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Petrobras abre fogo contra projeto de Lei do Gás

OESP, Economia, p. B6
25 de Mai de 2006

Petrobras abre fogo contra projeto de Lei do Gás
Para Gabrielli, legislação 'não adianta nada'; estatal quer assumir os riscos e investir na expansão

Renée Pereira, Agnaldo Brito

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, afirmou ontem que a criação da Lei do Gás não vai resolver os problemas de oferta de combustível no País. Segundo ele, em todos os países do mundo os investimentos em infra-estrutura para produção e distribuição do gás natural foram feitos por um grande investidor que apostou no setor e assumiu os riscos.

Os demais empreendedores apareceram apenas num segundo momento, depois que esses investimentos maturaram e deram retorno, explicou o executivo, que participou ontem, em São Paulo, do Fórum Estadão de Energia. "O Brasil pode querer fazer diferente e inovar, mas não acredito que uma lei vá resolver os problemas de investimentos do País."

Gabrielli negou que a estatal queira atuar sozinha nesse setor e afirmou que o Brasil é livre. "A Petrobrás vai assumir riscos e investir na expansão. O investidor que quiser pode fazer o mesmo." Hoje há dois projetos de lei para ser votado no Congresso, um do governo federal - que inclui a proposta do deputado Luciano Zica (PT-SP) - e outro do senador Rodolfo Tourinho (PFL-BA). Este último propõe o compartilhamento da rede de gasodutos, mas a Petrobrás é contra.

O presidente da estatal afirmou também que até 2010 a produção de gás será da ordem de 110 milhões de metros cúbicos (m3) por dia, sendo 30 milhões de m3 importados da Bolívia e 69 milhões de m3 de produção nacional. "Teremos de encontrar alternativas para substituir os 11 milhões de m3 adicionais que seriam comprados da Bolívia." Por esse motivo, garantiu apenas o suprimento da demanda contratada e não da que virá nos próximos anos.

Ele ressaltou ainda que é extremamente importante investir na expansão da malha de gasodutos para abastecer o País de forma eficiente e listou cerca de sete projetos prioritários para interligar a rede nacional. Os investimentos previstos são da ordem de US$ 6,7 bilhões até 2009.

Sobre o supergasoduto que poderá interligar a América do Sul, Gabrielli foi sutil. Disse que do ponto de vista da integração futura é perfeito, mas ponderou que todos os países produtores terão de estar ligados, entre eles Venezuela, Peru, Bolívia e Brasil. Segundo ele, só assim fica "eliminado o risco de uns quererem mandar nos outros".

A reportagem do Estado apurou que Brasil e Petrobrás querem que o governo venezuelano diga o tamanho exato de suas reservas. Na projeção inicial, o gasoduto apenas se viabilizaria com um volume de 150 milhões de metros cúbicos por dia, cinco vezes as dimensões do gasoduto Bolívia-Brasil, dimensionado para 30 milhões de metros cúbicos por dia.

Gabrielli evitou comentar as negociações do preço do gás natural boliviano. Mas descartou a possibilidade de a Bolívia impor reajuste unilateral.

Problema é o fim do monopólio

Dois projetos de Lei do Gás tramitam hoje no Congresso, um do senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA) e outro do governo. Já houve tentativas de unificar os dois, mas sem êxito. Tourinho redefine a legislação do setor, principalmente o transporte de gás natural por gasodutos. A principal novidade é a adoção de licitações públicas para novas concessões de gasodutos, nos moldes da concessão de linhas de energia elétrica. A legislação atual não prevê licitações públicas, apenas um pedido de autorização de construção e operação expedida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O texto do senador desagrada à Petrobrás, que lançou uma cartilha para convencer os parlamentares de que as mudanças seriam prejudiciais ao desenvolvimento do mercado. Tourinho diz que a estatal se opõe porque perderá o monopólio na área de transporte de gás. Um dos principais pontos de discórdia é a abertura de gasodutos a terceiros.

OESP, 25/05/2006, Economia, p. B6

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