VOLTAR

Linha de energia ameaça espécies raras na Amazônia

O Globo, Sociedade, p. 38
14 de Jun de 2014

Linha de energia ameaça espécies raras na Amazônia
Construção de estrada isolaria animais vulneráveis à extinção

RIO - Uma das maiores linhas de energia do mundo, aguardada como promessa para abastecer as populações isoladas do Norte do país, a ligação Tucuruí-Macapá-Manaus está sendo bombardeada por ambientalistas. O motivo do protesto é a construção de uma grande estrada entre as torres, que terão até 70 metros de altura. O caminho vai riscar uma das mais preciosas reservas naturais da Amazônia, prejudicando pesquisas científicas e expondo espécies ameaçadas da região.
O "Linhão", como o trajeto é conhecido, chegou no ano passado a Manaus. Agora, a obra avançará 750 quilômetros para o Norte, rumo a Boa Vista.
Trata-se, porém, de um caminho problemático. Seu traçado cruza a Reserva Florestal Adolfo Ducke, administrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e considerada uma das principais regiões de estudo de florestas tropicais do mundo.
- O problema não é propriamente a linha, mas a zona logo abaixo de onde ela passa- ressalta William Laurance, da Universidade James Cook, da Austrália, que estuda distúrbios na floresta tropical e é um veterano pesquisador da Amazônia.
De acordo com Laurance, as estradas sob as torres teriam até 70 metros de largura.
- Pode não parecer muito, mas é um espaço intransponível para muitos animais da floresta - lamenta.
Animais noturnos, como o jaguar, são intimidados pela abertura de um espaço iluminado no meio de seu habitat. Presas de espécies importantes também podem ter dificuldades para atravessar terrenos sem cobertura vegetal.
- Se a linha corta a conexão entre a reserva e a floresta vizinha, a reserva vai se tornar uma ilha - alerta Philip Stouffer, da Universidade de Louisiana, que pesquisou as aves da região por mais de 20 anos. - Nossos estudos mostram que esse isolamento leva à perda rápida de espécies.
Extração de petróleo prejudica Amazônia Ocidental
Outro alerta vem da Amazônia Ocidental, o trecho mais preservado da floresta. Segundo um estudo inédito da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, a região pode ter sido alvo de poluição generalizada por petróleo ao longo das últimas décadas.
A produção de óleo na região foi iniciada na década de 1920 e atingiu o pico 50 anos depois, mas a atual demanda global está estimulando um novo crescimento de extração. Cerca de 70% da Amazônia no Peru estavam sendo usados para essa atividade econômica entre 1970 e 2009.
O levantamento, realizado entre 1983 e 2013 na porção peruana da floresta, encontrou nove tipos de poluentes, como chumbo, mercúrio e cádmio, em dez rios afluentes do Amazonas.
Segundo o líder da pesquisa, Antoni Rosell-Mele, nenhum estudo foi publicado até hoje sobre o impacto da extração de petróleo em florestas tropicais intactas.
- Parte dessa poluição pode chegar ao homem e prejudicar a nossa cadeia alimentar. E também existe o efeito dos derrames de petróleo sobre as espécies ameaçadas de extinção - lembra.

O Globo, 14/06/2014, Sociedade, p. 38

http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/linha-de-energia-ameaca-espec…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.