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Quadrilha ameaça abertamente agentes do Ibama e da PF

Estado de S.Paulo, p.A10 (São Paulo-SP)
22 de Mar de 2002

Justiça do Pará nega prisão de suspeitos, apesar de extenso relatório do MP

A máfia do mogno, segundo as investigações feitas pela Polícia Federal, não restringe sua atuação ao Sul do Pará, mas estende-se pelo restante do País, principalmente nos portos do Sul, como Paranaguá (PR). Passa também por outros portos intermediários, como Óbidos, Cachimbo, Itacoatiara (AM), Cáceres (MT), além de Belém. Na avaliação de um delegado que trabalha no caso, a organização é semelhante ao narcotráfico, principalmente na forma de aliciamento de pessoas, normalmente seringueiros, índios e ribeirinhos. "Até mesmo o volume de dinheiro movimentado com a venda ilegal do mogno é parecido com o dos traficantes", afirma o delegado.

"A quadrilha montou, na verdade, um verdadeiro arsenal de guerra para a extração da madeira nobre, caça, pesca, composta também por uma legião de trabalhadores explorados na floresta em regime de escravidão", afirma o promotor de Justiça de Altamira, Mauro José Mendes de Almeida, que pediu a prisão de 12 pessoas envolvidas com a atividade. A solicitação foi rejeitada pela Justiça do Pará.

A força - O poder e estrutura dos mafiosos chegam a impressionar e provocar inveja em algumas prefeituras da região. A quadrilha, segundo relatório do promotor, abriu 170 quilômetros de estrada em plena floresta Amazônica para facilitar o transporte da madeira, causando um prejuízo ambiental incalculável. A estrada passa dentro da área de preservação Seringal Monte Alegre.

Mas a demonstração de poder vai ainda mais longe. A máfia construiu cinco pistas de pouso clandestinas, destruindo em torno de 11 mil castanheiras, uma fonte de renda para a população extrativista da região.

Segundo investigadores, alguns índios são coniventes com a atividade ilegal, como acontece em Aripuanã, na fronteira de Mato Grosso com Rondônia. Quem deixa de colaborar pode pagar com a vida, como o cacique Carlito Cinta-Larga, assassinado em Aripuanã. Como toda organização criminosa, a máfia do mogno não conhece limites.

Além da suspeita de estar por trás de atentados contra o presidente do Ibama, o grupo também pode ser responsável pela queda de um avião no Pará, onde morreram um piloto e um oficial de Justiça que, junto com um policial, foram prender um madeireiro acusado de pertencer à máfia. Em Mato Grosso, a própria PF já foi desafiada pelos criminosos. Depois de cruzarem um rio para chegar a uma área que estava sendo devastada, os agentes não puderam voltar pelo mesmo caminho. A balsa que fazia a travessia teve os cabos cortados. No local, um aviso: "Federais, não se metam a bestas!". "Eles acham que têm o domínio da situação", afirma o delegado Marco Aurélio Costa Lima, da PF de Cuiabá. (EL)

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