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Lideranças Guarani Kaiowá se reunem com Chefes de Estado para apresentar denúncia internacional sobre violações de direitos humanos

Índio Cidadão? - www.indiocidadao.org
Autor: Rodrigo Arajeju
27 de Jul de 2015

Membros do Conselho Aty Guasu atenderam ao convite da Cúpula da Consciência sobre o Clima, realizada em Paris no último dia 21, e fizeram ecoar o grito de socorro do Povo Guarani Kaiowa durante viagem à Europa. Participaram de encontros oficiais com chefes de Estado e audiências com autoridades na França e em Genebra, no escritório das Nações Unidas. Foram protocolados documentos contendo graves denúncias sobre a crise humanitária enfrentada pelos Guarani Kaiowa no estado Mato Grosso do Sul.

Líderes políticos, religiosos e influentes formadores de opinião de diferentes continentes, além de figuras importantes que atuam na proteção do planeta Terra como a ativista Vandana Shiva, se mostraram extremamente preocupados com essa situação. Os discursos de Valdelice Veron e Natanael Caceres estão disponíveis na íntegra em vídeo (https://youtu.be/DbFoSdRAyBo) postado pelo Conselho Econômico, Social e Ambiental da República Francesa, instituição que sediou o encontro. Confira também a lista completa das personalidades participantes da Cúpula (http://www.la-croix.com/content/download/1359628/43287851/version/1/fil…).

As lideranças manifestaram esperança de que algo de concreto aconteça em favor das demarcações e homologações das terras indígenas no Mato Grosso do Sul. Acreditam que a repercussão do clamor Guarani Kaiowa ecoará em todos os países representados no encontro, a partir do indicativo de difusão dessa denúncia internacional pelos participantes reunidos na França. Durante a Cúpula, também tiveram audiência com o príncipe de Mônaco, Alberto II (entre as lideranças na foto abaixo), no intuito de divulgar a grave situação do Povo Indígena que mais sofre com a violação de direitos humanos no Brasil.

Os membros do Aty Guasu receberam convite para jantar oficial com François Hollande, realizado no Palácio do Eliseu. Em entrevista concedida após o encontro na sede da presidência, Valdelice Veron demonstrou sua indignação com o descaso das autoridades brasileiras: "Só o fato de ele [Hollande] nos receber, já foi muito importante. Nós fomos recebidos pelo presidente francês, jantamos na mesa dele, algo que presidência nenhuma fez com nenhum indígena, nem do Mato Grosso do Sul, nem do Brasil. Nunca somos recebidos pela presidente Dilma ou outras pessoas que esperávamos que nos acolhessem".*

Autoridades políticas da França, principalmente alguns senadores e deputados, acompanharam as lideranças indígenas a todo o momento e disseram estar indignados com a situação de seu Povo. Ainda se comprometeram a intervir junto ao Governo brasileiro para solicitar a adoção de diligências urgentes capazes de resolver a crítica situação de conflitos no Mato Grosso do Sul, que se agrava nos últimos anos. Os representantes do Aty Guasu indicaram que o único meio será a demarcação de todas as terras tradicionais dos Povos Originários nesse estado.

Durante o depoimento no Parlamento francês, Valdelice afirmou que enfrentará grande risco ao regressar ao Brasil por ser porta-voz dessas denúncias no exterior. Se reuniram com Michel Forst (foto abaixo), secretário geral da Comissão Nacional de Direitos Humanos da França e relator especial da ONU sobre defensores de direitos humanos. Ele se prontificou a comunicar o Governo Federal que deverá se responsabilizar diretamente por qualquer atentado cometido contra os mesmos, assim como qualquer liderança Guarani Kaiowa cadastrada no programa de proteção da Secretaria de Direitos Humanos. Valdelice Veron integra a lista de proteção à vítimas e testemunhas ameaçadas desse programa da Presidência da República, contudo, segue sem proteção efetiva do Estado.

Em Genebra, participaram de audiência com a relatora especialda ONU sobre os direitos dos Povos Indígenas no escritório europeu das Nações Unidas. Realizaram convite formal para que realize missão de campo nas retomadas do Povo Guarani Kaiowa. Ela prontamente se comprometeu em empreender esforços para viajar ao Mato Grosso do Sul, o mais rápido possível. Também se reuniram com a representante do Brasil junto à ONU em Genebra, a embaixadora Regina Dunlop. Por último, travaram encontro com o Rei da Noruega, Haroldo V.

Os indígenas afirmam que será impossível o Governo Federal continuar insensível a situação do seu Povo após toda essa repercussão. Ao finalizar, relataram grande cansaço devido ao esforço para alcançar as mais diversas instâncias políticas nacionais da França e internacionais da ONU, assim como comparecer em entrevistas para importantes emissoras de rádio e televisão de diferentes países, no período disponível para a viagem de incidência na Europa.

A data de regresso ao Brasil será mantida em sigilo, por questões de segurança. Quando se deslocavam para o embarque da viagem internacional, foram perseguidos por homens armados em uma caminhonete na saída do Tekoha Takuara. Valdelice Veron recebe ameaças de morte constantemente. Em março de 2015, sofreu agressão de um pistoleiro quando apoiava lideranças do Aty Guasu no território da retomada do Tekoha Kurusu Amba. A liderança teme por sua vida quando voltar ao Mato Grosso do Sul, indicando que será renovado o pedido de medidas eficazes de proteção de sua integridade física junto à Secretaria de Direitos Humanos.

Texto de Rodrigo Arajeju, com relatos e fotos enviados por Valdelice Veron e Natanael Caceres.

*Fonte da entrevista de Valdelice: http://www.brasil.rfi.fr/geral/20150723-lideres-guarani-kaiowa-jantam-c….

http://indiocidadao.org/2015/07/27/liderancas-guarani-kaiowa-se-reunem-…

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