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O sertão vai virar mar

Isto É, Brasil, p.38-39
09 de Fev de 2005

O sertão vai virar mar
Um século e meio depois, transposição das águas do rio São Francisco pretende fixar a população no semi-árido

Luiz Cláudio Cunha

Em meados do século XIX, desalentado com a seca que viu no Nordeste, o imperador dom Pedro II jurou: "Vendo a última jóia da coroa, mas acabarei com esta calamidade." Um século e meio depois, um sertanejo do agreste pernambucano promete transformar o velho projeto de transposição de águas do rio São Francisco na jóia mais vistosa de seu governo: "Vou fazer a transposição na marra, nem que seja com lata d'água na cabeça", disse Luiz Inácio Lula da Silva. A transposição reduziria o desperdício ao fechar e abrir a torneira do sistema para repor a água dos açudes. Em dez anos, 180 mil novos empregos devem fixar o sertanejo na região. Em tese, a obra de R$ 4,5 bilhões evitaria a migração de um milhão de retirantes para o Sudeste. Embora abrigue 30% dos brasileiros, o semi-árido tem só 3% da água doce do País. Os maiores inimigos do projeto estão na Bahia, em Alagoas e nas entidades ambientais. Para obter a licença ambiental prévia, foram realizadas oito audiências públicas, a última em Maceió, na quarta-feira 2. Na Bahia e em Sergipe, manifestantes perturbaram a reunião, mas a ata foi firmada. Assim que tiver o aval ambiental, o governo terá 45 dias para licitar os 12 trechos da obra, a ser executada por no mínimo seis consórcios.

No ataque: "É um projeto centrado na irrigação, não na agricultura familiar. Mais interessante seria construir cisternas para captar água da chuva" Nadilson Quintela, da ONG Movimento Organização Comunitária
Na defesa: "Trata-se de aproveitar apenas 1% do escoamento de água que seria desperdiçada, correndo para o mar, depois da barragem de Sobradinho" Dom Aldo Pagotto, arcebispo da Paraíba

Isto É, 09/02/2005, p. 38-39

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