VOLTAR

Relatório aponta fraude

O Liberal-Belém-PA
13 de Jun de 2005

Analista garante que Ibama autorizou comercialização de madeira que não existia em pelo menos dez projetos de assentamento em Pacajá e Anapu

Documentos do próprio Ibama revelam que houve pelo menos um problema grave na "Safra Legal de 2004", onde foram centradas as acusações de corrupção publicadas pela revista "Veja" envolvendo políticos do PT do Pará. No memorando interno de número 002/05, o analista ambiental Carlos Bicelli informa que fez uma investigação por amostragem nos projetos de assentamento que tiveram autorizações de desmatamento liberadas pelo órgão no ano passado. Ao todo, foram dez autorizações investigadas, sendo seis em projetos de assentamento localizados em Anapú e quatro localizados em Pacajá.

"Em todas as amostras, constatou-se a inexistência de matéria-prima (madeira) autorizada para comercialização, em virtude de a mesma já ter sido extraída", disse o analista no relatório. Tudo leva a crer que o Ibama autorizou desmatamento de áreas já devastadas para que esses documentos fossem usados para "esquentar" madeira retirada de áreas irregulares. O pagamento dos madeireiros teria sido feito na forma de doações para as campanhas. Uma instrução normativa do Ibama permite que o órgão autorize o desmatamento nos projetos de assentamento do Incra. O desmatamento deve ser de no máximo três hectares por lote, até o limite máximo de 20% total da propriedade. Foi essa brecha que teria sido usada para o esquema denunciado pela revista. O Ibama expedia as autorizações para áreas regularizadas, mas sem madeiras, e os trabalhadores rurais indicados por Chiquinho retiravam madeira de terras não regularizadas. Funcionários do órgão faziam vistas grossas e deixavam passar a madeira dando a impressão de que a matéria-prima tinha origem nos lotes indicados nos documentos do Ibama.

De acordo com levantamento informal de funcionários do Ibama, o esquema teria permitido o desmatamento em 2,5 mil áreas, de onde forma retirados 180 mil metros cúbicos de madeira, que somam a fortuna de R$ 180 milhões. Desse total, pelo menos R$ 2 milhões, de acordo com informações divulgadas pela revista, teriam ido parar nos cofres de políticos do PT paraense.

Corrupção - As denúncias de corrupção no Ibama do Pará, publicadas na revista "Veja", já eram de conhecimento da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Os documentos reunidos pelo Sindicato dos Reflorestadores (Sindfloresta), com a ajuda de funcionários do próprio Ibama, foram enviados a Brasília há cerca de um mês e meio com pedido de investigação. O sindicato enviou também carta ao presidente do Ibama pedindo a suspensão dos recursos para a "Safra Legal de 2005", até que os fatos ocorridos em 2004 fossem apurados. Informações extra-oficiais são de que a liberação do dinheiro foi suspensa, mas não há notícias sobre as investigações da suposta fraude.

Embora admita ter enviado os documentos para o Ministério do Meio Ambiente, Ibama e alguns deputados federais da oposição, o presidente Sindifloresta,
Mário Rubens Rodrigues, nega ter pago à revista pela publicação das denúncias, como acusou o deputado José Geraldo, apontado como um dos beneficiários do esquema.

"No material enviado ao ministério a gente nem citava deputado. O que mostrávamos é que havia envolvimento do Chiquinho", afirma Mário, referindo-se a Francisco de Assis de Souza, amigo pessoal da missionária Dorothy Stang e candidato à Prefeitura de Anapu pelo Partido dos Trabalhadores.

Além do deputado José Geraldo e de Chiquinho, a matéria de "Veja" denuncia Paulo Medeiros, de Uruará; e Lenir Trevisan, de Medicilândia, que é mulher do deputado José Geraldo. O esquema, segundo um representante do Sindfloresta, era intermediado pelo deputado federal José Geraldo e pelo deputado estadual Airton Faleiro, ambos ligados ao Ibama.

Rodrigues contou ontem a O LIBERAL que decidiu denunciar o caso por pressões de trabalhadores rurais da área que não tinham afinidade política com Chiquinho e que, por isso, não conseguiram autorizações de desmatamento, que eram liberadas apenas para membros do sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, entidade presidida pelo candidato.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.