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Liminar barra redução de parque em MT

FSP, Ciência, p. A16
27 de Jan de 2007

Liminar barra redução de parque em MT
Para juiz, decisão de deputados estaduais de alterar unidade de conservação do rio Cristalino "prejudica a coletividade"
Projeto, apoiado pelo atual vice-governador, havia sido vetado pelo Executivo e foi considerado ilegal pelo Ministério Público do Estado

Eduardo Geraque
Da reportagem local

Em sua segunda tentativa, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso conseguiu bloquear a redução de 14% nas dimensões dos parques Cristalino 1 e 2. A medida havia sido aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado em dezembro. Os deputados chegaram a derrubar o veto do governador Blairo Maggi, que havia se posicionado contra a redução.
O ato, segundo escreveu o juiz de Direito José Zuquim Nogueira em sua sentença, proferida ontem, "restringe a preservação da biodiversidade local, e, o que é mais grave, em nome de interesses egoístas que estão prevalecendo em detrimento dos interesses da coletividade, comprometendo a qualidade de vida das presentes e das futuras gerações".
O projeto de redução da área do parque sempre contou com o apoio do deputado Silval Barbosa, presidente da Assembléia até dezembro e, atualmente, vice-governador do Estado. O político diz que a medida é necessária para corrigir a situação de algumas áreas que haviam sido abertas antes da criação dos parques Cristalino 1 e 2, respectivamente, em 2000 e 2001.
A lei que buscava diminuir a área de proteção florestal no norte de Mato Grosso, uma das mais ricas da Amazônia, está bloqueada por meio de uma liminar. A expectativa do promotor público Sávio Domingos, autor da ação civil, é que o julgamento do mérito seja votado em até 90 dias.
"A decisão saiu exatamente na forma que nós pedimos. O julgamento do mérito não demora porque as provas são todas documentais. A discussão é se o ato [o projeto aprovado pelos deputados] foi precedido pela consulta pública e pelos estudos técnicos. Se eles mostrarem que foi (ou não) a questão está julgada", disse Domingos à Folha.
Outra atitude tomada pelo Ministério Público, segundo revelou o promotor, é a "instauração de um inquérito civil para apurar eventuais irregularidades na concessão da licença para a construção da PCH (pequena central hidrelétrica) Rochedo" que, hoje, pelos antigos traçados do Cristalino 1 e do 2, está dentro da área de proteção. "Existiam dois pareceres jurídicos da própria Sema [Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso] recomendando a não renovação da licença [feita em março de 2006]" , explica o promotor Domingos. "Ainda assim, ela foi dada."
A PCH está sendo construída pelo empresário Antônio Vilela, que tem terras dentro da área de preservação ambiental. Segundo informou a Sema, existem várias ações contra os proprietários de terra dentro do Cristalino 1 e do 2, que teriam desrespeitado a lei após a criação da zona de proteção.
A maior multa -em torno de R$ 50 milhões- foi aplicada contra Vilela, mas o fazendeiro está recorrendo da ação. Além do processo administrativo, também existe um outro correndo na Delegacia Ambiental.
Nos documentos enviados pela Assembléia Legislativa ao Ministério Público para justificar a redução do parque aparecia justamente a construção da PCH, diz Domingos.
Pelo desenho aprovado em dezembro, bloqueado ontem pela Justiça, apenas os reservatórios da usina é que ficariam dentro ainda da área de proteção. Tecnicamente, segundo informou a Sema, isso não é um problema em si. O próprio traçado feito pelo órgão no ano passado -que não foi considerado pelos deputados- deixava a PCH de fora. O problema é o desmatamento que pode ocorrer junto dos reservatórios.
Segundo Domingos, a ação será recebida pelo atual presidente da Assembléia, o deputado Zeca D'Ávila, que ocupou o lugar deixado por Barbosa. O Legislativo estadual tem um prazo de dez dias para recorrer da decisão.

FSP, 27/01/2007, Ciência, p. A16

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