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Roraima desconhece número de indígenas que vivem em Boa Vista

Folha de Boa Vista-RR
Autor: Sheneville Araújo
13 de Mai de 2002

A presença indígena na cidade é cada dia mais visível e, mesmo assim, nenhum órgão responsável ou representante deste povo, até hoje, não sabe nada de concreto sobre sua vida urbana.
Depois de mais de três décadas de acentuado êxodo de diversos povos indígenas para Boa Vista, ainda não existe nenhuma pesquisa com dados estatísticos em torno desta questão.
Estima-se apenas que a população indígena no Estado esteja por volta de 40 mil, baseando-se nas pesquisas populacionais realizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e Funai (Fundação Nacional do Índio).
Segundo o chefe do IBGE, o sociólogo Vicente Joaquim de Paula, o instituto não conseguiu recensear milhares de indígenas devido à resistência de alguns povos. Conseguindo registrar apenas 20.912 indígenas em Roraima, o que corresponde a 6,4% da população do Estado.
"Não conseguimos entrar em quatro malocas, o que corresponde à cerca de 700 índios que deixaram de ser recenseados, e acredito que também não conseguimos registrar cerca de 10 mil yanomami", informou.
A mesma dificuldade enfrentada pelo IBGE a Funai também enfrenta em determinadas áreas dominadas por lideranças religiosas. No entanto, a Funai tem registrado que, hoje, Roraima possui a população de 37 mil índios.
Mas em Boa Vista, que já foi considerada por alguns historiadores a maior maloca de Roraima. Ninguém sabe quantos são, o que os trouxe para cá, e principalmente como vivem ou sobrevivem.
Segundo o professor de história José Nagib Silva Lima, um dos únicos trabalhos sobre o tema é o da pesquisadora Patrícia Ferri, de 1990, que aborda as características dos índios que vivem na cidade, no livro Achados ou Perdidos.
Este trabalho se concentrou em três bairros da cidade: São Vicente, 13 de Setembro e Asa Branca, onde a população indígena era mais expressiva na época.
Para ele, mesmo tendo sido escrito em uma época em que a população era muito menor que a atual, o livro ainda é um trabalho rico em informações e continua atualizado.
Ele considera que um estudo mais minucioso sobre a população indígena na cidade, é necessário, para conhecer suas condições de vida e assim elaborar políticas mais específicas para estes indígenas.
No livro Achados ou Perdidos, Patrícia afirma que as próprias organizações indígenas, que reúnem as lideranças das malocas do interior e têm escritórios em Boa Vista, desconhecem o problema da migração dos índios.
"O fenômeno da migração indígena não é conhecido pela maioria da população branca de Boa Vista e nem sequer pela pequena minoria que trabalha no setor social e cultural da cidade", afirma a escritora.
Para a autora, esse fenômeno deve-se à crise com a própria cultura tradicional daqueles que não queriam aceitar a vida na maloca, fazendo com que a cidade se tornasse um pólo de atração. "Os índios têm uma imagem distorcida da cidade, que influenciou ao longo dos anos o fenômeno da migração", ressalta.
Membro da Pastoral do Índio da Diocese de Roraima, Gilmara Fernandes também atribui a migração aos problemas vividos nas malocas, como a falta de autonomia e auto-sustentação.
"A desagregação das malocas, a escassez de caça e água, entre outros fatores, fazem com que os índios procurem outras alternativas de vida e venham para a cidade, onde se deparam com uma realidade pior, a falta de emprego", declarou, destacando também a falta de políticas públicas para atender essas populações.

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