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Retrato fiel

Adital - http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=40760
Autor: Egon Dionísio Heck
28 de Ago de 2009

Só hoje consigo ver a foto do que se pode chamar de retrato fiel do cinismo maquiavélico com que governantes teimam em tratar a questão indígena no Mato Grosso do Sul. O governador, de cocar, segurando, juntamente com uma anciã Terena, um saco de cesta básica, com as insígnias do Estado e no fundo o caminhão baú da secretaria da fazenda ostentando as migalhas que levam para quem tomaram e negam as terras. Seu sorriso amarelo é o retrato da enganação. Ao fundo o carro de som, que como se dissesse em alto e bom som que o governador é contra a demarcação da terra, mas é bonzinho pois dá comida e empurra goela abaixo um projeto envenenado chamado "aldeia produtiva". Os Terena à séculos tem sustentado não apenas suas populações, mas populações regionais com sua produção agrícola.

Quando me falaram o que havia sucedido nesta aldeia em luta pela recuperação de mais de 36 mil hectares já delimitados e em fase de demarcação, não quis acreditar. Nos últimos meses fizeram duas retomadas, buscando pressionar o órgão federal a concluir o processo de regularização dos 36 mil hectares. Muitas promessas descumpridas e tudo está paralisado. O governador, em conversa com os bispos, no ano passado, deixou claro sua estratégia. Consigo dois mil hectares que os fazendeiros já prometeram, compro mais mil hectares, e não se fala mais nos 36 mil hectares. De brinde ainda instalo o aldeia produtiva, dou trator(tem mais de 70 enferrujando), mando algum dos 200 técnicos agrícolas que disponho no projeto e vou entrar para a historia como o salvador dos índios". Essa talvez reflita a intenção do sorriso amarelo sob o cocar

Mãe Terra, que com tanto sofrimento, privações, lutas construíram uma história tão bonita e organização e conquistas da comunidade não merece isso. Em suas rezas, rituais, danças, tudo que sempre pediam é suas terras de volta e a volta da paz. O pouco que conseguiram foi a duras penas, com muito debate e luta. Não merecem ver sua imagem instrumentalizada em benefício de teses anti-indigena.

Governar para todos

"Somos governador de todos e temos que dar atenção a todos" (idem - Pucinelli). Estamos plenamente de acordo com essa afirmação. Entendemos que governar para todos não é dar as migalhas a uns e o bolo a outros. Não é dar dinheiro a prefeitos para impedir a demarcação das terras indígenas. Ao contrário é assegurar a demarcação e as condições de produzirem com dignidade a abundancia seus alimentos, e não dependerem de cesta básica. Atitude esta que vem gerando um forte impacto sob as comunidades indígenas, especialmente na sua dinâmica produtiva, pois vai gerando a cultura da dependência e desestruturação das bases sociais da vida da comunidade.

Com o Ministro

Enquanto isso, representantes da comunidade Nhanderu Marangatu a acabam de ter uma rápida audiência com o Ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, para pedir urgência no julgamento do Mandado de Segurança que suspendeu os efeitos da homologação dos 9.317 hectares. Hoje uma população de quase 900 pessoas vive em 127 hectares. Do Ministro, mais uma vez, receberam a resposta telegráfica, de que buscaria dar urgência e prioridade ao julgamento.

Cimi MS
Campo Grande, 21 de agosto 2009

* Assessor do Conselho Indigenis (CIMI) Mato Grosso do Sul

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