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'Racionamento' não oficial já atinge vários bairros de SP

FSP, Cotidiano, p. C1-C2
16 de Mar de 2014

'Racionamento' não oficial já atinge vários bairros de SP
A Folha ouviu relatos de moradores sobre falta de água em oito deles
Sabesp diz que são casos 'pontuais', com causas como falta de energia para bombear água e vazamentos

Ana Krepp Heloisa Brenha de São Paulo

Desde antes da atual crise do sistema Cantareira, uma parcela dos moradores de São Paulo já vive uma situação semelhante à de um racionamento, com cortes de água diários ou semanais.
Moradores de oito bairros ouvidos pela Folha relataram faltas de água recorrentes. Os casos mais graves se concentram na periferia das zonas norte (Brasilândia, Parque Edu Chaves, Tremembé e Tucuruvi) e sul (Jardim Ângela e Capão Redondo).
Há também queixas de cortes prolongados em bairros de classe média e alta, como na Casa Verde e no Brooklin.
Morador da Casa Verde, na zona norte, Otávio Siciliano diz que as torneiras de sua casa secam todos os dias, por volta das 20h. "Quando chego do trabalho, tenho de correr para tomar banho, lavar roupa e louça", diz.
A situação é mais grave no Tremembé. "Sempre faltou água aqui, mas piorou na última semana. Passamos dez horas por dia a seco e quando a água volta vem amarelada, suja. Leva horas para normalizar", afirma o professor Aluízio Torres.
O abastecimento também é irregular no Brooklin, na zona sul. Segundo as moradoras Ana Baccelli e Juliana Crem, a água foi cortada três vezes na última semana, sem qualquer aviso.
No Parque Edu Chaves, moradores dizem que falta água todos os dias há pelo menos duas semanas. Os cortes começam às 21h e se estendem pela madrugada, segundo a caixa Juliana Souza. "Chego do trabalho às 2h da manhã. Só quero tomar um banho e não posso", diz.
No Capão Redondo, comerciantes afirmam que ocorre um rodízio de água há mais de três meses. Dono de um restaurante no bairro, Kleber Silva teve de fechar as portas por cinco dias em fevereiro.
"Fica impossível preparar a comida ou limpar o restaurante sem água. Nosso prejuízo foi de uns R$ 6 mil", diz.
A Sabesp nega que haja racionamento ou falta de água. Sobre o Capão Redondo, diz que o abastecimento é feito durante um período do dia. Este vem sendo dificultado pelo rápido crescimento populacional e pelo calor, que aumenta a demanda.
Um estudo feito em 2011 já situava parte desses bairros em áreas onde o abastecimento de água era deficiente. A Sabesp não informa quais áreas têm problemas de abastecimento atualmente.
Segundo a empresa, as faltas de água são pontuais e podem ter diferentes causas, como vazamentos, quedas de energia que impedem o bombeamento da água e "gatos" (ligações irregulares).

Cidades da Grande São Paulo sofrem com falta de água
Os municípios no oeste da região metropolitana são os mais afetados
Sabesp admite haver problemas em Barueri, Cotia, Embu das Artes, Santana de Parnaíba e Itapecerica da Serra

De São Paulo

A falta de água já é uma realidade em cidades da Grande São Paulo que também estão na mira de um possível racionamento devido aos baixos níveis dos reservatórios do Cantareira.
Municípios no oeste da região metropolitana --como Barueri, Cotia, Embu das Artes, Santana de Parnaíba e Itapecerica da Serra-- são os mais afetados por falhas no abastecimento de água, segundo a Sabesp.
Embora essas cidades sejam vizinhas a seus sistemas de abastecimento (o Alto e o Baixo Cotia), moradores de alguns bairros relataram à Folha que cortes de água são realizados diariamente.
A Sabesp diz que esses sistemas são de pequeno porte e que essa região registrou um aumento populacional acima da média. Houve ainda, segunda a empresa, um crescimento nas ligações clandestinas ("gatos").
A companhia garante que o futuro sistema São Lourenço, a ser construído até 2018, irá aumentar a oferta de água para esses municípios.
O prefeito de Embu das Artes, Chico Brito (PT), diz que pelo menos 100 mil habitantes sofrem com falta diária de água na cidade. "A estiagem só agravou um racionamento informal que já existia há mais de 20 anos", afirma.
Para o professor de geografia da USP, Wagner Ribeiro, a falta de água na área é histórica e vem se agravando com a especulação imobiliária.
"Foram construídos condomínios de alto padrão sem um trabalho prévio de infraestrutura. A população foi para lá e a oferta não acompanhou a demanda", afirma.
Moradora de um condomínio em Itapecerica da Serra, Rita Rebelo diz que vem enfrentando falta de água toda semana há pelo menos três meses. "Tenho de estocar água até para dar descarga no vaso sanitário", conta.
Por ora, a Sabesp descarta adotar um rodízio de água na região metropolitana. A empresa reduziu na quinta-feira a venda de água para São Caetano do Sul e Guarulhos, que têm serviço autônomo de abastecimento, mas dependem da água da companhia.
Com a restrição, o rodízio de água em Guarulhos, a cidade mais populosa do Estado depois de São Paulo, foi ampliado. Hoje, 1,06 milhão de habitantes da cidade recebem água dia sim, dia não.
(Heloisa Brenha)
Antonio Prata
O colunista está em férias

FSP, 16/03/2014, Cotidiano, p. C1-C2

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/156672-racionamento-nao-ofic…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/156662-cidades-da-grande-sao…

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