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No Rio, só 17 municípios têm preparo contra enchentes

O Globo, País, p. 12
14 de Nov de 2012

No Rio, só 17 municípios têm preparo contra enchentes
No Piauí, nem Minha Casa Minha Vida garante acesso a saneamento básico

CÁSSIO BRUNO, RENATO ONOFRE,
EFRÉM RIBEIRO* E PAULA LITAIFF*
opais@oglobo.com.br

RIO, MANAUS e ALTOS (PI) Dos 92 municípios do estado do Rio, apenas 17 têm um plano de redução de riscos de acidentes ocasionados pelas chuvas. Mesmo com a tragédia de 2011, quando mais de 900 pessoas morreram, cidades da Região Serrana até hoje não possuem um planejamento adequado de prevenção a desastres naturais.
Com cerca de 15 mil moradores, Sumidouro é uma delas. No ano passado, 22 corpos foram encontrados nos escombros.
- Acredito que não temos o plano por falta de recursos - disse Aloísio Alves Silva, coordenador da Defesa Civil de Sumidouro e tenente-coronel do Corpo de Bombeiros.
São José do Vale do Rio Preto também está na lista do IBGE. Durante a tragédia, seis pessoas morreram. Algumas famílias chegaram a ficar 60 horas à espera de socorro. O coordenador de Defesa Civil, Roberto Vieira, disse que falta apoio do governo do estado.
- Os rios até agora não foram desassoreados pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente). A RJ-134, principal estrada da cidade, foi destruída, mas o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) não reconstruiu nada - reclamou Vieira, lembrando que a prefeitura conta com 16 agentes comunitários com motos para orientar e assistir a população em casos de emergência.
Em nota, o Inea informou que está prevista a utilização de recursos do Fundo de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam) para indenização de famílias que residam em áreas com alto risco de inundação. Já o DER lembrou que há previsão de investimentos de R$ 80 milhões nas obras da RJ-134, mas aguarda a liberação do dinheiro.
A aposentada Ana Cristina da Silva, 60 anos, vive há dez anos na Travessa Ramos, à margem da BR-101, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Ela reclama da falta de esgoto e de água. Ana e os vizinhos fizeram uma rede clandestina com mangueiras de jardim e tubulação improvisada para pegar água a três quarteirões dali.
- Há cinco anos eles colocaram uma tubulação de esgoto aqui na rua, mas é só chover que ele volta para dentro de nossas casas. Água não cai há mais de um mês. Não conseguimos nem um carro-pipa - lamenta a aposentada.
Os agricultores José Antônio do Nascimento, de 53 anos, e Maria do Socorro do Nascimento, 50, moram em uma casa feita de pedras e argila e coberta de palha no povoado Sítio Cajueiro, na zona rural de Altos (42 km de Teresina). Há dois anos, a família foi contemplada com a construção de uma casa do programa Minha Casa,Minha Vida.
A família está prestes se mudar para a casa nova, mas percebeu que o banheiro não vai funcionar porque não tem água encanada e a fossa não foi construída. As manilhas, compradas pelo Minha Casa, Minha Vida para fazer a fossa estão espalhadas no terreno.
- O construtor disse que não dá para fazer a fossa porque o terreno tem muitas pedras, e vamos continuar fazendo nossas necessidades no mato - disse José Antônio.
Em Manaus, cerca de 5 mil famílias, o equivalente a 20 mil pessoas, vivem em locais de risco de desabamento ou alagamento, de acordo com levantamento preliminar do Serviço Geológico do Brasil.
Os riscos estão mais presentes na orla dos rios e nos igarapés, predominantes na área urbana de Manaus. Mas também existem nas áreas de barrancos com a erosão fluvial que o rio Negro provoca na orla.
Moradora do bairro São Raimundo, a dona de casa Vanja Moraes, 22, disse que em noites de tempestades prefere sair de casa por temer o deslizamento do barranco que fica atrás da casa dela.
-O medo de morrer dormindo é grande, porque a cada chuva, o barranco cede com a força da água - afirmou ela. Em São Raimundo, os terrenos próximos à margem do rio recuaram 30 metros desde a década de 1950 por conta das erosões.

O Globo, 14/11/2012, País, p. 12

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