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Sesc lança livro sobre a cultura do povo Baré, do Alto Rio Negro

Instituto Socioambiental - http://www.socioambiental.org
24 de Mar de 2015

No próximo dia 31 de março, o Sesc lança em São Paulo, Baré: o povo do rio que traz depoimentos de dois líderes da etnia baré, do Alto Rio Negro, somados a textos de diversos pesquisadores e etnólogos. O evento inclui exibição de documentário homônimo. A organização é de Marina Herrero e Ulysses Fernandes

As Edições Sesc São Paulo lançam o livro Baré: povo do rio, com fotos e textos de dez autores, na Choperia do Sesc Pompeia, no próximo dia 31 de março (terça-feira), às 19h. O evento inclui a exibição de documentário homônimo produzido pelo Sesc TV, além de bate-papo entre os líderes baré Braz França e Marivelton Barroso e o antropólogo e etnólogo Eduardo Viveiros de Castro. Ao final haverá uma sessão de autógrafos com os principais autores do livro.

A história do povo baré, que originalmente ocupava um território de mais de 165 mil km2, foi marcada pela violência e pela exploração do trabalho extrativista. Gradativamente, o grupo viu sua língua vernacular (ariak) ser substituída pelo nheengatú, utilizado, na época da colonização do Brasil, pelos jesuítas para uniformizar a comunicação entre eles e as tribos da região do Rio Negro, e também pela língua portuguesa.

Aos poucos as crenças, costumes e tradições dos baré foram igualmente adaptados ao modelo português. Hoje, o povo que até 1990 era considerado extinto no Brasil, tornou-se a décima população indígena do país e vive próximo aos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, região com uma forte desestruturação social e que sofre com a recente invasão de garimpeiros.

Com o objetivo de registrar e divulgar a cultura do povo baré, o projeto das Edições Sesc São Paulo se propõe a discutir sua identidade, suas memórias, histórias, costumes e experiências, bem como apresentar análises com viés acadêmico, pesquisas arqueológicas e depoimentos sobre suas lutas e conquistas.

O prefácio assinado pelo antropólogo e etnólogo americanista Eduardo Viveiros de Castro aborda a principal problemática identitária vivida pelos baré até muito recentemente, envolvendo o seu não reconhecimento como índios e tampouco como brancos: "eles não são mais índios sem serem por isso não índios, isto é, brancos. Não são nada. São o que mais convém ao outro dizer o que eles são. (...) Como sobreviver a tal metódico etnocídio, melhor, como ressurgir a partir dele, como refazer um povo? Como recuperar a memória e reinventar um lugar no interior do estranho, do estreito e instável intervalo entre "índios" e "não índios" que ora se abre, ora se fecha para os povos nativos do continente? Os baré são uma das respostas em ato, hoje, a essas perguntas".

De fato, a tradição e a história da etnia baré foram preservadas graças à transmissão oral das narrativas míticas, ensinamentos e rituais sagrados "que não possuem comprovação registrada em livros ou cartórios", conforme escreve o líder histórico Braz França Baré, ex-presidente da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro). Seu texto é corroborado pela descrição do jovem Marivelton Barroso Baré, atual diretor da Foirn, que elenca "Encantados" como o Curupira, além de danças e rituais, histórias e a culinária que aprendeu com "os baré mais velhos" como exemplos da cultura oral desta etnia.

O livro avança com o texto de Eduardo Góes Neves, especialista em arqueologia da Amazônia da Universidade de São Paulo, que expõe a história antiga ou pré-história dos grupos indígenas da região. Em seguida, Paulo Maia Figueiredo, antropólogo e professor na Universidade Federal de Minas Gerais que viveu alguns anos entre os baré para estudar sua cultura e rituais, analisa a história recente e o xamanismo entre esses índios. O escritor e ensaísta argentino Guillermo David, por sua vez, apresenta uma crônica sobre os modos de existência baré, na qual observa o cotidiano dos baré com quem conviveu, e reflete sobre os paradoxos da indianidade no mundo atual e os modos especificamente baré de se relacionar com outras sociedades.

O posfácio fica a cargo de Beto Ricardo, antropólogo e coordenador do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental - ISA, que aborda as lutas e conquistas do movimento indígena do Rio Negro. Todos os textos são ilustrados com imagens registradas pelo renomado fotógrafo Pisco del Gaiso, que tem em seu currículo um vasto trabalho dedicado às populações indígenas e ribeirinhas.

http://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/sesc-lanca…

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