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Projeto estimula ecoturismo no extremo sul da cidade

FSP, Cotidiano, p. C1, C3
26 de Out de 2008

Projeto estimula ecoturismo no extremo sul da cidade
Moradores de Marsilac e Parelheiros estão sendo capacitados para receber turistas
Primeiro catálogo turístico da região com uma lista de atrações e de cerca de 40 locais para atender turistas deve sair em dezembro

Evandro Spinelli
Da reportagem local

Imagine fazer canoagem e trilhas, ver animais exóticos, cachoeiras, mirantes e até uma cratera formada por um meteorito, conversar com índios, nadar em rios despoluídos, navegar em uma escuna e visitar culturas de plantas ornamentais, hortaliças e cogumelos.
Agora, imagine fazer tudo isso sem pegar estrada e sem pagar pedágio. Sem sequer sair da área urbana de São Paulo.
É o que se quer fazer na zona sul, na área a 35 km da praça da Sé que abrange Marsilac e Parelheiros, num total de 341 km2 -22,6% da cidade-, formada pelas Áreas de Proteção Ambiental Bororé-Colônia e Capivari-Monos, onde vivem cerca de 127 mil pessoas -a maioria em condições precárias.
Juntaram-se para transformar a região em um pólo de turismo rural, ecológico e cultural o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), a SPTuris (empresa municipal que cuida do turismo), a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e as associações locais.
"O que a gente quer fazer é como se você fosse para os melhores centros [de ecoturismo] do mundo. É como se você fosse para a Nova Zelândia", diz Oswaldo Fazio Jr., presidente da Liga Nacional de Esportes de Aventura e diretor da Aecotur (Associação dos Empreendedores de Ecoturismo da APA Capivari-Monos Parque de Aventua).
O Sebrae está concluindo o primeiro catálogo turístico da região com a lista de atrações e cerca de 40 locais que já se adequaram para o turismo.
Alan Félix da Silva, analista de negócios e gestor de projetos do Sebrae, diz que o trabalho até agora (começou em 2003) foi de dotar a região de estrutura para receber turistas.
0 catálogo, segundo ele, é a última etapa do projeto.
"Nossa preocupação é de não se ofertar o que não existe. Consolida em, no máximo, um ano o trabalho do Sebrae. A partir daí, a região vai ser gerida pelas associações", afirmou.

Infra-estrutura é precária no extremo sul
Turismo é tido como a única alternativa de emprego e renda por causa das restrições ambientais em Marsilac e Parelheiros
Por questões de segurança, é proibido entrar nas trilhas sem o acompanhamento de monitores treinados, que cobram diária de até R$ 70

Da reportagem local

Falta quase tudo no extremo sul de São Paulo. O turismo é tido como a única alternativa de geração de emprego e renda na região. E atrações não faltam.
Dados da pesquisa DNA Paulistano, que ouviu cerca de 28 mil pessoas em todos os distritos de São Paulo entre fevereiro e julho, apontam que os moradores de Parelheiros e Marsilac são os que mais reclamam de coisas básicas, como o fornecimento de água, rede de esgoto e buracos nas ruas.
O acesso à área é precário. São poucas as vias que levam a Parelheiros, todas de pista única e tráfego intenso. Mesmo a infra-estrutura de atendimento ao turista é precária. A SPTuris concluiu a instalação da sinalização turística e de postos de informações, mas ainda não é suficiente. Hospital, por exemplo, não há. O mais próximo é no Grajaú.
Uma preocupação é em relação à segurança. O 25o Distrito Policial, que atende a região, foi o quarto com o maior número de homicídios registrados na capital no segundo trimestre deste ano -o último período medido.

Segurança
Por questões de segurança, é proibido entrar nas trilhas da região sem o acompanhamento de monitores. O dia do monitor treinado custa de R$ 30 a R$ 70.
Os empreendedores locais também contam com o apoio do grupamento ambiental da GCM (Guarda Civil Metropolitana). Em todos os acessos à área de proteção ambiental foram instaladas bases da PM.
Fernanda Ascar de Albuquerque, coordenadora de Projetos Turísticos da SPTuris, disse que o órgão não faz a divulgação oficial do extremo sul de São Paulo por acreditar que a região ainda não está preparada para receber um volume grande de turistas.
A Aecotur calcula em 120 mil o número de pessoas por ano. A própria entidade, no entanto, alerta que é um dado "subjetivo". Com a estrutura para o turismo pronta, a Aecotur estima que esse número pode saltar para até 250 mil -moradores da capital, em sua maioria.

Índios e donos de sítios esperam lucros

Da reportagem local

A cabeleireira Mara Nobile quer abandonar o salão que tem em Embu-Guaçu. Em 2009, se tudo der certo, ela vai se mudar para o sítio da família em Marsilac e viver do turismo.
O sítio, comprado com dificuldade, tem a única cachoeira (das 15 mapeadas na região) que vai integrar o catálogo turístico. O turista que quiser visitar a cachoeira do Sagüi pagará R$ 5. É daí que a cabeleireira espera tirar seu sustento.
"Eu preciso trabalhar fora. Nós tivemos a oportunidade de comprar esse sítio, que estava numa situação muito precária. Não chegava nem carro. Agora, nós já conseguimos arrumar e eu acredito que a gente possa tirar nosso sustento de lá."
Valdemir Ferro produz plantas ornamentais e cogumelos shimeji na ilha do Bororé. Ele também espera poder incrementar sua renda com o turismo em seu sítio.
"O pessoal vai lá, dou um cafezinho da manhã e eles aproveitam para conhecer como é o cultivo do cogumelo. Eu dou uma palestrinha de uma meia hora. Na verdade, eu mais respondo perguntas", disse Ferro.
Também os índios se preparam. Dançar para o "branco", cantar para o "branco", passear na mata com o "branco" e vender artesanato para o "branco". É o que querem os cerca de 300 índios da aldeia guarani Krukutu. Mas só de vez em quando.
"A gente não é igual ao homem "branco". A gente não tem intenção de receber ônibus todo dia. O "branco", se deixar, vem todo dia. Para a gente, uma vez por mês já tá bom", afirmou Olivio Zeferino da Silva, ou Olivio Jekupé, escritor e presidente da Associação Guarani Nhe'ê Porã, formada para defender os interesses da aldeia.
"Sempre vinha turista aqui e pedia para a gente dançar para eles. Já que eles vinham mesmo, resolvemos cobrar", disse.

Cachoeiras e trilhas são os destaques

Da reportagem local

O extremo sul da cidade de São Paulo é rico em atrativos turísticos. Para quem prefere turismo de aventura, por exemplo, Marsilac tem opções. Os rios Capivari e Monos (daí o nome da Área de Preservação Ambiental) possuem cachoeiras, corredeiras e locais para aventuras radicais.
"Estamos testando o rio Capivari em várias épocas do ano para saber o que vai ser possível fazer, se é um rafting [descida em corredeira], canoagem ou bóia-cross", disse Roberto Carlos da Silva, presidente da Aecotur e dono de uma pousada. Ainda em Marsilac, dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, uma das trilhas leva a um mirante de onde é possível ver o mar e a praia de Itanhaém.

Aldeias
Em Parelheiros, duas aldeias de índios guaranis já recebem grupos de turistas, levam os "brancos" para trilhas dentro de suas terras e, claro, vendem seus artesanatos.
No bairro de Colônia Paulista, em Parelheiros, uma das atrações é o cemitério alemão, o mais antigo de São Paulo.
Também há a cratera de 3,5 km2 que teria sido formada a partir do choque de um meteorito há 35 milhões de anos.
No Bororé, uma ilha na represa Billings, empreendedores oferecem, entre outros atrativos, passeios de escuna, palestras sobre cogumelos shimeji e observação de aves.
São coisas que boa parte dos moradores de São Paulo nem sabia que existia. Muito menos, que estava tão perto de casa.

FSP, 26/10/2008, Cotidiano, p. C1, C3

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