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ONU joga a toalha

O Globo, Ciência, p. 38
07 de Dez de 2011

ONU joga a toalha
Pressionado por maiores emissores, secretário-geral diz que acordo na COP 17 é quase impossível

O impasse entre as maiores potências globais na 17ª Conferência do Clima é tamanho que até a ONU, organizadora do evento, parece ter jogado a toalha. Ontem, na abertura formal das negociações, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, foi enfático: um acordo com valor legal para reduzir as emissões de CO2, ambição maior do evento, "está fora de alcance". Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff defendeu a renovação do Protocolo de Kioto, cuja validade expira no fim do ano que vem. Trata-se do único acerto internacional climático válido atualmente com força de lei.
- Um acordo global com valor de lei pode não ser possível em Durban - admitiu Ki-moon. - Mas esta deve ser a nossa prioridade.
Dilma ressaltou que o Brasil tomou a iniciativa, em 2009, de reduzir suas emissões de 36 a 39%.
- Nós estamos vendo uma situação um tanto problemática nessa área, do ponto de vista das decisões tomadas em Durban - afirmou. - Esperamos que, de fato, haja uma decisão mais adequada sobre a questão do clima. Mas, enquanto isso, nós temos de tomar as nossas próprias iniciativas. Gostaríamos muito que essa conferência aprovasse a segunda rodada do Protocolo de Kioto. Essa é a posição do Brasil e nós consideramos que isso seria essencial.
Europa pressiona China, Índia e EUA
Em reuniões fechadas, China, EUA e Índia, os três maiores emissores de gases-estufa, recusaram-se a discutir um novo acordo climático. Enquanto isso, a União Europeia lidera os esforços para manter Kioto vivo.
Além da sobrevida ao protocolo, a Europa pressiona pela elaboração de um novo pacto, válido a partir de 2015. A partir dele, as nações em desenvolvimento, lideradas pela China e livres de qualquer obrigação formal no acordo em vigor, teriam também metas a cumprir.
- Gostaríamos de ver as pendências concluídas assim que fosse possível - assegurou Connie Hedegaard, comissária do clima da União Europeia, quando perguntada se aceitaria que as discussões fossem adiadas para 2015. - Queremos um acordo legal.
Para apoiar uma nova fase de Kioto, a Europa exige que outros grandes emissores assinem um compromisso. Esses países, em dado momento, concordariam em ter a liberação de gases-estufa monitoradas por força de lei. Sem isso, os esforços europeus para cortar 11% do carbono que emite seriam insuficientes para salvar o planeta.
China, EUA e Índia são responsáveis por quase metade de todas as emissões de CO2. O trio quer evitar qualquer acordo legal até 2015. Seria o ano seguinte a um novo relatório científico global, que mediria a eficácia das emissões de cada país. Um novo pacto, assim, entraria em discussão e poderia valer apenas a partir de 2020.
O adiamento das decisões entra em conflito com pesquisas científicas. Segundo os climatologistas, as emissões de gases-estufa devem atingir seu pico e começar uma trajetória de queda já a partir de 2020, ou o planeta enfrentará consequências devastadoras. Entre elas, o desaparecimento de estados insulares e prejuízos sem precedentes a diversas culturas agrícolas.
Embora a China tenha elaborado metas domésticas para o corte de carbono, seu governo ressalta que não pode ser culpado por gerações anteriores de poluição industrial. O país deu, na semana passada, sinais de que estaria preparado para discutir acordos de valor legal, embora tenha se esquivado de dizer quando o faria.
A Índia também se posicionou como um país alçado tardiamente ao desenvolvimento industrial - e, portanto, com uma menor carga de culpa pelo efeito estufa.
- Acreditamos fortemente na necessidade de um acordo legal após revisar, em 2015, as ações necessárias - ressaltou o ministro do Meio Ambiente do país, Jayanthi Natarajan.
Os EUA, por sua vez, querem ganhar tempo até resolver problemas internos. Estima-se que a Casa Branca não tomará nenhum passo ousado nas negociações antes da eleição presidencial no ano que vem.
- Estamos abertos a discutir um processo que leve a um acordo legal, seja ele qual for, que leve a 2020 - anunciou Todd Stern, enviado americano à conferência.

O que emperra as negociações

FALTA DINHEIRO: Os países em desenvolvimento querem recursos para abandonar os combustíveis fósseis e mudar sua matriz energética. Um fundo global de US$ 100 bilhões foi aprovado em Cancún. Mas a Europa, em plena crise econômica, não tem condições de ajudar. Os EUA e países emergentes tampouco querem desacelerar suas economias, sustentadas principalmente por carvão e petróleo.

FALTA UMA LEI: O único acordo com força legal é o Protocolo de Kioto, sem qualquer efeito para os três maiores emissores de carbono: os EUA não são signatários, e Índia e China, por serem países em desenvolvimento, não têm metas a cumprir. Nenhum deles quer mudar a situação atual antes de 2015.

O Globo, 07/12/2011, Ciência, p. 38

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