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Respeito ao cerrado

CB, Cidades, p. 38
03 de Out de 2006

Respeito ao cerrado
Espécies exóticas plantadas nas áreas de circulação de visitantes no Parque Nacional serão substituídas por nativas

Carolina Caraballo
Da equipe do Correio

O Parque Nacional de Brasília deveria ser um retrato fiel do cerrado. Do solo seco, brotariam apenas exemplares tipicamente candangos, como jatobás, copaíbas e ipês. A paisagem retorcida da unidade de conservação, no entanto, é maculada por espécies exóticas. A presença indesejada aparece nas áreas mais freqüentadas pelo público e desvirtua o principal objetivo do parque: a apreciação e a preservação do cerrado. Um projeto paisagístico para a área pretende trocar as árvores de origem internacional pelas espécies nativas. E assim recuperar o princípio básico de uma área de preservação.

A substituição das árvores beneficia apenas os locais de uso intenso do parque - espaços que cercam as duas piscinas, a administração e o centro de visitantes. São áreas modificadas para o conforto do público, onde o cerrado deu lugar à grama e à arborização. Colocadas lado a lado, árvores nativas mostram que estão melhor adaptadas ao clima da região do que as espécies exóticas. Enquanto as espécies do cerrado crescem vistosas, as plantas de origem internacional parecem abatidas e pouco saudáveis.

A presença de espécies exóticas no local teve o respaldo da legislação ambiental que vigorava quando a unidade de conservação foi inaugurada, em 1961. De acordo com o diretor do Parque Nacional, Darlan Alcântara, as leis não eram rígidas. "Temos uma represa dentro do parque que fornece 70% da água usada no Plano Piloto. Hoje, esse tipo de construção não é permitido dentro de uma área de preservação", observa. Na época da construção da cidade, o Parque Nacional chegou a abrigar duas cascalheiras que abasteciam as obras no Plano Piloto. "As áreas degradadas são muito grandes, mas não temos verba para levantar o tamanho exato delas e nem para recuperá-las", completa Darlan.

As substituições devem ser concluídas até dezembro, para aproveitar o período de chuva. Um levantamento feito ao redor da administração descobriu 121 árvores de 21 espécies exóticas. "Falta terminar o estudo na área das piscinas e do centro de visitantes", adianta Darlan. Os técnicos ainda não sabem o tamanho total do terreno que passará por mudanças. O diretor do parque garante, porém, que é uma parte ínfima dos 43 mil hectares da unidade de conservação. "O projeto engloba apenas as áreas por onde os visitantes passam sempre. Queremos que o público valorize mais a vegetação do cerrado", argumenta Darlan.

Destino
Apesar de não serem bem-vindas no Parque Nacional, as espécies exóticas serão retiradas com cuidado. A analista ambiental do Ibama Christiane Horowitz conta que a raiz das árvores fica protegida, para evitar que elas morram antes de serem replantadas em outro local. "Os técnicos do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) decidirão o destino delas", esclarece. "Algumas são muito bonitas e podem ser usadas para paisagismo fora do parque." A Bauhinia variegata, popularmente conhecida como pata-de-vaca, foi a primeira árvore a se despedir da unidade de conservação. No último dia 22, ela deu lugar a um ipê-roxo que cresce em solo adubado, regado diariamente.

As espécies nativas que ocuparão o lugar das exóticas ainda não foram definidas. Christiane revela que o DPJ oferece mudas de mais de 80 espécies típicas do cerrado, como ipê, jatobá, ingá, copaíba. "A escolha depende do ambiente que elas enriquecerão. Nas proximidades das piscinas, por exemplo, precisamos plantar árvores típicas de mata ciliar", afirma a analista ambiental.

O projeto paisagístico é colocado em prática com a ajuda do Departamento de Parques e Jardins da Novacap. As mudas de árvores nativas que substituem as espécies exóticas são retiradas dos viveiros mantidos pelo órgão. O chefe do DPJ, Ozanan Coelho, conta que existe um termo de cooperação entre a Novacap e o Ibama. "Em troca das mudas, os técnicos do DPJ poderão coletar sementes de árvores em toda a área do parque", explica. "Muitas vezes viajamos 500km para coletar sementes de algumas espécies, como ipê-roxo, amarelo e branco, quaresmeira, copaíba, jatobá. A coleta feita no parque vai render uma economia enorme de mão-de-obra e transporte."

A redução dos gastos do DPJ, no entanto, não é o único motivo de satisfação de Ozanan. Ele lembra que preservar o cerrado é finalidade do Parque Nacional. "Não podemos conceber que um visitante estacione o carro debaixo de um eucalipto, árvore que nem do Brasil é", compara. "O parque deve servir para educar o público, para incentivá-lo a admirar, conhecer melhor e preservar a vegetação típica do cerrado."

PLANTAS QUE SAEM

Confira algumas espécies exóticas que vão se despedir do Parque Nacional de Brasília

Nome científico: Sygium cumini
Nome popular: jamelão
Origem: África

Nome científico: Eucaliptus citriodora
Nome popular: eucalipto limão
Origem: Austrália

Nome científico: Michelia champaca
Nome popular: magnólia-amarela
Origem: Índia

Nome científico: Muntingia calabura
Nome popular: calabura
Origem: República Dominicana

Nome científico: Tecoma stans
Nome popular: ipê-amarelo-de-jardim
Origem: América Central e Antilhas

Nome científico: Cariota urens
Nome popular: palmeira rabo-de-peixe
Origem: Índia e Malásia

CB, 03/10/2006, Cidades, p. 38

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