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Mato Grosso provoca 40% do desmatamento da floresta amazônica

Gazeta de Cuiabá
22 de Mai de 2001

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados que colocam o Estado de Mato Grosso como o principal devastador da Floresta Amazônica entre agosto de 1999 e 2000.
Segundo o Inpe, 20 mil quilômetros quadrados da maior floresta tropical do mundo, a amazônica, sumiram do mapa neste período. Fazendeiros, madeireiros, garimpeiros, agricultores e pecuaristas, de pequeno, médio e grande porte e mato-grossenses, foram responsáveis pela eliminação de 40% deste total.

A equipe de fiscalização da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema) autuou e multou, só nos últimos 40 dias, criminosos ambientais que destruíram mais de 100 mil hectares em áreas verdes sem autorização. Através da ação fiscal do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis em Mato Grosso (Ibama-MT) estão sendo abertos, por mês, de 100 a 150 processos por crime ambiental.

"Temos que conhecer, sobretudo, quem está cometendo delito, porque em Mato Grosso não só desmatamos muito como também acima do permitido", observa o engenheiro florestal Paulo Leite, diretor de Fauna e Flora da Fema. A lei ambiental só permite 20% de desmatamento em áreas amazônicas.

"É muito difícil coibir esta prática, que tem fins altamente lucrativos. Muitos desses infratores têm dinheiro para pagar as multas e não estão preocupados com a lei", afirma o superintendente do Ibama, Leozildo Benjamim.

A Fema aposta, contudo, na elevação do valor das multas -- que ultrapassam a casa dos milhões -- como forma de promover prejuízo financeiro aos infratores. "Temos que reverter a certeza da impunidade", planeja Leite.

O chefe de fiscalização do Ibama, Marcos Gomes, conta que, geralmente, sua equipe é recebida de forma agressiva por arrogantes infratores. Algumas vezes, há necessidade de pedir reforço policial.

Fácil, neste caso, é citar os prejuízos que sofreremos na pele, a curto prazo, se continuar a devastação da floresta neste ritmo, provocando a morte de animais, plantas e nascentes.

Área verde desaparece rápido

Dados apresentados pelo Inpe impressionam pela rapidez com que áreas verdes somem, devastadas por criminosos ambientais. É como se um campo de futebol virasse fumaça a cada minuto.

A área de 20 mil quilômetros quadrados, devastada ano passado, é a segunda maior perda da década de 90. Só em 95 o Inpe registrou número maior: 29 mil quilômetros quadrados. A média dos anos anteriores é inferior a 17 mil. (KW)

Destruição de hoje será sentida no futuro A maior floresta tropical do mundo se acomoda, no Brasil, em 9 estados brasileiros: Mato Grosso, Pará, Amazonas, Roraima, Amapá, Tocantins, Maranhão, Acre e Rondônia.

Embora Mato Grosso seja o estado que mais a destrói, a menor parte de toda a floresta entra em território mato-grossense, descendo do Nortão até o Médio Norte. Várias cidades, como Sinop, Alta Floresta e Aripuanã, surgiram no meio de um mar verde, que tende a se extinguir.

Também a expansão dessas cidades contribuiu para o desmatamento da floresta amazônica, assim como atividades econômicas lícitas e ilícitas, como a extração de madeira protegida por lei.

Na opinião do superintendente do Ibama, Leozildo Benjamim, a dificuldade em coibir a prática criminosa do desmatamento está ligada ao fato dos prejuízos trazidos pela extinção do verde não estarem introjetados na mente das pessoas como um mal que será sentido por todos, sem escolha. "O crime ambiental cometido hoje por dinheiro, vai custar caro amanhã", destaca.

A curto prazo, o desmatamento da região amazônica refletirá na redução da biodiversidade. Isso quer dizer menos material genético a ser colhido de animais e, principalmente, de plantas. Podem estar sumindo com a floresta a cura para doenças ainda letais, como os demais tipos de câncer. "Há espécies verdes que ainda nem sabemos o que são e para que servem", adverte Benjamim.

Cortar a vegetação significa ainda deixar secar as fontes e assorear as margens dos rios, mudando o curso natural desses mananciais. Significa, portanto, escassez de água.

A tendência com o desmatamento é ainda aumentar a temperatura na terra, fazendo com o que sol forte aumente o número de doenças da pele.

Tirar insetos de suas casas naturais deve levá-los a migrar para as cidades, carregando consigo doenças silvestres como o Ebola e o Hantavírus. (KW)

Marca da atividade garimpeira choca até os funcionários Imagine um quadro com o verde exuberante da floresta amazônica, rios e aves -- o paraíso silvestre. Em seguida, imagine o mesmo lugar destruído, com buracos profundos, provocados por escavações de garimpo, para extração mineral.

Esta foi uma das imagens mais marcantes em dois anos de trabalho em campo, no controle da floresta amazônica, para o chefe de fiscalização do Ibama, Marcos Gomes.

Motores de 14 máquinas de garimpo detonaram o que viram pela frente em cerca de 25 a 30 hectares, dentro da Estação Ecológica Ique-Juruena, no município de Juruena. O flagrante foi feito no final do ano passado. "As máquinas eram de vários proprietários, que estão respondendo a processo criminal", conta Gomes.

Gomes não conhece qualquer infrator preso por ter desmatado área da Amazônia Legal. "As penas tem sido de plantio de mudas e entrega de cestas básicas".

Satélite verifica se desmate obteve autorização da Fema

É com uma parafernália tecnológica top de linha que a Fema declara guerra aos desmatadores de áreas verdes dentro da floresta amazônica, que invade o território mato-grossense.

Sofisticadas imagens de satélite mostram, com precisão, as áreas devastadas. Os técnicos da Fema, coordenados pelo engenheiro florestal Paulo Leite, diretor de Fauna e Flora, avaliam quais são as áreas destruídas sem autorização. Boa parte, às margens de rios.

"Hoje temos a facilidade de não ter que ir no lugar fazer medições e verificações", observa Leite. "O satélite nos informa sobre isso. Com esta informação, já chegamos autuando os infratores", garante. Assim como os satélites facilitam também a autorização para desmatamento dentro da lei.

É com esta ferramenta tecnológica que a Fema tem conseguido bons resultado em se tratando de controle ambiental. Basta colocar lado a lado as imagens retiradas do céu ano passado e as desse ano para verificar se a área verde continua ali ou se sumiu do mapa.

A equipe formada por apenas 50 engenheiros florestais e agrônomos sai a campo com a imagem de satélite em mãos. Mais 143 fiscais do Ibama -- são quase 200 agentes de defesa florestal em Mato Grosso. Esses profissionais convivem com a frustração de chegar depois da devastação.

Leite afirma que o governo federal quer copiar os métodos que estão sendo utilizados pela Fema em outros estados do arco amazônico. Inclusive porque são viabilizados por recursos das multas. (KW)

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