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Não baixar a guarda

O Globo, Opinião, p. 7
Autor: GRAZZIOTIN, Vanessa
11 de Jan de 2008

Não baixar a guarda

Vanessa Grazziotin é deputada federal (PCdoB-AM)

A despeito daqueles que acham que se trata de alarmismo o discurso sobre os perigos da internacionalização da Amazônia, o fato mais recente trazido à tona pelo jornalista Elio Gaspari é uma evidência concreta de que as grandes potências mundiais não estão para brincadeira. Refiro-me ao anúncio feito pelo presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, de que vai negociar "a preservação de sua Floresta Amazônica em troca de recursos para o desenvolvimento".
O fato é muito grave. Pelo acordo, a floresta da Guiana seria administrada por uma organização internacional comandada por britânicos. E o que tem a ver esse caso com a soberania do Brasil sobre a Amazônia? Muito. Estamos falando sobre o mesmo bioma, sobre um país-membro da Organização do Tratado de Cooperação Amazônico (OTCA), cujo objetivo é o fortalecimento da integração da Amazônia sul-americana.

Não há dúvidas de que a presença estrangeira na administração direta dos recursos naturais daquele país fere diretamente sua soberania e representa uma ameaça às nações vizinhas, queiram ou não os caçadores dos apocalípticos.

É bom que fique claro que não sou contra os investimentos internacionais. Temos uma posição estratégica para o equilíbrio do clima no planeta, mas não podemos abrir mão do nosso papel como agente formulador e condutor do projeto estratégico, único e integrado de desenvolvimento da Amazônia sul-americana.

Não podemos ser singelos e acreditar que as grandes potências, uma vez na administração dos nosso recursos naturais, exercerão apenas um papel de guardião da floresta, como no folclore amazônico age o lendário Mapinguari.

No Congresso Nacional, por exemplo, parlamentares ditos como defensores da sustentabilidade já apregoam o financiamento internacional com uma saída a curto prazo para o desenvolvimento da região e defendem a participação dos organismos externos na condução dos projetos. Nada muito diferente do que está acontecendo na Guiana.

A História tem exemplos que colocam a Amazônia como reserva estratégica na visão das grandes potências. Nos tempos atuais, difundem teses manjadas como gestão compartilhada e patrimônio da Humanidade para legitimar essa cobiça.

A ameaça a nossa soberania nunca ficou só no campo da retórica. Com o pretexto de combater o narcotráfico, os Estados Unidos intensificam cada vez mais sua presença militar na região. Segundo o Centro de Inteligência do Exército Brasileiro (CIE), entre 2001 e 2002, mais de seis mil militares daquele país realizaram operações na Amazônia, sendo que na Colômbia, no Equador e no Peru há instalações militares dos EUA.

Os defensores da soberania como princípio de nação não podem baixar a guarda. Em relação à Guiana, o problema deve ser tratado pela área diplomática e deve entrar em pauta nas próximas reuniões da OTCA.

Vanessa Grazziotin é deputada federal (PCdoB-AM)

O Globo, 11/01/2008, Opinião, p. 7

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