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'Miriã Mahsã': coletivo do Amazonas aborda sexualidade e identidade LGBTQIAPN+ de indígenas

Agência cenarium - agenciacenarium.com.br
Autor: Carol Veras
17 de Mai de 2024

Carol Veras - Da Agência Cenarium
MANAUS (AM) - A sexualidade e as questões sobre identidade de gênero são pautas que começaram a ser dialogadas há muito pouco tempo entre os indígenas, analisa o coordenador do Miriã Mahsã, coletivo que organiza oficinas e rodas de conversa voltadas para esse público, Pedro Tukano. Neste Dia Internacional Contra a LGBTfobia, a REVISTA CENARIUM conversou com o ativista sobre a representatividade dentro da própria comunidade.

O coletivo surgiu com o apoio do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi. A nível nacional, existem diversos grupos que representam essa comunidade, como, por exemplo, o coletivo Tybyra, pioneiro no Brasil envolvendo indígenas da comunidade LGBTQIAPN+, sigla que abrange pessoas que são Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Pôli, Não-binárias e mais.

No Amazonas, Miriã Mahsã busca trabalhar essas questões, mas não é o único tema debatido. "Apesar de nos denominarmos como um coletivo indígena LGBT, nossas pautas não se limitam a questões de sexualidade, mas também a outros assuntos que nos perpassam como indígenas", comenta o coordenador do coletivo, composto por artistas de etnias diferentes que expressam a luta indígena por representatividade na arte, política e até mesmo no meio acadêmico.

O coletivo questiona as construções de gênero e sexualidade definidas pela sociedade contemporânea. "Essas denominações ou a construção de diálogo e gênero e sexualidade estão muito coloniais", pontua o indígena sobre a construção de identidade no Brasil. "Em algum momento, essa construção não faz sentido para os indígenas, que não performam a heteronormatividade".

Tukano comenta que falta representatividade indígena dentro da própria comunidade LGBTQIAPN+ no Amazonas. Por isso, o coletivo visa criar o próprio espaço na construção de produção cultural feita pelos indígenas para os indígenas. Para o coordenador do coletivo, os povos originários "não estão incluídos em eventos da comunidade no Estado", devido à "centralização da branquitude".

"Pessoas LGBTs são pessoas que estão tentando sobreviver em uma sociedade que infelizmente tem essa herança colonial cristã. Quando a gente busca combater homofobia, a gente começa a combater diversas outras intolerâncias. Eu digo que quando dialogamos sobre isso, estamos indo contra uma colonização que já foi implementada e fixada a partir dessa visão cristã que demonizou não só questões de gênero e sexualidade, mas também a cultura indígena, nossa língua e nossas crenças", discorre o ativista.

Por fim, Pedro Tukano observa que os indígenas LGBTQIAPN+ continuarão lutando contra a colonização dos corpos e buscando ocupar mais espaços. "Somos um ato vivo contra essa colonização existente e viemos deixar um recado falando que somos contra essa construção. Nossas cosmologias não se limitam à limitação da doutrina cristã que gera violência contra corpos indígenas e LGBTs", conclui.

LGBTQIAPN+ no ATL
Essas questões foram pautadas no 18o Acampamento Terra Livre 2022 (ATL), onde ocorreu a primeira plenária LGBTQIAPN+ indígena. Erisvan Guajajara, um homem gay, jornalista e um dos fundadores do coletivo Mídia Indígena, liderou a mesa que contou com representantes de coletivos indígenas LGBTQIAPN+ de todo o Brasil.

No discurso, ele proclamou: "Afaste seu preconceito do meu caminho, pois eu passarei com meu cocar", pediu.

Ainda não há levantamentos sobre a sexualidade indígena, mas, segundo os primeiros resultados do Censo de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE), há uma diversidade de 305 grupos étnicos reconhecidos no território brasileiro, cada um com sua própria identidade cultural.

https://agenciacenarium.com.br/miria-mahsa-conheca-o-coletivo-que-fala-…

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