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Protestos em nome da ecologia

CB, Brasil, p. 10
06 de Dez de 2007

Protestos em nome da ecologia
ONGs alertam para o descontrole na emissão de gases poluentes

Hércules Barros
Da equipe do Correio

Depois dos lenços brancos da semana passada, a Esplanada dos Ministérios ganhou outra decoração chamativa: 6 mil balões foram espalhados ontem pelo gramado.

Eles representam 6 milhões de toneladas de gases poluentes lançados diariamente na atmosfera pelo Brasil. A idéia do protesto partiu da organização não-governamental WWF Brasil e marcou, em Brasília, o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em todo o planeta. A ONG fez o alerta para as emissões brasileiras que contribuem para o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Embora o Brasil tenha conseguido reduzir os índices de desmatamento nos últimos dois anos, o país ocupa o quarto lugar na emissão de gás carbônico no mundo. Perde apenas para Estados Unidos, China e Indonésia. A cada ano, o país registra 14 mil quilômetros quadrados de desmatamento e queimadas na Amazônia, responsáveis por 75% das emissões de gases tóxicos do país.

Na Praça dos Três Poderes, um pequeno grupo de manifestantes ligados à ONG Instituto Socioambiental (ISA), também promoveu um ato simbólico com um bolo em protesto pela morosidade do governo em relação à BR-163. De acordo com o ISA, as medidas anunciadas para mitigar impactos socioambientais da pavimentação da rodovia federal que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA) não saíram do papel um ano depois do lançamento do Plano BR-163 Sustentável.

A manifestação contou até com a presença de palhaços. "É como nos sentimos", afirmou Adriana Ramos, assessora do ISA. O grupo protocolou uma carta no Palácio do Planalto destinada à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com a análise dos avanços e o que ainda resta a ser cumprido no plano. Hoje, os representantes do ISA vão entregar o mesmo documento em pelo menos sete ministérios, entre eles o da Justiça, Meio Ambiente e da Integração Nacional.

Já o protesto do WWF no gramado em frente ao Congresso Nacional contou com a participação de outras 12 organizações ambientais. Para reduzir o desmatamento no Brasil, as ONGs propõem uma série de ações, como a implementação de unidades de conservação, a ampliação dos projetos de desenvolvimento sustentável da floresta e programas que permitam a participação das comunidades locais na preservação do meio ambiente.

As ONGs insistem na necessidade de ampliar a discussão sobre a questão ambiental dentro do governo. O assunto hoje está restrito ao Ministério do Meio Ambiente. "Os planos de energia e transporte têm que ter presente a questão ambiental. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não é um modelo que procure o desenvolvimento sustentável", criticou Carlos Alberto Scaramuzza, diretor do WWF. Ele alerta que as grandes obras de infra-estrutura estão intimamente ligadas à aceleração do desmatamento. "Não dá para trabalhar só com a ampliação da oferta de energia. Tem que pensar na forma mais eficiente de usá-la", observa.

Para o setor elétrico, as ONGs consideram fundamental que o governo promova a adoção de plantas de energia não convencionais, como a eólica, para garantir serviço mais eficiente e limpo à população. "Tudo isso para reduzir as emissões ou para promover o potencial de adaptação às mudanças climáticas que virão", explica Karen Suassuna, assessora do WWF. De acordo com um levantamento da ONG, o Brasil usa em torno de 230MW de energia eólica, embora o potencial do país seja superior a 143 mil MW. "A China tem 2,6 mil MW instalados e a Índia 6 mil MW. A diferença entre o nosso potencial e o que se usa é muito grande", lamenta.
Biomassa
Os ambientalistas alertaram para a necessidade de se aproveitar também o potencial de biomassa - energia gerada por meio do bagaço de cana-de-açúcar -, principalmente no Sudeste. Segundo a técnica Karen Suassuna, o potencial de produção de biomassa na região é de 8 mil MW e são utilizados apenas 1,5 mil MW. "O restante se perde. O potencial energético é maior do que o complexo (hidrelétrico) do Rio Madeira. Isso sem considerar a produção de etanol", alerta.

Os representantes das ONGs entregaram um relatório a integrantes da Frente Parlamentar Ambientalista, durante um café da manhã. O presidente da frente, deputado Sarney Filho (PV-MA), pediu a mobilização dos parlamentares na próxima quarta-feira para a votação do projeto IR Ecológico, que será submetido à Comissão de Finanças e Tributação. A proposta prevê incentivos fiscais para projetos de promoção do uso sustentável dos recursos naturais e da preservação do meio ambiente. "O IR Ecológico já foi mais que debatido", afirmou. Em 2006, o projeto encontrou forte resistência na Câmara, por competir com os recursos destinados para as áreas da cultura e do esporte.

O relator do projeto, deputado Luiz Carreira (DEM-BA), está otimista com a possibilidade de aprovação da proposta. A motivação dele está amparada na divulgação de relatórios internacionais, recentemente, que trouxeram novamente a questão ambiental para a pauta do dia. "Hoje está claro que o país não pode continuar a crescer sem que tomemos os cuidados necessários com a questão ambiental", alertou o relator.

PF deflagra operação

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a Polícia Federal brasileira deflagrou a Operação Rosa dos Ventos, que resultou na prisão de cinco pessoas no Pará e mais duas em Sergipe. Sessenta animais foram apreendidos pela PF em vários pontos de Belém.

Agentes federais cumpriram mandados de busca e apreensão em residências de suspeitos de tráfico de animais silvestres. A maioria das apreensões e prisões aconteceu na Feira do Ver-o-Peso e no Aeroporto Internacional de Belém, onde os policiais encontraram araras, canários, curiós e sabiás. Até uma lancha foi usada para fazer a varredura em embarcações que ficam nos arredores do mercado. Os acusados foram autuados em flagrante na lei de crimes ambientais e poderão pegar até dois anos de cadeia em caso de condenação.

Na capital paraense, os pássaros foram encontrados sob o sol forte de 36 graus, sem água e amontoados em pequenas gaiolas. Enquanto os presos eram levados para a sede da PF, os animais seguiam para a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Eles devem passar por um processo de readaptação para depois serem soltos nas florestas perto de Belém. O delegado federal Sérgio Rovani, que comandou 40 policiais divididos em seis equipes, disse que, apesar de não estarem ameaçados de extinção, os pássaros apreendidos são os preferidos dos traficantes, que vendem os bichos para colecionadores na Europa.

Em Sergipe, as duas prisões ocorreram no município de São Cristóvão, numa área de onde areia era retirada ilegalmente. O empresário Hermínio da Conceição foi autuado por usurpação de bem público da União e crime de extração ilegal de minérios. Segundo a PF, esta foi a segunda vez que Hermínio foi autuado por crimes ambientais. Também num areal em São Cristóvão foi detido Wellington Silva. Ele é um dos proprietários da área. Silva disse que foi preso injustamente, pois vinha tentando obter as licenças ambientais para trabalhar, mas não estava conseguindo. A PF recolheu cinco caçambas cheias de areia e uma retroescavadeira foi lacrada.

6mil balões na Esplanada lembram a emissão diária pelo Brasil de 6 milhões de toneladas de gases poluentes

14mil quilômetros quadrados de mata são destruídos anualmente no Brasil

75% das emissões de gases lançados na atmosfera são pelas queimadas

CB, 06/12/2007, Brasil, p. 10

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