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Madeira e Bolívia, nada a responder

OESP, Economia, p. B4
Autor: TAMER, Alberto
15 de Jul de 2007

Madeira e Bolívia, nada a responder

Alberto Tamer*

As usinas do Madeira, Bolívia e petróleo. Um fim de semana animado, para não dar inveja a ninguém. Em La Paz, esse inefável Evo Morales reclama da construção das duas usinas, esquecendo-se de que ele mesmo já havia recebido os projetos e, acreditem, até festejou. Agora, voltou atrás. Deve estar sendo inspirado por um dos seus dois mestres. Hugo Chávez condena o etanol brasileiro, que poderia (veja, verbo no condicional) reduzir a importância relativa do seu petróleo, o que, decididamente não é verdade. Ainda nesta semana, a Petrobrás anunciou que vai dobrar a sua produção, pois há espaço para o gás e a gasolina, que substitui apenas um dos muitos derivados do petróleo. Há mercado para todos. Evo quer mesmo que o Brasil construa térmicas a gás e fique à mercê dos humores bolivianos, tão estáveis como as nuvens de neve em dia de vento.

O outro mestre é Fidel Castro, ferrenho inimigo do etanol. É, é o progresso sul-americano que, decididamente, podemos dispensar. Não queremos nem ser Cuba nem Vietnã do Norte, o último reduto do comunismo.

MAS INTERESSA À BOLÍVIA!

O presidente boliviano não entendeu ou não quer entender que uma obra como as usinas, a 40 quilômetros da fronteira, somente beneficiará o seu país, pois representará um fluxo enorme de investimentos e criação de empregos. Certamente haverá mais fiscalização, o que dificultará a entrada de droga no Brasil, mas isso deveria ser algo para festejar.

Além disso, criam-se condições para que a Bolívia construa, no futuro, as suas próprias hidrelétricas - podemos até estender uma linha de transmissão, se quiserem -, poupando o gás, mais caro que a água, para exportar.

Mas, quando se trata de racionalidade, não se pode dialogar com Evo Morales, Chávez e esse patético e trágico Fidel Castro, que há 48 anos aprisiona seu povo numa ilha de miséria.

A RESPOSTA É: NÃO ABORRECE

A resposta do Brasil à Bolívia deve ser uma só: não aborrece. Lula deve repetir o que disse a Chávez: se não quiser ficar no Mercosul, não fica (e pode sair logo porque nem deveria ter vindo; já vai tarde,acrescenta a coluna. Eu quase disse, vá ver se estou na esquina).

No caso da Bolívia, devemos dizer: aproveite o foco de riqueza que vamos criar perto das nossas fronteiras. Se não quiser, tudo bem. O problema não é nosso, é de vocês. Tudo, é lógico, na deliciosa linguagem diplomática do Itamaraty.

E O PETRÓLEO VAI ÀS NUVENS

No cenário internacional, o petróleo chegou a US$ 73,67, na Bolsa Mercantil de Nova York, e o brent, a US$ 78,36, em Londres. E vai aumentar ainda mais porque os produtores já anunciaram que vão manter apertadas as rédeas da oferta, há sangrentas tensões religiosas e tribais no Oriente Médio e a demanda vem aumentando com o crescimento econômico.

Não vai faltar petróleo se o Ocidente se comportar como eles querem. Não vai faltar petróleo, mas vocês vão ter de pagar mais, muito mais. Assim, os técnicos afirmam que não será surpresa se o preço chegar a US$ 80 nos últimos meses do ano, quando a demanda aumenta devido ao inverno.

O PREÇO FOI ABSORVIDO, MAS...

Para a analista de energia da Tendência, Fabiana D'Atri, a enorme alta dos preços que se iniciou após 2003, quando o barril custava US$ 25, foi absorvida pela economia mundial, que continua crescendo em torno de 5%. Mas as perspectivas para os próximos cinco anos são menos favoráveis.

'Os dias do petróleo barato acabaram e já se trabalha com um preço superior a US$ 70 o barril. Em 2003 estava em US$ 25. Mas não houve nenhum 'efeito devastador' na economia mundial, que cresce de forma robusta e a pressão sobre os preços tem sido limitada.'

A tendência é de alta, acrescenta Fabiana. A demanda deve crescer mais do que a oferta. 'A AIE estima um aumento na demanda de 2,2% por ano, até 2012, chegando a 95,8 milhões barris diários. Isso vai decorrer do maior consumo dos países emergentes. Eles estão crescendo mais que os desenvolvidos. No médio prazo, isso pode afetar o crescimento global.'

...PODE ATRAPALHAR NO FUTURO

Some-se a especulação favorecida pelas tensões no Oriente Médio ao forte aumento do consumo dos emergentes e teremos um quadro tenso. Além disso, o mercado financeiro antecipa a alta dos preços, lembra Fabiana. 'A manter-se esse ritmo, o futuro fica incerto. O FMI previu, em 2005, que um aumento de 10% reduziria o crescimento entre 0,10% e 0,15%. A AIE estima que uma alta de US$ 10 por um ano reduziria a evolução do PIB mundial em 0,4%.Como se vê, o mundo está mais preparado para choques de oferta e demanda do petróleo do que nos dois choques na década de 1970, mas temos um outro fator.' E Fabiana D'Atri ressalta, com precisão, que o aumento do petróleo está associado ao de quase todas as commodities agrícolas e minerais.

BRASIL: O QUADRO É MELHOR

'Quanto ao Brasil, acredita-se que o impacto negativo seja menor em relação à média mundial. Os derivados de petróleo respondem por cerca de 5% no IPCA, o petróleo tem reduzida participação na matriz energética brasileira, 38,6%, em 2005, graças à crescente utilização de biocombustíveis e de gás natural', lembra a analista. Além disso, a atual política de preços para gasolina e diesel tem absorvido essas oscilações sem repassar aos preços finais.

Resumindo: a explosão dos preços do petróleo, que pode chegar a US$ 80, preocupa mas não assusta. Isso se os governos muçulmanos do Oriente Médio não enlouquecerem mais.

*E-mail: at@attgobal.net

OESP, 15/07/2007, Economia, p. B4

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