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Quadrilha da floresta

CB, Brasil, p.14
27 de Out de 2005

Quadrilha da floresta
PF prende 43 suspeitos de participar de esquema de falsificação de documentos para a venda de madeira e carvão vegetal extraídos da Amazônia. Entre os detidos, empresários e funcionários do governo do Pará
Da Redação
Quase cinco meses após a deflagração da Operação Curupira, que prendeu 101 pessoas envolvidas na falsificação de documentos para a desmatar a Floresta Amazônica, a Polícia Federal realizou ontem uma nova investida contra uma outra quadrilha suspeita de atuar no mesmo esquema para retirar madeira e carvão vegetal. Um total de 43 pessoas foram detidas, em seis estados, sob acusação de adulterar Autorizações Para Transporte de Produtos Florestais (ATPF), usados para garantir o transporte do material. Entre os presos, estão empresários e dois funcionários da Secretaria da Fazenda do Pará.
A falsificação tinha o objetivo de esquentar” madeira e carvão extraídos ilegalmente da Amazônia. Na operação, batizada de Ouro Verde, foram expedidos 78 mandados de busca e apreensão. Oito siderúrgicas, acusadas de consumir carvão vegetal ilegal, foram multadas no Pará e Maranhão, em valores que chegam a R$ 509,12 milhões. A quadrilha também agia em Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Goiás.
Pelos cálculos da PF, somente em quatro municípios do Pará – Tucuruí, Paragamina, Tailândia e Tomé-Açu-, estima-se que, no último ano, 148 empresas comercializaram ilegalmente cerca de R$ 65 milhões em madeira (72 mil metros cúbicos). Entre as espécies extraídas estão o ipê e o jatobá. As ATPFs foram falsificadas numa gráfica de Goiás, a Cometa. A fraude só foi detectada porque, nos impressos, havia referência errada ao número de uma lei. Seis diretores e funcionários da gráfica estão detidos.
Os documentos irregulares, cuja qualidade surpreendeu a PF, eram enviados de avião para empresas no Mato Grosso, Pará, Rondônia e Maranhão. A investigação revelou que cada ATPF era vendida por valores entre R$ 1,2 mil e R$ 1,8 mil. Cerca de 600 documentos deverão ser apreendidos. Até agora, 280 foram encontrados.
Para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, só foi possível desbaratar a quadrilha, porque o trabalho teve ação continuada em todo o país. Desde o início de 2003, estamos fazendo essas investigações. O trabalho é apurado e tem levado a resultados significativos, desmontando quadrilhas que atuavam havia décadas na região”, afirmou. Segundo o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, a operação é especial porque desmontou a logística da quadrilha, alcançado os responsáveis pela fabricação, venda e adulteração das ATPFs.

COMO O GRUPO ATUAVA
As Autorizações para Transporte de Produtos Florestais (ATPFs) eram adulteradas em um gráfica em Goiânia, de onde seguiam de avião para o norte do país
A qualidade do material falsificado surpreendeu a PF, que só conseguiu identificar a fraude porque, nos impressos, havia referência errada ao número de uma lei
Nas áreas de extração de carvão vegetal e madeira, as ATPFs eram vendidas por valores entre R$ 1,2 mil e R$ 1, 8 mil
Com este documento, os madeireiros e empresários conseguiam transportar livremente os produtos para as regiões Nordeste e Sul

Autorizações suspensas
O Ibama decidiu suspender por até 30 dias o fornecimento de Autorizações para Transporte de Produtos Florestais (ATPFs) a pessoas físicas e jurídicas nos estados do Pará, Maranhão e Rondônia. A portaria também prevê o descredenciamento de funcionários de sistemas de monitoramento e controle da movimentação de produtos florestais naqueles estados. Novos servidores serão indicados em até cinco dias. Esta é a quarta operação de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia, desde 2003. Reunidas , elas apreenderam 250 mil metros cúbicos de madeira.
A operação Ouro Verde é um desdobramento de outras operações, a Belém 1 e 2. Para a PF, a quadrilha descoberta agora se organizou no último ano, como resposta às medidas moralizadoras” adotadas pelo governo na área. As investigações começaram em maio de 2003, quando o Ibama descobriu 1.263 ATPFs falsas. Em setembro do mesmo ano, o órgão encontrou mais 724 ATPFs. Em dezembro de 2004, a PF começou a investigar a origem e a forma de venda das autorizações falsificadas. Com os documentos adulterados, os madeireiros transportavam a madeira para o nordeste e sul do país.

CB, 27/10/2005, p. 14

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