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Rio vai restringir água para indústrias

OESP, Metrópole, p. A14
30 de Jan de 2015

Rio vai restringir água para indústrias
CSA, Gerdau, Furnas e FCC comprometem 15% da vazão do Rio Guandu; com nova adutora, elas serão obrigadas a comprar produto de reuso

Felipe Werneck

Um dia após a Agência Nacional de Águas (ANA) ter sinalizado a necessidade de redução drástica da vazão para preservar estoques ameaçados pela seca bacia do Paraíba do Sul, o governo do Estado do Rio anunciou medidas contra indústrias.
Depois de uma reunião com representantes de quatro empresas, o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, afirmou ontem que elas serão obrigadas a comprar água de reúso. Dessa forma, deixariam de captar no Rio Guandu, que abastece cerca de 9 milhões de pessoas na região metropolitana.
Para que isso ocorra, porém, serão necessárias desapropriações e a construção de uma adutora em um trecho de 14 quilômetros, como mostrou o Estado. A obra, que ainda não tem custo definido, dificilmente ficaria pronta antes de seis meses, segundo técnicos. Haverá outra reunião hoje para calcular o valor da obra.
Representantes das empresas não falaram após o encontro. As quatro indústrias -Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), Gerdau, Furnas e Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC) - ficam na ponta do sistema de abastecimento, em Santa Cruz, zona oeste da capital. Juntas, comprometem cerca de 15% da vazão do Guandu. Elas captam apenas uma parcela (cerca de mil litros por segundo) dessa quantidade, mas a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) precisa levar para o canal de São Francisco um volume bem maior, para "empurrar" a água salgada da baía de Sepetiba que entra no canal.
Na reunião de anteontem com a presidente Dilma Rousseff e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), em Brasília, técnicos da ANA sugeriram reduzir a vazão na usina elevatória de Santa Cecília, onde ocorre a transposição do Paraíba do Sul para o Guandu, dos atuais 140 mil litros por segundo para 110 mil, revelou Corrêa. Ele já espera uma redução, mas afirma que a vazão de 110 seria "extremamente limitante, tornando praticamente inviável a gestão". "Se for reduzida assim, não temos como garantir o fornecimento para as empresas."
Técnicos ouvidos pela reportagem avaliam que, se não chover o suficiente para encher os reservatórios e for mantida a atual vazão, os 2,95 trilhões de litros acumulados nas reservas técnicas das represas que abastecem o Rio só duram até outubro. Dos quatro reservatórios, dois já atingiram o volume morto e os outros dois apresentam níveis próximos de zero (1,72% e 3,92%). O governo do Rio, porém, continua negando a necessidade de racionamento.

Reúso. A decisão sobre a vazão deve ser tomada pela ANA em reunião na quinta. Além da ação contra as empresas de Santa Cruz, Corrêa se comprometeu a enviar em 15 dias para a Assembleia Legislativa um projeto de lei que cria uma "política permanente de reúso de água no Estado". Segundo ele, a Refinaria de Duque de Caxias, da Petrobrás, terá de aproveitar a água que resulta do processo de tratamento de esgoto na Estação de Alegria, no Caju, zona norte.

Campanha terá 'Esbanja' e 'Manera' como personagens

O governo do Rio lançará nos próximos dias, em rádios, TVs e jornais, uma campanha institucional contra desperdício e pelo uso consciente da água. Será a segunda iniciativa em menos de três meses. Em novembro, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) lançou campanha semelhante. De lá para cá, a crise hídrica se agravou e já é considerada a mais grave da Região Sudeste.
A campanha lançada antes do verão mistura samba, (suposta) malandragem e apelos didáticos por economia. Apresenta dois personagens de animação, os irmãos Esbanja e Manera. O primeiro, descontraído e despreocupado, vive desperdiçando o produto; o segundo, de óculos e compenetrado, é um vigilante do consumo consciente. Para fechar, o apelo é feito por Martinho da Vila, ao som de pandeiros: "Não seja um Esbanja, é mais legal ser um Manera". O sambista já é autor do jingle da campanha atual. A letra diz: "Eu canto em qualquer parte/só não canto embaixo do chuveiro/porque senão junto com a água/minha grana vai pro bueiro". O governo do Estado não antecipou detalhes da campanha.

OESP, 30/01/2015, Metrópole, p. A14

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