O Globo, O Pais, p.11
09 de Jul de 2005
MPF denuncia 190 pessoas na Operação Curupira
Diretor de Florestas do Ibama não está entre os denunciados
O Ministério Público Federal denunciou ontem por formação de quadrilha 190 pessoas investigadas durante a Operação Curupira, que pôs fim a um esquema de corrupção que funcionava há pelo menos dez anos no Ibama de Mato Grosso. Entre os denunciados está o ex-gerente executivo do órgão Hugo José Werle, conselheiro fiscal afastado do diretório municipal do PT em Cuiabá, mas não está o diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, que foi preso na operação e depois libertado por falta de provas.
Segundo o procurador Mário Lúcio de Avelar, um dos autores da denúncia, as investigações prosseguem. Pela quantidade de envolvidos o Ministério Público Federal preferiu apresentar acusação única de formação de quadrilha e, num segundo momento, individualizar as outras condutas criminais.
MPF quebra sigilo fiscal de servidores do Ibama
A denúncia tem como base o inquérito da Polícia Federal, que havia indiciado 101 pessoas no mês passado. Segundo Avelar, os outros 89 incluídos na denúncia são madeireiros e contadores responsáveis pela abertura de empresas fantasmas.
A investigação da Polícia Federal se concentrou nos servidores do Ibama e nos despachantes. Nós aqui do Ministério Público fomos também atrás do corruptor disse Avelar.
O Ministério Público Federal quebrou o sigilo fiscal de servidores do Ibama e descobriu que muitos tiveram movimentação da CPMF superior à renda declarada no ano. Em alguns casos, a quebra de sigilo se estendeu aos cônjuges.
Uma das principais fraudes narradas pelo procurador era a emissão fraudulenta de Autorizações para o Transporte de Produtos Florestais (ATPFs), que esquentavam madeira extraída ilegalmente de reservas indígenas no norte de Mato Grosso, no Pará e em Rondônia.
Em uma semana, uma única empresa conseguiu esquentar 170 mil metros cúbicos de madeira extraída no Pará. Não há um sistema de controle. O Ibama é uma peneira disse Avelar.
Os contadores estão denunciados pela acusação de terem aberto ao menos 500 empresas fantasmas, que negociavam ATPFs com madeireiras que atuam na ilegalidade.
Deflagrada no dia 2 de junho, a Operação Curupira levou para a cadeia 44 servidores do Ibama em Mato Grosso. Levantamento feito em dois anos constatou que o esquema permitiu o desmate irregular de 46 mil quilômetros quadrados de terra. Além dos servidores do Ibama, a ação incriminou também funcionários da Feema, o órgão estadual ambiental. Seu então presidente, Moacir Pires, chegou a ser preso.
O Globo, 09/07/2005, p. 11
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