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No coração da Amazônia, 'Peladão' reúne jogadores índios e rainhas da beleza

Terra - http://esportes.terra.com.br
27 de Nov de 2013

"Chuta mais forte!", grita o treinador dos Munduruku. No coração da Amazônia, índios participam do maior campeonato de futebol amador do mundo, no qual uma rainha pode salvar sua equipe.

Em Manaus, uma das doze cidades-sede da Copa do Mundo-2014, 27.000 jogadores de mais de 1.000 equipes se enfrentam em cerca de 2.000 partidas organizadas pelo "Peladão", como é conhecido.

Após sete semanas de competição, duas equipes formadas por jovens índios disputarão, num campo de terra batida no meio de uma densa floresta, a final do campeonato indígena, um torneio incomum. Frente à frente estarão os Sateré Mawé, de vermelho, e os Munduruku, de branco.

Aqui, não há arquibancada. Uma centena de torcedores, parentes e amigos dos jogadores, se amontoam em pé ao redor do campo, perto do Campus da Universidade Federal do Amazonas.

Outras pessoas preferem fazer piqueniques na grama. É temporada de uma iguaria local, a tanajura, uma grande formiga negra que os índios comem viva, após arrancarem a cabeça com os dentes.

Os índios bebem também uma água misturada com farinha de mandioca que eles compartilham numa cuia em formato de colher.

"Tem uma lado espiritual, é para se fortalecer", explicou à AFP Jayme Dyacara, de 39 anos, oriundo de Rio Negro.

"É um dia de diversão para os índios. Eles precisam de visibilidade e de ocasiões para mostrar seu valor", declarou à AFP Arnaldo Santos, coordenador do Peladão, competição que nasceu há 40 anos numa pequena festa de bairro.

O torneio é dividido em diversas categorias: juniores, feminino e, há alguns anos, indígenas.

O "Peladão Principal", para homens entre 16 e 39 anos, é composto por 500 equipes e será disputado até o final de dezembro.

Existe, porém, um importante detalhe, cada equipe é representada por uma rainha, que exerce um papel potencialmente crucial, já que uma equipe eliminada dentro de campo pode voltar à competição caso sua Miss for eleita a "Rainha do Peladão".

"Em 1988, o Arsenal foi eliminado, mas voltou à disputa graças à Rainha", lembra Arnaldo Santos, que faz parte da organização do evento há 15 anos.

A alguns quilômetros de lá, 12 rainhas do Peladão Principal estão confinadas num barco ancorado sobre o rio Amazonas. Elas participam de um programa da televisão local e aguardam o anúncio da vencedora, decidida por um juri de especialistas.

A criação de um sub-campeonato indígena "foi uma ideia do chefe indígena Jorge Terena", explicou Santos. "Ele queria reunir os 20.000 índios de diversas tribos que deixaram a floresta para viver em Manaus", cidade de dois milhões de habitantes.

No intervalo da final, é escolhida a rainha dos povos indígenas. Mas, ao contrário do Peladão Principal, a vencedora não tem o poder de interferir no resultado da competição.

Cinco candidatas se enfeitaram com penas e pinturas corporais na floresta. De lá, elas saem em fila, se apresentando para os jurados e o público.

"Não é só a beleza que conta. Aqui, mostramos também nossa cultura, nossas tradições, nossos desenhos corporais e o que representam", explicou o antropólogo indígena João Paulo Tucano.

No fim, a vencedora é Suellen, uma jovem de 18 anos da etnia Dessano, que usa como pendente um dente de onça, símbolo de força.

"É a segunda vez que eu ganho. Agora, sonho em me tornar atriz", admite a jovem à AFP.

Ao som do apito final, Os Sateré Mawé comemoram a vitória por 3-1 sobre os Munduruku. Em seguida, os jogadores campeões recebem medalhas e troféus dourados num ambiente muito festivo.

Daniel Munduruku, de 22 anos, que exibe uma cabeleira vermelha no estilo moicano do craque do Barcelona e da seleção brasileira Neymar, sonha em jogar numa equipe profissional.

"Mas os Índios são muito pobres e não têm patrocínio", lamenta o jovem. Todos eles, porém, sonham em "um dia ver índios na seleção".

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