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Petrobras prepara a exploracao de dois novos pocos em Urucu

GM, Energia, p.A8
21 de Jul de 2004

Petrobras prepara a exploração de dois novos poços em Urucu
Meta da empresa é substituir produção atual, que começa a declinar.

Mônica Magnavita
De Coari (AM)

A Petrobras começará, no próximo ano, a explorar dois novos poços de petróleo e gás em Urucu Sudeste, província petrolífera encravada na selva amazônica, a 650 quilômetros de Manaus. Estudos sísmicos realizados pela companhia revelam que o local poderá abrigar um novo campo, de proporção equivalente à atual área total de Urucu, maior reserva terrestre de gás natural do Brasil, com 77 bilhões de m³ de gás, e segundo maior produtor do País, atrás apenas do Rio. "As condições são semelhantes. Há indícios de que poderemos encontrar uma nova Urucu na mesma região", disse o gerente geral da Petrobras em Manaus, Sven Wolf, responsável pela Unidade de Exploração e Produção da empresa na Bacia do Solimões.

A estratégia, que demandará investimentos de US$ 15 milhões, vem no momento em que a produção de petróleo na região começará a cair, porque atingiu o pico da curva, hoje com 58,9 mil barris diários (120 mil barris de óleo equivalente) e 10 milhões de m³ de gás por dia. A província responde, portanto, por 4% da produção nacional de petróleo, de 1,5 milhão de barris/dia, com uma vantagem adicional: o petróleo de Urucu é o mais leve processado nas refinarias brasileiras, com classificação de 49 graus API.

Busca de novas áreas
Daqui para frente, no entanto, a rota será descendente e os próximos números já mostrarão uma queda na produção de Urucu - uma área de exploração, dentro do município de Coari, onde a Petrobras montou uma infra-estrutura em 10 mil hectares de terra no meio da selva, com 110 quilômetros de estradas - iniciada em 1988. Para atenuar essa redução, a Petrobras começará além disso, ainda este ano, a perfurar mais dois poços em Leste Urucu e outros dois no município de Silves, a 150 km de Manaus. Os investimentos totais serão de US$ 12 milhões, mas a Petrobras ainda não tem a produção estimada dos campos. A operação, segundo o gerente de Segurança e Meio Ambiente da província de Urucu, Jorge Amorim, ainda será submetida à Agência Nacional de Petróleo (ANP). "Essa será a nossa prioridade neste segundo semestre", disse.

Os planos da companhia na Amazônia incluem, também, a exploração de gás em mais seis campos no município de Carauari, a 200 quilômetros de Manaus, a partir de 2010. A decisão está condicionada à conclusão da construção do gasoduto Coari-Manaus, que levará o gás de Urucu até a capital do estado por um duto de 400 quilômetros de extensão ao longo do Rio Solimões.

O novo gasoduto, que demandará investimentos de US$ 525 milhões, de um total de US$ 1 bilhão aportado na região para a distribuição de gás natural, terá capacidade para transportar 10,5 milhões de m³ de gás natural por dia, sendo 5,5 milhões de m³ diários já em 2006, quando deve terminar a primeira fase das obras.

Antes disso, os projetos da Petrobras de expansão de produção de gás continuarão em compasso de espera. Não há meios de transporte para tirar o gás de Urucu, nem mercado para garantir demanda para o combustível. Atualmente, a maior parte do gás extraído junto com o petróleo nos três campos da região, cerca de 8 milhões de m³ diários, é reinjetado pela Petrobras por absoluta falta de opção. Do total produzido, 600 mil m³ são convertidos em 110 mil botijões de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP).

Substituição do óleo
Com o gasoduto, o gás deixará de ser reinjetado e passará a substituir o óleo combustível na geração de energia das usinas termelétricas da região. No ano passado, o subsídio para a equalizar o preço da energia em Manaus, mais elevado por conta da compra do diesel consumido pelas termelétricas, com o do resto do País, foi de R$ 1,3 bilhão. Esse custo gera um impacto nas contas de luz de 6,5%, que cairá para 2,5% com a substituição do óleo por gás.

O fornecimento regional aumentará a partir da construção de um outro gasoduto ligando Coari a Porto Velho, de 550 quilômetros de extensão, com capacidade de transporte de 2 milhões de m²/dia de gás natural e investimentos previstos de US$ 400 milhões. O gasoduto, cujas obras foram alvo de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público, com o argumento de que estaria muito próximo a áreas habitadas, fornecerá 1,4 milhão de m³ de gás para os estados de Rondônia e Acre.

A Petrobras conseguiu derrubar os entraves jurídicos e já tem em mãos a licença ambiental prévia para a construção dos dois gasodutos. "O que está pendente, agora, são os contratos de compra e venda do gás", disse Wolf.

Redução de impactos ambientais

As atividades da Petrobras no meio da floresta amazônica chegaram a provocar reações contrárias por parte de ONGs voltadas para a proteção do meio ambiente. Afinal, desmatar 400 quilômetros de floresta para a construção de um gasoduto até Manaus, além dos 10 mil hectares já utilizados para a infra-estrutura que dá suporte à produção da província de Urucu, dava motivos para preocupação.

A companhia, porém, argumenta com números que tem feito seu dever de casa. Investe anualmente 7% - R$ 12 milhões - de seu orçamento na produção de óleo e gás na região em preservação do meio ambiente, recebeu certificações ISO 9001 e 14001 e já anunciou a decisão de recompor as áreas desmatadas pelo gasoduto, como vem fazendo com os outros projetos.

"Vamos replantar toda a extensão do gasoduto com vegetação nativa", disse o gerente de Segurança e Meio Ambiente de Urucu, Jorge Amorim, que coordena o trabalho de 200 pesquisadores ambientais na província de petróleo. O replantio, no entanto, será feito com vegetação rasteira, e não com as espécies originais.

Não há dúvidas que as obras trarão impactos negativos para o ecossistema da região, conforme atestam os técnicos do ministério de Meio Ambiente, mas a empresa está preocupada em minimizar esses efeitos. Amorim explicou que a recomposição com vegetação menos densa evitará a penetração de raízes no gasoduto e a erosão no local. "É o que queremos evitar", disse Amorim. A empresa também tem projetos de fiscalização da área, a fim de impedir que a rota dos gasodutos abra as portas para atividades ilegais das madeireiras clandestinas da região.

Em Urucu trabalham 2,6 mil pessoas. Desse total, 2097 são terceirizados e 507 portam o crachá da Petrobras. Estes últimos, trabalham 14 dias consecutivos, numa jornada diária de 12 horas, e folgam outros 21 dias seguidos. A equipe terceirizada também trabalha 14 dias corridos - mas a folga é menor, de 14 dias.

GM, 21/07/2004, p.A8

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