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Sem Belo Monte, risco de apagão volta em seis anos

O Liberal-Belém-PA
Autor: Rita Soares
24 de Ago de 2003

Complexo de Belo Monte, em Altamira, embargado na Justiça pelo Ministério Público, é apontado como alternativa para amenizar a crise energética no País. A hidrelétrica ainda não será suficiente para equilibrar oferta e demanda entre 2009 e 2014, mas sem ela o CNPE garante que o risco de apagão aumenta.

Falar em racionamento parece coisa do passado, mas o Brasil está a caminho de uma nova crise energética. Em seis anos, o sistema interligado que reúne usinas hidrelétricas de Norte a Sul do País entrará em colapso se não houver investimento em novas fontes de energia.

O alerta consta de relatório do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O estudo foi feito por um grupo de trabalho criado especialmente para estudar a viabilidade da implantação da usina hidrelétrica de Belo Monte, no município de Altamira. O projeto teve as obras embargadas a pedido do Ministério Público Federal, por entender que houve falhas no processo de autorização dos estudos.

Polêmico, o projeto Belo Monte, que terá uma potência instalada de 11,8 mil megawats, provocou críticas também dos movimentos ligados aos índios e aos pequenos produtores da região do Xingu que temem os impactos ambientais do empreendimento, mas é apontado pelo CNPE como a única saída para amenizar a crise energética que se avizinha. Tirar a usina do papel, contudo, não será suficiente para espantar o colapso, pelo menos é o que afirmam os membros do grupo de trabalho.

"Pelas avaliações, constata-se que apenas o CHE (Complexo Hidrelétrico de Belo Monte) não será suficiente para garantir atendimento do sistema no período de 2009 a 2014", afirmam os técnicos no documento que O LIBERAL obteve. De acordo com o relatório, o desequilíbrio entre a oferta e a demanda por energia começará a se agravar em 2009. Em 2014, mantido desenho atual, o sistema entrará em colapso. A previsão é de que em dez anos, o déficit de energia chegue a 21,3 megawats médios. Para suprir essa demanda, dizem os técnicos, seria necessário construir o equivalente a 4,5 usinas do porte de Belo Monte. O problema é que o mapa dos potenciais existentes no Brasil não apresenta áreas onde poderiam ser construídas usinas até 2009 a ponto de evitar o colapso.

Os estudos sinalizam, após 2009, a necessidade de ampliação do parque termelétrico brasileiro para complementar a geração básica. Mesmo que consiga tirar Belo Monte do papel e ainda viabilizar outras 30 usinas previstas, ainda assim governo e iniciativa privada terão que buscar mais 10 megawats em termelétricas. Isso porque, embora essas usinas somem capacidade instalada acima de 24 mil megawats para uma demanda estimada em 21 megawats, a energia firme - média fornecida ao longo de todo o ano -, incluindo os períodos de estiagem, será de apenas 13 mil megawats.

Com uma capacidade instalada de 11 mil megawats, Belo Monte, por exemplo, poderá garantir a média de apenas 4,7 mil. Sem a usina do Xingu, situação ficará ainda mais crítica porque a demanda para as termelétricas subirá para 16 mil megawats, de acordo com cálculos do CNPE. Isso significa que o País teria que ganhar cerca de 16 novas usinas. Durante o ano passado, o grupo de Trabalho do CNPE fez simulações da construção da usina em duas etapas. Nos dois casos, os técnicos sugerem que a obra comece até 2004 para garantir que a primeira máquina entre em operação até 2008. Em caso de divisão em fases, a primeira etapa contemplaria a construção de até 14 unidades de força e as demais na segunda etapa, num total de 20 unidades. Se feita em uma única etapa, as 20 unidades estarão operando dez anos após o início das obras.

"Atualmente, não existem projetos de geração hidrelétrica inventariados com potencialidade de viabilização e passíveis de entrarem em operação entre 2009 e 20014, que possam substitui o CHE Belo Monte. É fundamental manter o desenvolvimento de novos estudos de inventários de aproveitamentos hidrelétricos", constata o estudo.

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