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Mitos ambientais

O Globo, Opinião, p. 7
Autor: MINC, Carlos
18 de Jul de 2011

Mitos ambientais

Carlos Minc

A questão clima?ambiente é cada vez mais urgente e complexa. Exige debate, avanço da ciência e decisões que enfrentem exclusão social, diminuam impacto ambiental e defendam o planeta. Por vezes o senso comum rejeita a solução mais abrangente. Vejam a transposição do Rio São Francisco. Trata-se de usar 3% da vazão do velho Chico, a 300 Km da foz, para levar água a 3 milhões de nordestinos, ao invés de encontrar o oceano. As conferências mundiais de especialistas consideram esta a maior obra em curso no planeta de adaptação às mudanças climáticas.

O Nordeste será a nossa região mais afetada pelo aumento da temperatura: apresenta alta vulnerabilidade hídrica e social, que será acentuada com o aumento da temperatura. A então ministra Marina Silva, quando a licenciou, reservou recurso para a revitalização do rio. O então ministro Ciro Gomes garantiu que terras irrigadas beneficiassem, sobretudo, agricultores familiares. Quando fui ministro dobrei (em acordo com a então ministra Dilma Rousseff) o recurso Revitalização, garantindo R$4 bilhões para saneamento, matas ciliares, erradicação de lixões. A greve de fome de um bispo, posição de artistas na TV e falta de dados tornaram maldito aqui um projeto mundialmente aclamado.

Observemos a luta contra lixões no Rio de Janeiro. Há 4 anos 90% dos municípios tinham lixões. Estes são a síntese do drama social e ambiental: águas, solos e animais contaminados; homens, mulheres e crianças catando sem luvas e botas, entre seringas, porcos e urubus. Todos se chocam com estas imagens, mas não aceitam aterro sanitário em seu bairro ou município, assim como se resiste a estações de tratamento de esgoto, presídios. Formamos consórcios para a construção de aterros intermunicipais, garantimos recursos do Fecam, incentivamos a iniciativa privada a participar. Desativamos 25 lixões e iremos zerá-los em 2014, seguindo a meta estabelecida no Pacto do Saneamento do governador Sérgio Cabral. Em toda audiência pública há contestação: mesmo os que nunca lutaram contra lixões atacam os aterros modernos, que não vazam chorume, captam o metano, gás de efeito estufa que é convertido em energia e gera créditos de carbono.

Caso emblemático é o da administração da UFRRJ (Rural), que se mobilizou contra o moderno aterro de Seropédica e vaza seu lixo no lixão local, que sem mantas impermeabilizantes contamina o lençol freático com chorume e emite metano, que aquece 21 vezes mais do que o CO2. As licenças exigem converter parte do lixo em energia - a solução do futuro - e construir ecopontos para os catadores reciclarem.

O senso comum conservador estigmatizava a energia eólica: cara, incerta (não venta sempre), distante da rede. Quando no Ministério do Meio Ambiente organizamos um encontro em Natal com apoio de Júlio Bueno e outros 20 secretários estaduais de Energia, elaboramos a Carta dos Ventos com 12 medidas para alavancar a energia eólica no país. Retirar impostos, garantir leilão todo ano, construir indústria nacional de equipamentos. Conseguimos com o ministro Guido Mantega a desoneração de IPI para torres, hélices e turbinas. Com Maurício Tomasquim, da EPE, conseguimos a edição de leilões anuais. Em 2009, contratamos 1.400 MW eólicos contra os 650 MW instalados. Em 2010, contratamos mais 1.300 MW. Em 2011, serão outros tantos. Houve R$22 bilhões de investimentos: agora a eólica é uma realidade no Brasil. Mais um mito derrubado. Aguardem a Carta do Sol!

O Globo, 18/07/2011, Opinião, p. 7

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