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No Ibama, suspeita de corrupcao

OESP, Nacional, p.A6
06 de Mar de 2005

No Ibama, suspeita de corrupção
O único funcionário é acusado também de formação de quadrilha
Luiz Maklouf Carvalho
Especial para o Estado
Pertence ao Ibama, órgão ligado à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o mau exemplo mais notório de como o governo federal atua nesta cidade da fronteira amazônica cortada pela BR-163, a devastada Cuiabá-Santarém. É o exemplo do agente florestal Antônio Pedro Barbosa, único funcionário da autarquia em Novo Progresso, onde a economia é movida pela indústria madeireira. Barbosa está no cargo desde 5 de agosto de 2002. A Polícia Federal de Santarém apura, há meses, duas denúncias contra ele, por corrupção e formação de quadrilha.
No dia 12 de fevereiro, um sargento e dois cabos da Polícia Militar o prenderam, em um bar, bêbado e armado com um revólver calibre 38 carregado e com a numeração raspada. Levado para a delegacia, onde não há expediente à noite, a não ser soldados da PM da plantão, Barbosa ficou preso até o dia seguinte, quando chegou o delegado Luiz Renato Nunes Barata. No boletim de ocorrência, que o Estado obteve, Barbosa foi fichado por porte ilegal de arma de fogo. A pedido do prefeito, Tony Gonçalves, do pecuarista e advogado da prefeitura, João Augusto Capeletti, e de outras autoridades locais, o delegado o soltou.
"Não teve inquérito, não teve nada", disse Barbosa, na precária casa de madeira que serve de sede ao órgão federal. Segundo ele, a arma foi encontrada em uma reserva indígena e por ele recolhida para ser entregue à polícia. "Fui preso porque a Polícia Militar me persegue", afirmou.
O motivo da perseguição: os PMs o procuraram para que autuasse três caminhões presos com madeira ilegal. "Isso foi de madrugada e eu não autuei", diz. A PM diz que foi de dia. Sua prisão, no caso da arma, não foi comunicada ao escritório regional do Ibama em Santarém, hierarquia superior. Nem por ele, nem pela polícia. Indagado pelo funcionário que prendeu, o delegado Barata omitiu o caso. "O Barbosa é gente boa."
No Ibama de Novo Progresso, Barbosa é assessorado pela mulher, cedida pela prefeitura. Mineiro de Tiradentes, é do quadro federal há quase 25 anos, a maior parte atuando em Rondônia. "Eu sei que a PF me acusa de corrupção e de formação de quadrilha, mas eles vão ter de provar."
Visivelmente sob pressão - "de todos os lados" -, Barbosinha, como é conhecido, é mais vítima do que culpado. "Me jogaram aqui, sozinho, para agüentar essa confusão toda", diz. Segundo afirma, existem cinco funcionários do Ibama lotados oficialmente em Novo Progresso, mas os outros escolheram praças mais confortáveis.
"Já reclamei, já pedi reforço, mas eles não ligam", prossegue. Explica, sobre a corrupção, que "não é tanto quanto se diz". "Eu só cobro a diária do meu carro - uma Hilux traçada, ano 95, porque nem carro o Ibama tem." A prática é ilegal.

OESP, 06/03/2005, p. A6

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