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Madeireiros fazem terceiro protesto contra atrasos no manejo florestal

O Liberal-Belém-PA
01 de Ago de 2003

Empresários e trabalhadores do setor madeireiro no Estado do Pará protestaram ontem em frente à sede da Superintendência Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Belém. Foi a terceira mobilização em 15 dias. Anteriormente, eles fecharam a rodovia PA-150 e realizaram ato público também defronte ao órgão na capital. A nova manifestação contou ainda com a participação de prefeitos de municípios do interior e de parlamentares.

Portando faixas, soltando fogos de artifício e gritando palavras de ordem com o apoio de dois carros-som, os manifestantes tomaram conta da avenida Conselheiro Furtado, entre a travessa Quintino Bocaiúva e a rua Doutor Moraes, onde permaneceram das 10 às 12 horas. Eles interditaram a via, estacionando no cruzamento da Quintino um caminhão carregando um trator. Foi o suficiente para se formar um grande congestionamento, que irritou os motoristas.

Diante do tumulto, policiais militares foram acionados para controlar os ânimos das pessoas, enquanto agentes da Companhia de Transportes do Município de Belém (Ctbel) orientavam o trânsito. Nas duas horas de ato público, no entanto, nenhum incidente grave foi registrado. De acordo com estimativa dos organizadores, o protesto reuniu 2,5 mil pessoas, a maioria vinda de cidades do interior. Caminhões com tratores em cima de suas carrocerias atraíram a curiosidade das pessoas.

Reivindicações - Ainda durante os discursos inflamados, proferidos por lideranças de madeireiros, trabalhadores e políticos, uma comissão foi recebida pelo superintendente regional do Ibama, Marcílio Monteiro. No encontro, os madeireiros reafirmaram suas reivindicações. Eles querem o fim da greve do Ibama, a regularização de Autorizações de Transporte de Produtos Florestais (ATPFs) e a análise e a conseqüente liberação dos planos de manejo que se encontram aptos e cujos detentores entregaram a Declaração de Acompanhamento e Avaliação de Planos de Manejo Florestal (Daamf).

Marcílio explicou à comissão que a emissão de ATPFs está paralisada em decorrência da greve dos servidores do Ibama, que aderiram ao movimento contra a reforma da Previdência. "Por isso, não temos como atender no momento este pleito, mas só quando os servidores retornarem às atividades", disse ele, acrescentando que apenas 15 dos 113 funcionários estão trabalhando. O mesmo problema que emperra a emissão das ATPFs está relacionado à liberação de planos de manejo. Marcílio informou também que na próxima terça-feira entregará, em nome do governo federal, a proposta do Ibama local sobre a concessão de terras estaduais para as atividades de manejo.

Colapso - Segundo o presidente da União das Entidades Florestais do Estado do Pará (Uniflor), Wagner Kronbauer, somente com o atendimento das reivindicações será possível evitar o colapso no setor madeireiro, que já sofre com o desemprego. Pelos cálculos dele, até a próxima segunda-feira 85% das empresas do interior do Estado que trabalham com madeira estarão paradas. Até ontem, conforme disse, 40% delas já haviam paralisado as atividades.

Os madeireiros contabilizam hoje um total de 1,4 mil empreendimentos no Pará, os quais empregam diretamente 80 mil trabalhadores e 300 mil pessoas de forma indireta, segundo dados da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário nos Estados do Pará e Amapá (Fetracompa). Para o presidente da entidade, Agnaldo Alcântara, o que está ocorrendo é um total desrespeito do Ibama para com os madeireiros. "Dizem que estamos sendo manipulados pelos empresários, o que não é verdade", desabafou Alcântara. O prefeito de Tailândia, Paulo Jásper, o "Macarrão", revelou que 70 indústrias madeireiras da região já estão paradas, acarrentando um total de cinco mil trabalhadores desempregados.

Pressão pelo fim da greve dos
servidores é alvo de crítica

O Comando Estadual de Greve dos Servidores Federais e o Fórum Estadual em Defesa da Previdência distribuíram ontem uma "carta à população", apoiando os grevistas do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que são contrários à reforma previdenciária. No documento, eles criticam os madeireiros que recorreram à Justiça para obrigar os servidores do instituto a voltar ao trabalho.

"Queremos dizer à população trabalhadora que estamos em greve a (sic) nível nacional contra a reforma da previdência do governo Lula, que retira direitos históricos dos servidores, como a aposentadoria integral, além de aumentar a idade para se aposentar, e ainda taxa os aposentados e diminui as pensões. Somos 450 mil servidores em greve no Brasil e os trabalhadores do Ibama fazem parte desse conjunto que luta contra esta reforma", diz um trecho da carta.

"Artifícios" - No texto, o Comando e o Fórum são taxativos ao afirmar que não aceitam "que um grupo de madeireiros que paga míseros salários a seus trabalhadores e mantêm muitos em regime de trabalho escravo, sem os mínimos direitos trabalhistas, utilizem-se de artifícios jurídicos para obrigar o Ibama a sair da greve".

Ainda de acordo com a carta, "só para se ter uma idéia, nos últimos cinco anos, dos 810 planos de manejo solicitados ao Ibama, apenas 94 - pouco mais de 10% - foram efetivamente aprovados por estarem de acordo com as leis ambientais".

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