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Regras rigorosas trafegam na BR-174

GM, Rede Gazeta do Brasil, p. B13
08 de Abr de 2005

Regras rigorosas trafegam na BR-174

Rodovia está submetida a um esquema de controle, em que etnias indígenas exercem uma forte influência. As paisagens de florestas, savanas e serrados dos mil quilômetros da BR-174 totalmente asfaltada desde o início da década de 90 ligando Manaus (AM) à Santa Elena, na Venezuela, não tem o mesmo acesso comum da malha rodoviária do País. A estrada está submetida a um rigoroso esquema de controle em que conhecidas etnias indígenas, entre as quais Macuxi (a mais numerosa com cerca de 30 mil índios), Waimiri Atroari, Yanomami, Wapixana e Ingarikó, exercem uma forte influência.
No sentido de Santa Elena, por exemplo, o tráfego é fechado pela guarda nacional venezuelana a partir das 22 horas e depois disso as pessoas são obrigadas a pernoitar na cidade de Pacaraima, no lado brasileiro, que, aliás, possui trechos de ruas localizados em território venezuelano. A apenas 212 quilômetros de Boa Vista, a área é ocupada pelas reservas de São Marcos, e Raposa Serra do Sol. De acordo com fontes do Conselho Indígena de Roraima o procedimento resulta de um acordo do governo brasileiro selado desde época dos militares na década de 70.
Gasolina barata
Além das regras e limites de horários, os automóveis particulares podem ser abordados por indígenas a qualquer momento, caso haja algum movimento imprevisto durante o dia. Comenta-se, entre motoristas de caminhões e ônibus que costumam fazer esse percurso, a existência de um mal estar na fronteira com a Venezuela em virtude do mercado informal de gasolina adquirida a apenas sete centavos de real por litro em Santa Elena, enquanto no lado brasileiro o combustível custa até R$ 2,40.
Formam-se enormes filas de automóveis matriculados no Brasil em postos de combustíveis venezuelanos, fato que tem irritado a população local. Segundo se comenta veladamente, camionetes com tanques duplicados em oficinas de Roraima para receber até 170 litros são abastecidas na Venezuela e o que sobra da viagem de volta (em média 140 litros) é vendido no mercado informal de Boa Vista, por valores que oscilam entre R$ 1,70 e R$ 1,80 por litro.
Corrente na estrada
No trecho interno em território do Brasil, entre Boa Vista e Manaus (800 km) os problemas são mais delicados. Os automóveis não podem trafegar depois das 18 horas. As pessoas evitam percorre-lo em horários próximos do entardecer porque em caso de panes pode não sobrar tempo para completar o trajeto e as abordagens são indesejadas. Há casos de pessoas que, diante de dificuldades como estouro de pneus, abandonam os automóveis mesmo sabendo que serão depenados durante a noite.
Nesse percurso, pontilhado de povoados próximos das margens da rodovia, fica proibido sair do carro e tirar fotos mesmo durante o dia. Os obstáculos ( correntes de ferro instaladas de um lado a outro da estrada) colocados ao final das tardes são justificados como forma de evitar danos ambientais, riscos aos animais e aos índios que caminham ao longo da rodovia.
Entretanto, é permitido o tráfego noturno dos ônibus de linha entre Boa Vista e Manaus ou de ambulâncias e veículos para atender emergências.
Transformado em unidade da Federação há 17 anos, o mapa político de Roraima muda de feição todas as vezes que ocorre uma nova delimitação de território indígena.
Jazidas de petróleo
Os Waimiri Atroari, por exemplo, ampliam seus territórios que já englobam áreas brasileiras com áreas venezuelanas, formando uma espécie de comunidade bi-nacional rica em minérios como cassiterita, diamante e ouro. Por estar situada no mesmo paralelo da Venezuela presume-se que a reserva também possua jazidas importantes de petróleo, além de minérios altamente cotados nos mercados internacionais, e recursos fármacos e de transformação existentes na flora.
As autoridades estaduais e municipais do estado mostram-se empenhadas em mobilizar a Petrobras para que realize pesquisas e prospecções geológicas em busca de óleo na região. O ministro da Previdência Social, senador Romero Juca, ex-governador de Roraima, articula a ida de equipes da Petrobras ao extremo norte do País, por meio de um expediente em andamento desde sua chegada ao Senado, mas ainda não há posição oficial sobre o assunto.
Embora retenha uma potencialidade natural em savanas e cerrados agricultáveis, com privilégio de recursos hídricos, Roraima apresenta uma economia ainda tênue. O ciclo do garimpo do ouro, proibido há dez anos, representou uma fase de grande circulação de dinheiro na região, mas não deixou qualquer obra estruturada.

kicker: Região é rica em minérios como cassiterita, diamante e ouro

GM, 08-10/04/2005, Rede Gazeta do Brasil, p. B13

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