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Policiais espancam indígena em Roraima

ISA
31 de Jul de 2000

Episódio integra quadro de escalada nos casos de violência cometida contra habitantes da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, que aguarda holomogação pelo governo federal.

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) divulgou, no último dia 26, que o índio Macuxi José Maria dos Santos, conhecido por Moacir, 45, morador da aldeia Maloquinha, na Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, foi espancado na delegacia da vila Surumu, que fica próxima à aldeia, no dia 13 de julho. Segundo relato da vítima, dois policiais militares, conhecidos por Leilton e Cabo Clóvis, o abordaram às três da tarde do dia 13, quando retornava para sua aldeia, após comprar mantimentos em Surumu. Segundo Moacir, os policiais militares queriam informações sobre roubo de gado na região, não acreditaram quando o Macuxi disse não ter conhecimento do roubo e o levaram para a delegacia "onde ele teria que dizer onde estava o gado".

Segundo o informe do CIR, na delegacia Moacir foi humilhado e brutalmente espancado com socos e pontapés para confessar um suposto crime. Às sete da noite do mesmo dia, depois de várias sessões de tortura, o indígena foi transferido para a delegacia do município de Pacaraima, onde foi jogado numa cela e novamente agredido por policiais civis, com dois chutes no tórax. Às nove da manhã do dia seguinte, sem ter se alimentado e com diversas hemorragias, Moacir foi conduzido por agentes da Funai para Boa Vista, capital do estado. Conforme diagnóstico do médico de plantão, o indígena deu entrada com politraumatismo em conseqüência de espancamento.

Pai de oito filhos, Moacir saiu às 11h30 da manhã do dia 26 da Unidade de Saúde, ainda apresentando problemas clínicos, entre eles amnésia e surdez parcial, ocasionada pela ruptura do tímpano do ouvido direito, conseqüência da agressão que sofreu. O CIR comunicou o crime à FUNAI, Ministério Público e Polícia Federal. No período que esteve internado as investigações não avançaram, pois o indígena não tinha condições físicas e psicológicas de falar sobre o ocorrido. A comunidade Maloquinha teme por novas agressões, pois os dois policiais continuam no destacamento de Surumu. Desde janeiro de 99, o policial Leilton responde inquérito por abuso de autoridade contra indígenas, porém nunca foi punido.

As agressões contra indígenas na região de Raposa-Serra do Sol, tanto por parte de policiais como de posseiros, aumentam a cada dia, segundo o CIR. "A demora no reconhecimento das terras indígenas em Roraima, principalmente a homologação da área Raposa Serra do Sol, gera uma escalada de violências, inclusive com várias mortes registradas nos últimos 20 anos", finaliza a nota da entidade.

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