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Professor quer taxa a produto 'antiecologico'

FSP, Cotidiano, p.C5
Autor: ALIER, Joan Martinez
17 de Jul de 2005

Para especialista de Barcelona, sociedade deveria pagar mais caro por materiais que degradam a natureza
Professor quer taxa a produto "antiecológico"
Afra Balazina
O professor da Universidade Autônoma de Barcelona Joan Martínez Alier, 62, defende que a natureza só será realmente levada em conta pela sociedade se os produtos que causam degradação ambiental forem taxados.
Alier, que é presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica para o período 2006-2007, esteve no Brasil para disseminar o conceito de economia ecológica e fez uma conferência na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz.
Ele avalia, por exemplo, que os países do hemisfério Norte têm uma dívida com os do Sul por emitirem mais dióxido de carbono. Leia trechos da entrevista.
Folha - O que o senhor defende na visão de economia ecológica?
Joan Martinez Alier - A alteração dos preços para levar em conta um pouco mais a natureza, com os impostos ecológicos. Vou dar um exemplo: o Brasil exporta muita soja e esse produto está provocando desmatamento. Mas o preço da soja hoje não leva em consideração essa externalidade.
Folha - Quem é contra a idéia pode argumentar que os produtos deixariam de ser vendidos porque o preço ficaria mais alto.
Alier - Sim, porque os outros países venderiam mais barato. Mas a verdade é que a América Latina exporta seis vezes mais toneladas do que importa. E exporta muitos produtos a "preço de banana". Na União Européia, nós importamos quatro vezes mais toneladas do que exportamos. Importamos barato e exportamos caro.
Folha - Na economia ecológica, fala-se em injustiça ambiental. O que é isso?
Alier - É o fato de que as cargas da poluição não caem igualmente em todo o mundo. O lixo, por exemplo, é sempre jogado nos bairros pobres e periféricos. No Ceará, está ocorrendo a destruição de manguezais para a indústria do camarão. Então, as pessoas pobres, que dependem do manguezal para sua subsistência, ficam sem alternativa.
Folha - No mundo, qual é o maior exemplo de injustiça ambiental?
Alier - As emissões de dióxido de carbono, por exemplo, são muito desiguais: um cidadão dos Estados Unidos emite em média seis toneladas de carbono ao ano, enquanto um cidadão da Índia, meia tonelada por ano. Portanto, há uma dívida ecológica do Norte em relação ao Sul em razão das emissões desproporcionais de gases que causam o aquecimento global.
Folha - Existem experiências no Brasil ligadas à economia ecológica?
Alier - O MAB (Movimento de Atingidos por Barragens) tem apresentado alternativas a todo o sistema energético. E é da resistência local que nascem as alternativas, como Chico Mendes anos atrás com a idéia das reservas extrativistas. O MAB defende o uso da energia solar, e o Brasil é um país abençoado por Deus, aqui tem muito sol o ano todo.
Folha - De que forma os governos podem atuar para que a natureza seja mais respeitada?
Alier - A única política do governo é a do crescimento econômico. Eu compreendo muito bem porque aqui tem muita gente pobre. Mas, se os países todos do mundo se desenvolverem com a tecnologia que os países do hemisfério Norte inventaram, não vai dar, não há petróleo suficiente. Deveríamos dar subsídios para procurar outras tecnologias. E a pobreza teria de ser atacada com programas de distribuição de renda.

FSP, 17/07/2005, p. C5

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