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Mulheres indígenas põem fim ao silêncio

A Crítica (Manaus - AM)
Autor: VIEIRA, Ivânia
27 de Ago de 2001

Elas estão acostumadas a caçar, pescar, coletar castanha, lavar as roupas, cuidar das crianças e da casa. Trabalham duro e ainda têm disposição para dançar, cantar, namorar e contar histórias. Em meio a essa guerra diária decidiram partir para uma outra batalha: questionar as leis de seus povos, feitas por homens, e desarrumar a ordem estabelecida na maioria das comunidades, onde a mulher indígena não tem direito a voz e voto nas assembléias e encontros nos quais as decisões tomadas afetam diretamente suas vidas e de seus filhos, do ambiente em que vivem. O papel de coadjuvante no espaço decisório começa a ser rejeitado pelas mulheres. A reorganização feminina nas comunidades indígenas da Amazônia é visível em vários cenários. Nas assembléias das dezenas de organizações dos povos indígenas é possível constatar a presença da mulher, não mais em silêncio ou do lado de fora do ambiente de tomada de decisão, como acontecia há bem pouco tempo. Ainda são minoria, se comparadas ao número de homens presentes, mas estão lá, falando firme, incluindo novos ingredientes nas discussões e, na maioria das vezes, aplaudidas por eles - um sinal de que suas intervenções são pertinentes e oportunas. No dia 14 deste mês, várias delas estiveram em Manaus - na condição de delegadas -, participando da assembléia regional da Comissão das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), uma das mais importantes entidades de representação dos povos indígenas em todo o mundo. São as Marias vindas de longe, carregadas de propostas que envolvem questões amplas como direitos da mulher, saúde, educação, e, também, para denunciar problemas graves - prostituição das adolescentes, violência e o trabalho doméstico não remunerado de garotas. Querem saber mais sobre assuntos que até bem pouco tempo eram proibidos às mulheres, tais como a militarização da Amazônia, Protocolo de Kyoto, auto-sustentação dos povos indígenas, biodiversidade e exploração dos recursos naturais. Não abrem mão de participar, de votar a favor ou contra atos e documentos que a Coiab defenderá em fóruns nacionais e internacionais. Maria Gorete Fonseca Chaves, 37, dois filhos, é tucana, da Região do Alto Rio Negro, e uma das fundadoras da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro, criada em 1984 e reconhecida em 1987. Hoje, 41 mulheres participam da associação. Marilena da Silva Ramos, 32, seis filhos, é macuxi, da Serra do Sol, em Roraima, e uma das mais importantes lideranças da Associação de Mulheres Indígenas daquele Estado, criada em janeiro, depois de quatro anos de encontros com mulheres. Atualmente, a associação tem 150 participantes. Maria Inês Mota Rodrigues, 43, oito filhos, é wapixana, da Região da Lua (RR), e Maria do Socorro Pinheiro de Carvalho, 41, nove filhos, apurinã, da Região do Purus. Todas vieram de longe e se conheceram por conta de uma mesma determinação, a de criar espaço no movimento indígena brasileiro para a mulher indígena. Hoje são presença freqüente nos encontros e formam uma espécie de vanguarda da versão feminina do movimento na Amazônia Ocidental.

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