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Por trás do político, há sempre um financiador

Amazônia - www.amazonia.org
01 de Abr de 2010

O conflito envolvendo ruralistas e ambientalistas não é de hoje, e a avaliação que geralmente se faz é de que essa polarização é prejudicial à sociedade, já que não permite o avanço das medidas necessárias para proteger a Amazônia e combater as mudanças climáticas.

Entretanto, nos últimos dias, essa disputa atingiu um patamar que, longe de ser prejudicial, pode ajudar os cidadãos e eleitores a entenderem quais são os interesses por trás dos atores desse embate.

A disputa começou quando a organização SOS Mata Atlântica divulgou a criação de uma lista, denominada "Exterminadores do Futuro". A lista está em construção, e a organização propõe que a população indique nomes de parlamentares que têm votado contra medidas de proteção ambiental.

A ONG ainda não apresentou nomes, mas bastou o anúncio de que iria expor parlamentares para gerar reação na bancada ruralista, que organizau a "Frente Parlamentar Nacionalista", encabeçada pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB). Essa frente convocou financiadores da SOS Mata Atlântica - Bradesco, Volkswagen, Coca-Cola, Colgate-Palmolive e American Express - para depor na Comissão do Meio Ambiente e prestar esclarecimentos sobre seus interesses em financiar ONGs, seguindo a tese do deputado de que seriam interesses estrangeiros e com o objetivo de interferir na soberania brasileira na Amazônia.

O tiro saiu pela culatra, já que, ao reagir dessa maneira, os parlamentares abriram espaço para que os seus financiamentos de campanha fossem questionados. Na última terça-feira (30), um requerimento do deputado Ivan Valente (Psol) foi aprovado na Comissão do Código Florestal, convocando as empresas que financiaram as candidaturas da bancada ruralista para prestar esclarecimentos sobre seus interesses na mudança da legislação ambiental.

Como mostrou uma reportagem do portal de notícias O Eco, entre os financiadores dos congressistas da "Frente Parlamentar Nacionalista" constam multinacionais e empresas com participação de capital estrangeiro. Além disso, algumas das empresas têm sua imagem ligada à degradação do meio ambiente, histórico de desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica, conflitos sociais, invasão de terras indígenas e desrespeito à lei trabalhista.

Muitas dessas companhias têm interesse direto nos debates sobre o Código Florestal Brasileiro, já que uma flexibilização da lei facilitaria seus negócios. As empresas convocadas foram: Bunge Alimentos, Sadia, Klabin, Fibria (união da Aracruz e Votorantim Papel e Celulose), Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Caemi Mineração.

O debate de quem financia quem, sejam os alvos do dinheiro as ONGs ou parlamentares ruralistas, é fundamental para a sociedade brasileira. Afinal, se por trás de todo político existe um financiador, saber quem financia, e quais são os interesses que levam a cada proposta do Congresso Nacional, é a ferramenta decisiva para que o eleitor, em pleno ano de eleição, possa decidir para quem vai o seu voto. Também é uma oportunidade única para que os cidadãos e consumidores decidam por não comprar produtos de empresas que financiam a desregulamentação da legislação ambiental.

http://www.amazonia.org.br/opiniao/editorial_detail.cfm

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