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Pedaladas na água

FSP, Editoriais, p. A2
13 de Ago de 2015

Pedaladas na água

O sistema Cantareira, que já abasteceu de água metade dos moradores da Grande São Paulo e hoje responde por um quarto, está há mais de um ano no volume morto. Com a falta recente de chuvas, seu estado volta a preocupar.
Mesmo para uma época de estiagem, a precipitação decepciona. As últimas chuvas dignas do nome que caíram sobre a bacia de captação do Cantareira ocorreram nos dias 25 e 26 de julho.
É grande o impacto sobre a vazão que aflui ao sistema. Neste mês, entraram no Cantareira em média 6.600 litros por segundo, pouco mais de um quarto do normal para agosto (24 mil l/s).
No final de julho, o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) e a Agência Nacional de Águas (ANA) deram autorização para a estatal paulista Sabesp aumentar a captação dos atuais 13,5 mil l/s para 14,5 mil l/s. A condição é que a empresa reduza drasticamente a retirada de setembro a novembro.
A simples aritmética permite constatar que o ritmo é insustentável: entram 6.600 l/s e saem 14,5 mil l/s. A licença para pedalar mais rápido no Cantareira serve para impedir que a bicicleta do abastecimento se desequilibre no Alto Tietê, sistema de produção vizinho cujo nível cai de maneira acentuada.
Depois de ser mobilizado para socorrer o Cantareira, o Alto Tietê aguarda agora um ajutório do sistema Rio Grande, braço menos poluído da represa Billings. Mas ainda faltam 25% para concluir a obra de interligação, o que havia sido prometido para maio pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
As providências tomadas pela Sabesp e pela administração tucana -sobretaxa, bônus, transferências entre represas e racionamento via redução de pressão- afastaram por ora o trauma de um rodízio geral. Mas é imperioso assinalar que não passam de paliativos.
Basta dizer que, se a precipitação no Cantareira ficar 25% abaixo da média histórica, índice que pode se tornar a nova norma, demoraria ainda quase sete meses para recompor só o volume morto.
Enquanto isso, uma parcela injustiçada da população chega a ficar sem água dezenas de horas, ou dias, porque a pressão reduzida dificulta o abastecimento.
A questão só se resolverá de forma estrutural quando as perdas físicas na rede de distribuição forem reduzidas ainda mais e quando a capacidade de armazenamento for ampliada, o que inclui despoluir represas como a Billings e recuperar matas em bacias de captação.

FSP, 13/08/2015, Editoriais, p. A2

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/229291-pedaladas-na-agua.shtml

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