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Líder indígena confirma tentativa de evangelização por parte de chefe da área de índios isolados da Funai

G1 - https://g1.globo.com
Autor: Matheus Leitão
20 de Fev de 2020

Indigenistas da Fundação Nacional do Índio (Funai) relataram diversas vezes ao blog que o chefe da Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados, o missionário Ricardo Lopes Dias, evangelizou indígenas da etnia Matses, da terra indígena do Vale do Javari.

A informação foi confirmada agora ao blog pelo indígena Marcos Dunu Mayoruna, da etnia Matses (também conhecida como Mayoruna). Segundo informado por Marcos Pepe, as reuniões evangelísticas aconteciam em Cruzeirinho, ao lado do Pelotão do Exército de Palamerias do Javari, na área ao norte da terra indígena.

"Sim, o Ricardo trabalhou em 'cruzeirinho' com o nosso povo Matses. Fez igreja lá com americanos. A Bíblia não é problema, mas a forma como eles agiam. Ele não é bem aceito lá até hoje. Ele fundou a 'igreja' lá [perto do quartel]. Até hoje os líderes da etnia estão chateados com o Ricardo", afirma Marcos Dunu, irmão de um cacique da região.

Ricardo Lopes Dias é formado em antropologia e em teologia. Atuou como missionário na Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), organização que prega a evangelização de indígenas.

Apesar de não negar a função dele na MNTB, a Funai afirmou ao blog que "não procede que ele tenha fundado uma igreja não região". Procurado, o órgão afirmou também que não houve tentativa de invasão em terras indígenas para estabelecer comunidade evangélica por parte de Dias Lopes (veja a íntegra da resposta ao final da reportagem).

O indígena Marcos Dunu Mayoruna é o mesmo que chegou a ser citado pela Funai, em reportagem institucional, como apoiador do novo coordenador da área de índios isolados até por também ser evangélico. Como mostrou o blog, ele negou a outras lideranças que tenha dado suporte à nova diretoria.

Repúdio de servidores

Justamente essa postura evangelizadora de sua atuação na organização missionária MNTB fez com que sua nomeação para a coordenação-geral de índios isolados gerasse repúdio entre servidores e técnicos da Funai.

Processos na Justiça aos quais a MNTB responde informam, por exemplo, que o instituto "camufla" seus objetivos religiosos nas aldeias com ações de assistência.

Conforme divulgado pelo blog, o presidente da fundação, Marcelo Augusto Xavier, abriu uma brecha, seis dias antes da nomeação de Dias Lopes, para que o cargo de coordenador-geral de índios isolados pudesse ser ocupado por pessoas de fora do quadro da administração pública.

Antes da alteração no regimento interno da Funai, a coordenação estava regida pelas Funções Comissionadas do Poder Executivo (FCPE), o que obriga a nomeação de um servidor público concursado para o posto.

Justiça

A nomeação de Dias Lopes para a coordenação-geral de índios isolados foi contestada pelo Ministério Público Federal. O órgão pediu à Justiça que suspendesse a nomeação do missionário caráter liminar (provisório) e, em seguida, revogasse de forma definitiva a portaria que publicou a nomeação Dias Lopes.

A juíza federal Ivani Silva da Luz, da 6ª Vara do Distrito Federal, decidiu, contudo, manter nomeação de Ricardo Lopes Dias para a Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai.

Íntegra

Leia a íntegra da resposta da Funai:

A Funai esclarece que não procede a informação de que senhor Ricardo Lopes Dias, atual coordenador da Área de Índios Isolados e de Recente Contato, tenha fundado igreja na região de Palmeiras e Cruzeirinho, no Vale do Javari. Cabe ressaltar que também não houve, por parte do antropólogo, nenhuma tentativa de invasão a terras indígenas para estabelecer comunidade evangélica. A experiência do antropólogo como missionário naquelas comunidades ocorreu no período de 1997 a 2007 com ações sociais, tudo feito de forma harmônica e consensual,

https://g1.globo.com/politica/blog/matheus-leitao/post/2020/02/20/lider…

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