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Plantas expoem poluicao de represa Guarapiranga

FSP, Cotidiano, p.C3
05 de Ago de 2005

Fenômeno é sinal de desequilíbrio causado por esgoto sem tratamento
Plantas expõem poluição da represa Guarapiranga
Afra Balazina
Da reportagem local
Responsável pelo abastecimento de 3,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, a represa Guarapiranga está infestada por diferentes tipos de planta. A mudança da paisagem é um sinal de desequilíbrio ecológico causado principalmente por esgotos não-tratados que chegam ao local.
O aumento de plantas e de algas tem preocupado entidades e especialistas. "Normalmente, conseguimos ver o fundo da represa. Agora, ela mais parece uma sopa de ervilha", disse o integrante da SOS Guarapiranga e engenheiro Ivan Whately, 64, sobre a cor esverdeada do reservatório. Ele mora perto da Guarapiranga desde 1967 e diz nunca ter visto a represa coberta por tantas plantas.
Segundo o especialista em recursos hídricos José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia, as plantas crescem onde há nitrogênio e fósforo, que podem vir dos esgotos não-tratados que chegam à represa ou com a remoção de sedimentos do fundo do reservatório causada por turbulências de frentes frias.
Ele disse que uma das espécies vegetais mais vistas na represa, a Pistia sp (conhecida como alface d'água), não era comum na área. "Isso não é um bom sinal. As plantas deterioram a qualidade da água porque aumentam a quantidade de nutrientes quando morrem e se decompõem", afirmou.
O gerente de qualidade das águas da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), José Eduardo Bevilacqua, disse que, embora o volume de água do reservatório esteja razoável, a falta de chuvas e a carga de poluentes trazida com os esgotos deixaram a Guarapiranga em pior estado do que no verão.
Ele esteve na represa ontem e mediu a concentração de oxigênio em 9,4 mm/l. O normal seria ter uma concentração entre 7 mm/l e 7,5 mm/l, e a máxima deveria ser de 8 mm/l. Essa maior concentração, segundo ele, indica que há muitas algas fazendo fotossíntese no local.
Para Bevilacqua, a presença de plantas e algas não impede a captação de água. "Mas, com certeza, se gastará mais para fazer o tratamento e tirar o gosto e o odor gerados pela alga."
Por isso, em sua opinião, é imprescindível dar continuidade às ações para ampliar a coleta e o tratamento de esgotos no local, que é rodeado por ocupações irregulares. Ontem, a Folha viu casas no Jardim Kagohara que jogavam o esgoto diretamente em um córrego que deságua na Guarapiranga.
Para José Carlos Leitão, gerente de produção da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o desequilíbrio ecológico da represa não é de agora. "Isso vem de longa data."
Segundo ele, a presença das plantas e algas não atrapalha o tratamento da água e é considerada um processo natural. "A represa não está em uma condição excelente, mas não existe nenhuma anomalia", disse.
Ele afirmou que, no caso das plantas, elas são retiradas apenas quando ficam muito próximas da área de captação da água. A Sabesp usa sulfato de cobre para combater as algas, que dão gosto e cheiro à água. "A quantidade de sulfato usada é pequena e controlada. O produto é o mesmo que se usa em piscinas para que elas não fiquem verdes", disse.
De acordo com Leitão, são três as espécies de plantas que mais povoam a represa. Uma é conhecida como erva-de-bicho, outra tem nome popular de orelha-de-rato e a última é a alface d'água. Em alguns casos, ele considera as plantas benéficas. "Elas depuram a água, consomem fósforo e nitrogênio", disse.
O gerente concorda que mais ações para possibilitar a coleta e tratamento dos esgotos são fundamentais na região. "A ocupação desordenada é a maior causa de tudo. O ideal é que tenhamos cada vez mais saneamento básico no entorno da represa", disse.

FSP, 05/08/2005, p. C3

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