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Meta de corte de gás estufa custará 1% do PIB, diz BID

Valor Econômico, Brasil, p. A4
Autor: CHIARETTI, Daniela
20 de Fev de 2017

Meta de corte de gás estufa custará 1% do PIB, diz BID

Daniela Chiaretti

Um estudo feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a pedido do Ministério do Meio Ambiente (MMA) estima que a meta brasileira de corte de gases de efeito estufa custará cerca de 1% do PIB anual até 2030. Isso significaria entre R$ 890 bilhões e R$ 950 bilhões nos próximos 13 anos para colocar a economia brasileira no trilho da descarbonização. A estratégia, agora, é buscar modelos criativos de financiamento além de atrair recursos internacionais.
O estudo dos consultores do BID, ainda em fase de depuração de dados, sinaliza por exemplo que o custo para que o setor de cimento brasileiro - que é eletrointensivo -, implante tecnologias de redução de emissões pode estar entre R$ 31 e R$ 40 bilhões.
No caso dos biocombustíveis será necessário investir R$ 161 bilhões até 2030 em usinas de produção de álcool para que se possa atingir a meta de aumentar em 18% sua participação na matriz energética brasileira.
O compromisso de se conseguir restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030 prevê um custo de algo entre R$ 31 bilhões e R$ 52 bilhões em estudo de 2015 feito pelo Instituto Escolhas. A recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens pode exigir investimentos de R$ 21,6 bilhões, segundo o estudo do BID-MMA.
"Trata-se de um primeiro estudo que começa a fazer um levantamento de custos e ações necessárias para implementar a NDC", diz Everton Lucero, secretário de Mudança do Clima e Florestas do MMA, referindo-se ao nome técnico da meta brasileira. O trabalho, que ainda não foi discutido no governo e precisa de refinamento em alguns dados, é o ponto de partida para que governo, academia, setor privado e ONGs comecem a discutir qual a estratégia nacional para implementar a meta.
A meta brasileira de redução de emissões de gases-estufa foi lançada em 2015, no debate internacional que culminou com o Acordo de Paris. O Brasil se comprometeu com redução de emissão de 37% em 2025, em relação a 2005, e indicou um corte de 43% em 2030.
Os primeiros cálculos de custos para cumprimento da meta indicam "um volume de recursos que não é possível esperar que seja de fonte orçamentária, sobretudo com a PEC de limite de gastos", diz o secretário Everton Lucero.
O estudo do BID irá subsidiar diálogos setoriais que começam em março nas câmaras temáticas do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Criado em 2000 durante o governo Fernando Henrique, o Fórum é uma interface híbrida entre governo e sociedade civil, presidido pelo Presidente da República.
"Os compromissos políticos do Fórum são com o Acordo de Paris e em como tirar do papel a NDC brasileira para que se torne realidade", diz o ex-deputado Alfredo Sirkis, secretário-executivo do FBMC.
"Agora tudo ficará mais difícil com Donald Trump", acredita Sirkis, referindo-se ao pouco entusiasmo do presidente americano com temas ambientais. "Não acredito em avanços no sistema da ONU, porque mesmo que Trump não saia do Acordo de Paris, ele pode barrar a articulação", continua. "Por isso é que a agenda econômica da descarbonização se tornou mais estratégica."
A proposta é de discutir cenários e estratégias nas câmaras setoriais do Fórum - florestas e agropecuária; energia; mobilidade e transportes; cidades e resíduos; finanças; inovação e tecnologia; defesa nacional e segurança; e visão de longo prazo.
"A ideia é discutir como implementar a NDC no setor específico e construir dois ou três cenários de como aquele setor poderá contribuir e cumprir a meta", diz Sirkis.
"Vamos também discutir questões de curto prazo, como o repique do desmatamento, o primeiro ciclo de revisão da NDC brasileira e um fundo que dê garantias aos financiamentos internacionais", adianta o secretário-executivo.
A primeira reunião será dia 14, em Brasília, da câmara de florestas e agropecuária. "É neste campo que estão as maiores possibilidades de redução de emissões e que pode atrair financiamentos internacionais", acredita Sirkis. A câmara de energia deve se reunir na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no Rio, dia 16. "A nossa ambição é apresentar resultados em outubro, antes da CoP (a conferência climática) de Bonn", adianta.

Valor Econômico, 20/02/2017, Brasil, p. A4

http://www.valor.com.br/brasil/4874772/meta-de-corte-de-gas-estufa-cust…

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