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Onda verde

Veja SP, Ambiente, p. 12-16, 18
11 de Mai de 2005

Onda verde
Com a criação de novas áreas nas zonas Norte e Leste, a ampliação do Parque Ecológico do Tietê e do Villa-Lobos e o plantio de 4 000 árvores em toda a extensão da Marginal Tietê, a cidade deve ganhar 1,9 milhão de metros quadrados de vegetação, o equivalente a 230 campos de futebol

Lúcia Monteiro

Quem desembarca no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e segue em direção a São Paulo fica chocado ao chegar à Marginal Tietê. Não há placas de boas-vindas, mas favelas, congestionamento, asfalto precário, pichações e um cheiro de esgoto que beira o insuportável. Esse sempre foi um péssimo cartão de visita da cidade. Os paulistanos que passaram por ali nos últimos meses devem ter percebido, no entanto, que o cenário, aos poucos, entrou em transformação. Depois das obras para evitar alagamentos no Rio Tietê, iniciadas há três anos e com conclusão programada para setembro, 4.000 árvores e 5.000 arbustos estão sendo plantados nas margens. Trata-se de um jardim estreito, porém longo. Terá uma extensão de 24,8 quilômetros, da Penha, na Zona Leste, ao Cebolão, na Zona Oeste. A nova área verde na Marginal Tietê compreende 298.000 metros quadrados, o equivalente a 36 campos de futebol.
Não é a única boa notícia para o meio ambiente da cidade. Até o fim do ano que vem, por iniciativa do governo do estado, São Paulo deve ganhar 1,9 milhão de metros quadrados de vegetação, mais do que um Parque do Ibirapuera. Além da Marginal, a conta inclui a ampliação do Parque Ecológico do Tietê e do Parque Villa-Lobos e a transformação da Febem do Tatuapé em um centro de esportes, previstas para 2006. Entra ainda no cálculo o Parque da Juventude, que funciona no lugar do antigo Complexo Penitenciário do Carandiru e deve ser expandido até 2006. "Faltam opções de lazer barato na cidade", afirma o governador Geraldo Alckmin, idealizador do projeto integrado de novos parques. "Nossa proposta é que esses lugares sejam a praia dos paulistanos."
A prefeitura também aderiu à onda verde. No ano passado, foram inaugurados sete parques, com 1 milhão de metros quadrados. "Estamos tentando viabilizá-los para que tenham equipamentos, funcionários e previsão orçamentária", diz o secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge. "Nossa meta é plantar 200.000 árvores por ano." Esse projeto está no início. Nas últimas semanas, foram doadas 787 mudas (quem quiser adotar uma pode pedir de graça no 3372-2222). Os planos da prefeitura incluem dois novos espaços, em Parelheiros e na Vila Maria, a ampliação do Parque do Carmo e a implantação de jardins ao longo de córregos, com o objetivo de prevenir enchentes. "Para que os planos dêem certo, toda a sociedade precisa se engajar", ressalta Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica. "O cidadão deve cuidar de cada praça como se ela fosse o quintal de sua casa."
Assim como reclamar do trânsito caótico e do ar poluído, dizer que São Paulo tem carência de áreas verdes tornou-se lugar-comum. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, a vegetação total do município não é tão pequena. Existem na capital quarenta parques municipais, doze estaduais e 11,2 milhões de metros quadrados de praças de grande porte. Juntos, ocupam 140 milhões de metros quadrados – ou um décimo da superfície da cidade. A proporção chega a 13 metros quadrados por habitante. Não é pouco. Há 14 metros por habitante em Paris, por exemplo. É verdade que, se não forem consideradas as áreas verdes localizadas nos limites do município, como os parques da Cantareira, do Jaraguá e da Guarapiranga, o índice de São Paulo cai para escassos 4,8 metros por habitante. "Nenhuma metrópole mundial desse porte tem um cinturão verde maior do que o nosso", afirma o biólogo Marcelo de Oliveira, autor do livro Verde Perto – A Natureza ao Redor de São Paulo. "Essas matas são uma espécie de ar-condicionado: elas estabilizam a temperatura e garantem umidade."
O grande problema é a má distribuição da cobertura vegetal. Bairros como Vila Nova Conceição, Jardim Europa, Alto de Pinheiros e Butantã são bem servidos de verde, enquanto o centro e a periferia são quase desérticos. "Na Mooca, que tem muitos galpões com teto de zinco e pouca sombra, a diferença da sensação de temperatura é enorme", diz Paula Santoro, do Instituto Pólis. Ali, os termômetros chegam a registrar temperaturas até 10 graus mais altas que na Serra da Cantareira. Uma das vantagens do plano do governo estadual vai justamente nessa direção: cria parques em regiões áridas como o Belém, onde está a Febem do Tatuapé, a Vila Guilherme, lugar do extinto Carandiru, e a Marginal Tietê.
De todos os projetos em andamento, o do Tietê é o de maior vulto. As obras estão orçadas em 850 milhões de reais – 75% desse valor tem financiamento do Banco do Japão, com prazo de pagamento até 2027 e juros de 1,8% ao ano. A função principal é evitar alagamentos. Para isso, o leito do rio ganhou mais 2,5 metros de profundidade e sua largura média na superfície passou de 50 para 80 metros. As tubulações que levam a água da chuva e de córregos foram reformadas, e as margens receberam revestimento de concreto. Durante as obras, 120.000 pneus e 11.000 toneladas de lixo foram retirados da água. Barcaças continuarão percorrendo o rio para recolher detritos. De lá, rumarão por uma hidrovia até aterros na região de Santana do Parnaíba. "Tal tipo de poluição só pode ser evitado com educação ambiental", diz o governador Alckmin. O Tietê sofre igualmente de outro tipo de sujeira. Milhares de litros de esgoto nele são lançados todos os dias, problema para o qual não há solução rápida.
Perto da complexidade da despoluição e do alargamento do rio mais importante da região metropolitana, o paisagismo parece apenas um detalhe. Não é. O caminho de jardins interligados desde o Parque Ecológico do Tietê, no extremo leste, até o Jaguaré, onde começa o Projeto Pomar – jardim implantado há seis anos nas margens do Rio Pinheiros –, vai melhorar o astral da cidade. Claro que as marginais ainda estão longe de ser o bulevar sonhado em 1929 pelo engenheiro Prestes Maia, prefeito da cidade por vários mandatos entre as décadas de 30 e 60. Mas a melhora na paisagem já é uma esperança concreta para todos os paulistanos.

Marginal Tietê
Como está O leito do Rio Tietê foi aprofundado em 2,5 metros e alargado para 80 metros em média. Suas margens foram revestidas com concreto projetado. Cerca de 80% das obras já estão prontas
Como vai ficar Haverá duas faixas de jardim nas laterais, junto às marginais. Estão sendo plantados 4 000 árvores, 5 000 arbustos e 298 000 metros quadrados de gramado
Custo 850 milhões de reais, com financiamento do Banco do Japão
Data prevista Setembro de 2005
Parque da Juventude
Como está No local que era ocupado pela Casa de Detenção, no antigo Complexo Penitenciário do Carandiru, há uma pista de skate, dez quadras poliesportivas, bosque e pista para caminhada. A área pronta compreende 240 000 metros quadrados
Como vai ficar Dos quatro pavilhões que ainda estão de pé, dois serão implodidos. Os restantes devem receber uma reforma para abrigar um centro de informática, uma escola técnica, um espaço cultural e um instituto de promoção da saúde, dedicado à medicina preventiva, às técnicas alternativas e ao adolescente
Custo O governo já investiu 13,5 milhões de reais no local. A última etapa do projeto está em fase de licitação e deve custar cerca de 40 milhões de reais
Data prevista Primeiro semestre de 2006
Público 43 000 pessoas por mês

Parque Villa-Lobos

Projeto de ampliação do Villa-Lobos (área demarcada à direita): 400 000 metros quadrados a mais
Como está Tem 350 000 metros quadrados, pista para caminhada com 3 quilômetros, ciclovia de 1,6 quilômetro, sete quadras de tênis, quatro campos de futebol, quatro quadras poliesportivas, uma de futsal e uma para vôlei de praia. Há 750 vagas no estacionamento
Como vai ficar Ocupará uma área total de 750 000 metros quadrados, até a Marginal Pinheiros. Entre as novidades previstas estão um novo bosque, um playground e uma praça para apresentações musicais ao ar livre. O estacionamento ganhará 400 vagas
Custo 7 milhões de reais. Parte do dinheiro é da iniciativa privada
Data prevista Início de 2006
Público 250 000 pessoas por mês

Parque Ecológico do Tietê
Como está Numa área de 14 milhões de metros quadrados, há três piscinas, dezessete quadras de futebol e 5 quilômetros de pista para caminhada
Como vai ficar Ganhará mais 700 000 metros quadrados
Custo 6 milhões de reais. No ano passado, já foram empregados 2,5 milhões de reais em uma reforma em parceria com a iniciativa privada
Data prevista Fim de 2006
Público 45 000 pessoas por mês

Veja SP, 11/05/2005, Ambiente, p. 12-16, 18

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