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A reforma da natureza

CB, Opinião, p. 20
Autor: MARCELO, Carlos
25 de Nov de 2006

A reforma da natureza

Carlos Marcelo, carlos.marcelo@correioweb.com.br

O Ibama atravanca o desenvolvimento do Brasil porque emperra a concessão de licenças ambientais que permitam, por exemplo, a construção de usinas em santuários ecológicos. Em linhas gerais, é o que se tem afirmado em reuniões quando entra em pauta a necessidade de encontrar medidas necessárias para garantir um crescimento expressivo para o país - não, Lula ainda não sabe, depois de quatro anos no Planalto, o que fazer para destravar o Brasil. Parece que tentará, nos próximos quatro anos, encontrar a resposta.

A postura do presidente, que pede mais uma vez soluções prontas e ignora os problemas estruturais de um órgão sem servidores em número suficiente nem salários compatíveis com a relevância da tarefa que executam dentro de um país de dimensões continentais, não é solitária. Aldo Rebelo, enaltecido esta semana como o primeiro comunista a assumir interinamente a Presidência da República, superou o próprio titular. Ao discursar para uma platéia formada por produtores e parlamentares, o presidente da Câmara dos Deputados esticou o olho grande para os votos da bancada ruralista em uma eventual reeleição e atacou "a legislação ambiental muito dura, muito forte para nossos agricultores". Ganhou aplausos vigorosos.

Entusiasmado, Aldo prosseguiu na defesa dos sojeiros e criadores de gado instalados na Amazônia. "Por que não podemos ter pecuária na Amazônia? Não estou convencido de que não podemos ter. Eu quero saber o porquê", afirmou. Enquanto isso, os ecologistas denunciam uma expansão desenfreada das fazendas na Amazônia, especialmente para o plantio de soja. Se depender de Lula (o neo-amigo do governador fazendeiro Blairo Maggi) e de Aldo (o neo-amigo dos ruralistas), a primeira reforma a sair do papel no segundo mandato de ambos não será a política ou a da previdência. Será a reforma da natureza. Na versão palaciana da fábula de Monteiro Lobato, contudo, caberá à ministra Marina Silva apenas o papel de Emilia, a boneca de pano. Sem direito a pílula falante.

CB, 25/11/2006, Opinião, p. 20

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