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Povo Guarani promove retomada de terra no oeste paranaense

Cimi
30 de Mai de 2008

Um grupo com 22 famílias do povo Guarani, 74 pessoas, provenientes da terra indígena Awá Guarani do Ocoy, localizada no município de São Miguel do Iguaçú, realizou retomada de terra, há 15 dias, montando acampamento às margens do Rio São Francisco Falso, na divisa dos municípios de Santa Helena e Diamante do Oeste, na região oeste do estado do Paraná. A empresa Itaipú reivindica a posse da área retomada por ela estar sobre a margem de proteção do lago da hidroelétrica, que avançou sobre o rio em questão.

De acordo com um dos líderes dos Guarani no acampamento, Pedro Alves, a mobilização deve-se ao não cumprimento de promessas feitas por órgãos públicos para solucionar a problemática da super-povoação da área onde vivia desde 1982. A terra indígena Awá Guarani do Ocoy é formada por 230 hectares e nela residem mais de 600 Guarani. Constituída no início da década de 1980, após o alagamento de dezenas de aldeamentos Guarani, em função do enchimento do Lago da Hidroelétrica Binacional de Itaipú, esta terra, já reduzida na sua origem, quando abrigava cerca de 50 indígenas, é evidentemente insuficiente para a sobrevivência física e cultural dos Guarani que ali vivem atualmente.

Há anos, este povo luta para que suas terras tradicionais sejam reconhecidas e regularizadas na região. Até o momento, no entanto, nenhum Grupo Técnico foi constituído pela FUNAI a fim de proceder estudos neste sentido. Há mais de uma década, a FUNAI vem insistindo com a proposta de remanejar os Guarani do Ocoy para outras aldeias, algumas destas localizadas em terras do povo Kaingang, e com a compra de pequenas áreas de terra para os mesmos, alimentando, com isso, a ilusão de que solucionará o problema por estes meios. Essa fórmula foi mais uma vez proposta pelo Administrador Regional da FUNAI de Guarapuava ao líder Pedro Alves. De acordo com informações prestadas por Alves, o administrador, em visita ao acampamento Guarani, teria feito duas propostas. A primeira, de transferência da comunidade para uma aldeia Guarani na terra indígena Rio das Cobras, de posse tradicional Kaingang, localizada em Nova Laranjeiras, na região central do estado. A segunda consistiu na oferta de aquisição de uma fazenda de 130 alqueires destinada à comunidade localizada nas proximidades do acampamento. Ambas foram rechaçadas pelos Guarani.

O Ministério Público Federal de Foz do Iguaçu vem acompanhando o caso. Os Guarani reafirmaram a intenção de permanecerem no local até que haja respostas objetivas no intuito de regularizar as terras Guarani na região.

Organização Guarani

Em reunião realizada na Terra Indígena Awá Guarani do Ocoy, nos últimos dias 27 a 29, lideranças Guarani dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e do Paraná, debateram sobre o processo de organização e articulação do Povo no estado do Paraná e no Brasil, bem como, sobre a situação vivida pelos Guarani neste estado.

No documento final da reunião, encaminhado à diretoria da FUNAI e ao MPF, os Guarani deixam bastante evidente por qual caminho os órgãos públicos devem seguir a fim de se chegar a verdadeira solução para os problemas vividos por este povo no Paraná. Assim se manifestam "reivindicamos a criação imediata de Grupos Técnicos para: Identificação das áreas de ocupação tradicional contíguas à Terra Indígena Ocoy; identificação de áreas de ocupação tradicional no baixo Rio Iguaçu e baixo Rio Paraná (entre elas: Cataratas, São João Velho, Mboicy, Três Lagoas, Passokue, Taquatingay, Tamato, Porto Irene, Jacutinga, Machadinho, Itacorá, Santa Helena); identificaçao das áreas de ocupação tradicional em Guaíra e imediações do Rio Piquiri (entre elas: Tekoa Marangatu, Tekoha Porã e Karunbey); identificação da Terra Tradicional Tekoha Araguajú (em Terra Rocha); identificação da área de ocupação tradicional Tapera/Cavernoso, identificação da Terra Indígena Toledo; identificação da Terra Indígena Palmital (em União da Vitória); identificação da Terra Indígena Sambaqui (em Pontal do Paraná); identificação da Terra Indígena Pirakuára/Karugua (em Piraquara); identificação da Terra Indígena Cerco Grande (em Guaraqueçaba); identificação da Terra Indígena Superagui/Morro das Peças (em Guaraqueçaba)".

Guarapuava, PR, 30 de maio de 2008.

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