequento a academia, tampouco cultivo árvores ou jardins no quintal apenas para dizer que sou ambientalista. Não há quem possa discutir comigo sobre o quanto a floresta é mais importante para o povo indígena. Nós somos 100% dependentes da floresta para viver.

O que está exposto é uma questão polêmica. Assim como o senador, acho que mais pessoas devem se manifestar.
Não é de meu interesse defender nenhum projeto que não conheça profundamente e não aceito ser desrespeitado.
O respeito deve ser extensivo à soberania de meu povo e à memória de nossos ancestrais, sem ameaças ao
futuro de nossas gerações.

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