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Pe no acelerador

Epoca, Amazonia, p.49
20 de Set de 2004

Amazônia
Pé no acelerador
O asfalto da Cuiabá-Santarém pode chegar mais rápido que as medidas para evitar desastre ambiental
Gabriela Michelotti

Depois de 30 anos de espera, o asfalto vai chegar aos 756 quilômetros de terra (quase sempre lama) da BR-163, também conhecida como Cuiabá-Santarém. O trajeto total de 1.765 quilômetros vai se transformar no maior escoadouro de soja do Centro-Oeste brasileiro para o mercado internacional. O relatório de impacto ambiental favorável foi concluído pelo Ibama em julho. O encerramento das consultas públicas em seis cidades de Mato Grosso e do Pará cumpre as últimas exigências para que o órgão conceda o parecer técnico para a realização da obra, que deverá começar em maio do ano que vem. Otaviano Pivetta, prefeito de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, e produtor rural, articula empresas interessadas em formar um consórcio para a pavimentação. Mas a estrada corta uma região de 974.000 quilômetros quadrados de floresta bem preservada. Teme-se que traga o típico padrão amazônico de desenvolvimento predatório, com retirada ilegal de madeira, substituição de floresta por pastos pouco produtivos, expulsão de moradores locais e aumento da prostituição.
Para evitar isso, um grupo de trabalho de formado 15 ministérios promete para outubro um plano com ações emergenciais para promover o desenvolvimento sustentável da área, combatendo a grilagem de terras e garantindo a segurança pública. Um dos projetos é criar, ao longo da estrada, unidades de conservação e áreas destinadas a concessões florestais, onde madeireiras com certificação ambiental manejariam a mata em pé. Isso geraria empregos e renda para a região. Mas, para tanto, é preciso impedir que os grileiros e madeireiras ilegais depenem a floresta pública antes.
Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já vêm sendo tomadas medidas como a fiscalização na Terra do Meio (região de 8 milhões de hectares situada entre o Rio Xingu e o Tapajós, no Pará), a instalação de bases operacionais do Ibama nas áreas mais críticas e a regularização fundiária promovida pelo Incra. Mas, para muitas ONGs, o governo é lento demais. "Mesmo sem possuir títulos legais, agências intermediárias em Itaituba e Novo Progresso já venderam todos os lotes de terra a 30 quilômetros ao longo da rodovia", afirma Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra. "Todos os grileiros da região correram para lá por causa da valorização da terra ao longo da rodovia, com o conseqüente aumento do desmatamento e dos assassinatos", conta Smeraldi. No final de julho, Bartolomeu Morais da Silva, delegado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Altamira, foi morto em Castelo dos Sonhos com 12 tiros. O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia afirma que ele estava marcado para morrer por defender o direito de pequenos produtores à terra.

Época, 20/09/2004, p. 49

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