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ONG polemiza sobre impacto do desmatamento no clima

OESP, Vida, p. A36
06 de Dez de 2007

ONG polemiza sobre impacto do desmatamento no clima
Derrubadas na Amazônia até 2030 emitiriam 10 vezes mais CO2 que sua redução com Kyoto

Cristina Amorim

Bali - Uma organização não-governamental tenta elevar o tom na discussão sobre o papel da floresta na crise climática com dados científicos. Revisão encomendada pela ONG WWF ao ecólogo Daniel Nepstad mostra que metade da Amazônia estará desmatada até 2030, com uma emissão acumulada de carbono de 15 bilhões a 25 bilhões de toneladas.

Para efeito de comparação, o Protocolo de Kyoto conseguirá evitar a emissão de 2 bilhões de toneladas. A floresta "emite" gases do efeito estufa quando a vegetação - que tem carbono estocado na forma de folhas, tronco e raízes - é derrubada e queimada.

A informação é parte de um relatório lançado hoje na 13ª Conferência do Clima (COP-13) na Indonésia. "É uma revisão científica, para fomentar o debate sobre o papel da Amazônia nas mudanças climáticas", afirma Karen Suassuna, do WWF-Brasil.

Nepstad, pesquisador do Centro Woods Hole de Pesquisa, reuniu dados seus e de outros pesquisadores sobre desmatamento, seca, queimadas e mudanças climáticas. "Sem a conservação da floresta, será difícil manter o clima estável. Da mesma forma, sem manter o clima estável, será difícil conservar a floresta."

PONTO SEM VOLTA

Ele diz, por exemplo, que a Amazônia está próxima de chegar ao "ponto sem volta", quando mudará o equilíbrio ecossistêmico e climático que mantém o bioma como ele é hoje. "Pode haver um novo regime de chuvas em dez anos. A savanização, em apenas 20 anos, não no fim do século."

O pesquisador cita, por exemplo, indicações levantadas em Rondônia de que a fumaça concentrada das queimadas pode inibir chuvas. Também fala de projeções climáticas que indicam que o aquecimento global pode levar uma parte da Amazônia a se tornar algo parecido com o cerrado.

Para o climatologista José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o relatório beneficia alguns dados em detrimento de outros, o que não pode ser considerado como uma revisão. "Pelo menos em relação à parte climática, ele é bastante fraco e simplista", afirma.

Marengo afirma que certas informações apresentadas tratam das mais pessimistas situações que a Amazônia pode encarar - e que tais modelos ainda não são 100% certos sobre o impacto das mudanças climáticas na floresta, e vice-versa. "Não podemos, por exemplo, extrapolar o caso das queimadas em Rondônia, que atrasam as chuvas, para toda a Amazônia."

Nepstad afirma que não favoreceu o lado mais alarmista. "Em alguns aspectos, acho que o relatório é até conservador, como na tendência de desmatamento. E nem tudo é negativo: lá (no texto), por exemplo, está que 20% das áreas desmatadas foram abandonadas e começam a se recuperar."

DIVISÕES

O embaixador extraordinário para Mudança do Clima, Sergio Serra, afirmou ontem que há divisões internas no governo federal sobre a aplicação de metas de controle de desmatamento. "A questão de ter metas não está resolvida", disse. "Para se comprometer, é preciso haver factibilidade."

O governo tem comemorado a redução, durante três anos, da taxa de desmatamento da Amazônia. A derrubada da floresta, entre agosto de 2006 e julho de 2007, deve ficar em torno de 9.600 quilômetros quadrados.

OESP, 06/12/2007, Vida, p. A36

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