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Pressão do governo não resolveu impasse sobre licenças ambientais

OESP, Nacional, p. A9
04 de Mai de 2007

Pressão do governo não resolveu impasse sobre licenças ambientais

Uma sucessão de desentendimentos internos do governo, que se misturaram a critérios técnicos ambientais, eclodiu no formato de crise, no dia 19 de abril, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião com o Conselho Político, endureceu o tom contra o Ibama. Naquele dia, ele cobrou mudanças no órgão e deu um puxão de orelha público na ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O órgão foi fatiado, caíram dirigentes, mas não houve solução para as licenças ambientais para a construção de duas usinas hidrelétricas no Rio Madeira, em Rondônia

Um dos pontos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de investimento de R$ 20 bilhões, as usinas de Santo Antônio e Jirau prevêem a produção de 6.450 MW de energia. Sem elas, alega o governo, o País não terá estrutura para crescer 5% ao ano e a única saída será investir em energia nuclear.

Responsável pela implementação do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, a estatal Furnas Centrais Elétricas entregou o estudo de impacto ambiental do projeto ao Ibama em julho de 2005, mas o instituto pediu uma série de informações complementares. Com isso, as licenças - primeiro passo para as obras - não foram concedidas e o projeto continua paralisado. O acúmulo de detritos e a rota dos bagres são pontos contrários às obras - sendo que este último foi o estopim para o fim da paciência do presidente.

CRISE ANTIGA

A crise, porém, não é nova. Em setembro de 2004, Lula já reclamava das exigências do instituto para conceder licenças ambientais e culpava a legislação por atrasos em obras. A irritação se estendeu aos ambientalistas, que acusaram Lula de buscar o desenvolvimento a qualquer custo e de se aproveitar do prestigio de Marina.

O próximo capítulo foi a permanência ou não de Marina no cargo. Conhecida internacionalmente, ela foi estimulada pelos ambientalistas a deixar o posto, em protesto contra a pressão do governo. Do lado do Planalto, seu nome também circulou várias vezes em listas de bastidor sobre quem sairia do ministério no segundo mandato.

Marina acabou ficando, mas a pressão para agilizar a concessão de licenças não cedeu. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é uma das mais insatisfeitas e vive uma guerra de bastidor com a titular do Meio Ambiente. De crise técnica, sobre os critérios para liberação das obras, a guerra virou política e dividiu o ministério.

Silas Rondeau, de Minas e Energia, também bateu de frente com Marina, ao dar "um ultimato" para a liberação dos projetos do Rio Madeira - até o fim de maio. Ela voltou a bater o pé, dizendo que nada será feito de maneira açodada. "Não tenho prazo", avisou, na Câmara.

OESP, 04/05/2007, Nacional, p. A9

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