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Lista de flora ameaçada de extinção está parada há 2 anos

OESP, Vida, p. A20
02 de Nov de 2007

Lista de flora ameaçada de extinção está parada há 2 anos
Ministério do Meio Ambiente contesta relação de 1.495 espécies indicadas por especialistas

Herton Escobar

A nova lista brasileira de plantas ameaçadas de extinção, elaborada há mais de dois anos, está parada no Ministério do Meio Ambiente (MMA), que discorda da opinião dos cientistas. Preparada por um grupo de quase 300 especialistas, ela inclui 1.495 espécies. A lista atual, de 1992, tem apenas 107 espécies e está completamente desatualizada, segundo os pesquisadores.

A Sociedade Botânica do Brasil (SBB) aprovou anteontem no Congresso Nacional de Botânica, em São Paulo, uma moção pedindo à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a publicação da lista "na íntegra". Duas versão já foram entregues ao governo. A primeira, em dezembro de 2005, com 1.537 espécies relacionadas. O ministério discordou do trabalho. Queria aprovar apenas 400 espécies, segundo Gláucia Drummond, superintendente técnica da Fundação Biodiversitas, ONG com sede em Belo Horizonte que coordena a elaboração da lista em convênio com o Ibama.

A relação foi então devolvida aos cientistas em março deste ano. Uma nova versão, com 42 espécies a menos, foi submetida ao MMA no início de setembro. Mas o ministério ainda se recusa a aprová-la, segundo Gláucia. A justificativa seria que a lista não tem respaldo científico suficiente. Os pesquisadores discordam. A lista foi elaborada a partir de um encontro de especialistas em junho de 2005, no qual foram inicialmente avaliadas mais de cinco mil espécies. O trabalho envolveu 290 especialistas de 150 instituições do Brasil e do exterior. "A lista é sólida", disse Gláucia ao Estado. "O que parece é que o tema não é prioridade dentro do ministério."

"Acho que eles se assustaram um pouco (com o número de espécies)", avalia o biólogo Paulo Takeo Sano, da Universidade de São Paulo (USP), um dos coordenadores do trabalho. Ele suspeita que haja interesses políticos e econômicos contra a publicação da lista.

O reconhecimento de quase 1.500 espécies ameaçadas implicaria em uma série de responsabilidades para o governo, que se veria obrigado a proteger essas espécies. Segundo Sano, isso poderia ser um obstáculo ao avanço da fronteira agrícola em muitas regiões. A maior parte das espécies ameaçadas está na mata atlântica (45%) e no cerrado (34%).Oito plantas foram consideradas extintas e 297 classificadas como "criticamente em perigo", o que significa que correm risco imediato de desaparecer.

"Precisamos de uma lista, e de uma lista que seja realista", afirma Sano. "Grande parte do trabalho de conservação de espécies tem esse tipo de levantamento como base de trabalho. É um problema que nos afeta diretamente."

"O que mais incomoda é essa morosidade para tomar uma decisão", afirma Gláucia. Nenhum representante do MMA foi encontrado ontem para comentar o assunto.

Nada impede que a lista seja usada como uma referência pelos próprios pesquisadores, mas ela só se torna oficial quando é homologada pelo MMA. O trabalho foi encomendado pelo governo à Fundação Biodiversitas, que organiza os especialistas e divide os custos do trabalho com o Ibama. A elaboração da lista de flora, segundo Gláucia, custou R$ 400 mil. Os critérios utilizados são os mesmos da União Mundial para a Natureza (IUCN), que elabora as listas vermelhas mundiais de fauna e flora.

Uma revisão da lista brasileira de fauna ameaçada já foi publicada em maio de 2003, pelo mesmo convênio, com 633 espécies.

OESP, 02/11/2007, Vida, p. A20

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