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Obra do Rodoanel cria estradas na Represa Billings

OESP, Metrópole, p. C11
23 de Nov de 2007

Obra do Rodoanel cria 'estradas' na Represa Billings
Manancial será prejudicado, afirmam ambientalistas; técnica estava prevista em relatório ambiental, diz Dersa

Eduardo Reina

Uma parte da Represa Billings, em São Bernardo, foi aterrada para as obras do Trecho Sul do Rodoanel. Um braço da represa na região do Bororé ganhou duas estradas paralelas de 200 metros de comprimento cada uma, ligando o continente e uma ilha, por onde passará um guindaste bate-estacas e já trafegam caminhões com material para construção de uma ponte de 1.800 metros de extensão. Para ambientalistas, o impacto no manancial é irreversível, avaliação contestada pelo Estado.

A ilha na Billings vai virar apoio para os pilares da ponte, de 14 metros de altura. O projeto da empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) previa 40 metros entre os pilares da ponte - distância ampliada depois para 100 metros. O objetivo, segundo o engenheiro da Dersa José Fernando Bruno, responsável pelo licenciamento ambiental do Rodoanel, é diminuir o impacto no fundo da represa, repleto de lodo proveniente de 30 anos de bombeamento das águas do Rio Pinheiros.

As fundações da ponte, segundo Bruno, serão construídas com estacas pré-moldadas. Para fixá-las, será usado um bate-estacas flutuante, acoplado a uma balsa. Os dois trechos aterrados, afirma o técnico, foram feitos porque ali não há condições de usar as balsas. As estradas devem ser removidas após a conclusão da obra. O prazo para construção é de 30 meses e a Dersa promete monitorar 24 horas a qualidade da água - serviço que ainda não está sendo realizado.

O método, tradicional, requer uma base maior de apoio no solo - nesse caso, no fundo da represa. É diferente do método de balanço sucessivo, em que a construção pode ser feita pelo alto da estrutura: módulos pré-moldados são acoplados um a um por um mecanismo hidráulico. Ele foi utilizado, por exemplo, nas obras da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes, em pleno Parque Estadual da Serra do Mar.

"Esse método de balanço sucessivo teria um impacto menor sobre a represa", afirma o professor Mário Isa, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru. O problema, diz, é que ele demandaria estudos de viabilidade técnica e econômica e a obra levaria mais tempo.

A Dersa diz que o aterramento está previsto no Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no Meio Ambiente (EIA-Rima) e foi aprovado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema). Mas os ambientalistas não estão convencidos. "Ao cercar um trecho da represa, toda sua dinâmica é afetada. Ficar 30 meses desse jeito vai aumentar o assoreamento, a formação de algas azuis e a concentração de nutrientes e poluentes orgânicos, comuns nesse trecho da Billings", alerta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.

Prejuizos

Segundo Malu, o edital de licitação privilegiou o menor preço. "É a relação custo-benefício. O menor custo em menor tempo de obra. E isso gera enorme impacto ambiental", afirma. "Quando daqui a alguns anos alguém abrir a torneira em casa e vir que a qualidade da água não é boa, verá o custo de se apostar em obras desse porte sem o devido cuidado ambiental."

"As medidas propostas não serão suficientes para compensar o que está sendo devastado", afirma Carlos Bocuhy, conselheiro do Consema e diretor do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam).

Bocuhy mencionou um outro aterramento provocado pelas obras do Trecho Sul, na várzea do Rio Embu-Mirim, num ponto próximo da Rodovia Régis Bittencourt, em Embu. "Nesse trecho não passa a pista do Rodoanel, mas a área é usada como bota-fora. São jogados terra e entulho no local. Isso vai provocar inundação das regiões vizinhas", afirma. "Agora estamos vendo na prática o que o estudo de impacto ambiental mostrava na teoria - e sua verdadeira dimensão."

OESP, 23/11/2007, Metrópole, p. C11

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