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Mel coletado por índios chega ao varejo

Gazeta Mercantil-São Paulo-SP
Autor: Gisele Teixeira
03 de Jul de 2003

Mel produzido no Parque Indígena do Xingu, farinha de banana feita no Pará, doces e geléias caseiras, cestarias, sabonetes e xampus: todos eles vão ganhar código de barras e serão vendidos nas prateleiras da rede Pão de Açúcar a partir de 29 de julho. Os produtos, que têm como base de sua produção o desenvolvimento sustentável, serão lançados dentro do projeto "Caras do Brasil". Afinal, 81% dos consumidores declararam se sentir motivados a comprar produtos fabricados de maneira ambientalmente correta, segundo pesquisa do Ministério do Meio Ambiente realizada no ano passado.

Todos os produtos serão colocados em gôndola diferenciada, ao lado de outras mercadorias regionais como, os guardanapos de prato bordados à mão pelas mulheres de Aparecida do Taboado (MS).

Na primeira fase do "Caras do Brasil", serão 80 fornecedores de 20 estados. O projeto-piloto envolve três unidades da cidade de São Paulo, nos bairros Jardim Paulista, Morumbi e Alphaville. Mas a idéia é, com o tempo, ganhar a adesão de todas as 500 lojas do grupo.

No Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, a produção teve que ser adaptada para enfrentar uma venda em maior escala. Na área de 2,8 milhões de hectares, onde vivem aproximadamente 4 mil habitantes de 14 povos indígenas, cerca de 2,5 mil pessoas estão envolvidas com a apicultura. A produção chega a 1.500 quilos por ano, sendo que parte do mel é consumida pela comunidade e o restante é vendido em exposições e lojas locais.

Ianakulá Kaibi Suiá, um dos integrantes da diretoria da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix), informa que para fechar negócio com o Pão de Açúcar a comunidade recebeu a inspeção do Ministério da Agricultura para garantir o Selo de Inspeção Federal (SIF), adaptou as casas de processamento e até os rótulos. As embalagens do "Mel dos Índios do Xingu" ganharam código de barras e o selo de produto orgânico.

A região norte da reserva é rica em floradas silvestres, que ocorrem em áreas livres de agrotóxicos, o que é uma vantagem natural do produto. Além disso, a apicultura está introduzindo a necessidade de se conhecer melhor as plantas melíferas e seu calendário de floradas, o que se traduz na proteção ativa da floresta e de sua biodiversidade. "Por enquanto, o nosso mel sai com o rótulo de silvestre mas, aos poucos, vamos identificar melhor a florada", diz Ianakulá.

Primeiro contrato

No pequeno município de Aparecida do Taboado, localizado a 450 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, o "Caras do Brasil" mudou a vida da assistente social Neide Poleto, de 57 anos. Menos de três meses após assistir na televisão uma matéria sobre o projeto do Grupo Pão de Açúcar, Neide pediu demissão do cargo de secretária de Assistência e Promoção Social da cidade e arregimentou 360 mulheres de comunidades carentes da cidade e fundou a ONG Mãos que Brilham. De lá para cá, o trabalho manual ganhou fôlego, e mais de 3 mil panos de pratos bordados começaram a sair da "fábrica".

O primeiro contrato fechado com o Pão de Açúcar foi de 528 peças, que serão vendidas a partir de julho. "São panos 100% algodão, bordados com frutas e motivos florais", conta Neide. E novas idéias começam a ser preparadas. "Para a próxima encomenda vamos fazer cinco modelos com motivos indígenas", adianta. A ex-assistente social acredita que assim que o projeto começar a se expandir por outras unidades da rede de supermercados, a produção possa a chegar a 4 mil unidades por mês. "Nossa expectativa é contribuir com pelo menos meio salário mínimo por pessoa", diz.

A previsão inicial do Pão de Açúcar era que os primeiros lotes estivessem nas gôndolas já em abril, mas o prazo teve de ser estendido porque a maioria dos produtores não estava acostumada a trabalhar em larga escala. ONGs, governo e empresas colaboraram desenvolvendo e orientando as comunidades sobre como fazer da sua produção uma fonte de remuneração adequada às necessidades do mercado.

Além do potencial crescente no Brasil, o movimento de produção e comercialização de produtos sustentáveis é ainda maior em muitas regiões do mundo e aí abre-se uma outra e nova oportunidade para essas comunidades: a exportação. "Mesmo os produtores que não estiverem com seus itens nas gôndolas poderão usufruir dos benefícios da nossa política de fomento à exportação. Hoje todos os produtos brasileiros têm condições de serem comercializados no exterior", afirma Hugo Bethlem, diretor comercial do Grupo Pão de Açúcar.

kicker: Quase 81% dos consumidores informam preferir mercadorias que não agridem o meio ambiente

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