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Projeto viável

O Globo, Opinião, p. 6
19 de Jan de 2005

Projeto viável

Há registros de estudos sobre a transferência de águas do São Francisco para o semi-árido nordestino datados do século XIX. Na época, engenheiros a mando de Dom Pedro II se debruçaram sobre o assunto em busca de soluções para reduzir os efeitos da seca. Porém, por ser um tema mais complexo do ponto de vista da política do que da engenharia, a chamada transposição das águas do rio jamais saiu do papel.
Pelo menos agora há uma bem-vinda promessa de que isso ocorra, com a aprovação do projeto, segunda-feira, pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Falta o aval das autoridades ambientais.
Na verdade, de "transposição" o projeto passou a ser de "integração" da Bacia do São Francisco com outras bacias localizadas no semi-árido, no interior de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Essa mudança realizada pelo Ministério da Integração Nacional não é apenas de nome. Há um redimensionamento da obra - menos ambiciosa que a transposição - mas também de conceito. Agora, o aspecto da gestão dos recursos hídricos ganha mais destaque.
Como é grande a contaminação política nessa polêmica, as opiniões costumam oscilar entre profecias catastróficas e promessas de solução mágica para a seca. Não se trata de uma coisa nem outra.
Os números oficiais sustentam uma nítida viabilidade do projeto - sem desestabilizar o rio e servindo de fonte de suprimento para 28 milhões de pessoas e seus animais. A seca jamais deixará de ocorrer e continuará a fazer vítimas. Mas, se executada, a interligação pode representar uma mudança qualitativa histórica na forma como o poder público atua na região nos ciclos de grave estiagem - como poderá ocorrer este ano.
Toda a água retirada hoje do São Francisco (91 metros cúbicos por segundo) representa apenas 5% da sua vazão na foz, na fronteira de Sergipe com Alagoas. O projeto prevê o desvio para o semi-árido, por dois extensos canais, de até 63 metros cúbicos por segundo, ou 3,4% da vazão total. É pouco para o São Francisco, mas torna perenes mil quilômetros de rios nordestinos.
O projeto ajuda o meio ambiente em vez de degradá-lo.

O Globo, 19/01/2005, Opinião, p. 6

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